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terça-feira, 22 de novembro de 2016

Einstein, a bomba e o FBI

por Jean Pestieau [*]












Albert Einstein (1879-1955) é considerado o físico mais importante do século XX pelas descobertas revolucionárias que levou a cabo entre 1905 e 1925 [1] . Residente nos Estados Unidos desde 1933 até 1955, o seu prestígio foi-se ampliando até chegar ao grande público, não apenas pela sua notoriedade científica mas principalmente pelas suas tomadas de posição e acções no domínio politico-moral. No presente artigo, iremos considerar (a evolução da) a posição de Einstein relativamente ao armamento nuclear dos Estados Unidos entre 1939 e 1955. Pelo seu combate antifascista e anti-racista e sobretudo pela sua rejeição evidente do anticomunismo, aliada à sua oposição determinada face ao armamento nuclear dos Estados Unidos, Einstein tornou-se, depois de 1945, na sombra negra de Edgar Hoover, o chefe do FBI, a polícia federal dos Estados Unidos. Edgar Hoover por esta altura tinha já constituído um dossier secreto de 1800 (mil e oitocentas) páginas [2] contra Einstein, com o intuito de o desacreditar, e até mesmo, de o expulsar dos Estados Unidos!



Durante a Primeira Guerra Mundial, Einstein estava na Alemanha, e rejeitava firmemente a guerra, que ele via como uma vasta matança dos povos. Era pacifista e tido como um inimigo para belicistas de toda a espécie.

Contudo, com a escalada de agressividade fascista e principalmente com a tomada do poder pelos nazis na Alemanha em 1933, a sua posição muda: era agora necessário resistir ao fascismo fazendo uso das armas. Durante a Guerra Civil de Espanha (1936-1939), ele alia-se claramente às forças republicanas espanholas na luta contra as forças fascistas de Franco. Einstein é um partidário ardente da brigada internacional dos Estados Unidos, a Brigada Abraham Lincoln – organizada pelos comunistas – que havida partido para a Espanha para combater do lado republicano.

Franco tomou o poder em 1939 porque recebeu ajuda militar de Mussolini e de Hitler enquanto as grandes potências ocidentais (França, Reino Unido e Estados Unidos) poucos esforços faziam, impedindo os Republicanos de serem devidamente auxiliados pelos comunistas e pelos antifascistas do mundo inteiro. Em 10 de Novembro de 1938 é a "Noite de Cristal" na Alemanha, noite em que trinta mil judeus são presos e enviados para os campos de concentração de Dachau, Oranienburg-Sachsenhausen e Buchenwald. Aí, eles juntam-se a comunistas, sindicalistas, socialistas e outros antifascistas. Em final de 1938, os Nazis têm a Checoslováquia nas mãos. A França, o Reino Unido e os Estados Unidos não mexem uma palha. Simultaneamente, eminentes físicos nucleares sabem, a partir de descobertas (fissão nuclear e possibilidade de reacções em cadeia) feitas em finais de 1938, nomeadamente na Alemanha, que em princípio será possível conceber uma bomba nuclear milhares de vezes mais poderosa que uma bomba clássica. Einstein fica ainda mais alarmado quando sabe que o urânio extraído das minas da Checoslováquia fora retirado do mercado e retido pela Alemanha. Consequentemente, conclui que a exclusividade do armamento nuclear não podia ser deixada aos nazis, e sente-se perseguido pela questão: até onde os Estados Unidos permitirão que [a bomba] seja feita na Alemanha de Hitler? É assim que em 2 de Agosto de 1939, Einstein resolve enviar uma carta ao presidente dos Estados Unidos, Roosevelt, com o intuito de o persuadir a encetar um programa de desenvolvimento de uma bomba nuclear antes que os alemães construíssem a deles. Roosevelt recebe esta carta apenas em Outubro. Vendo que não há reacção, Einstein envia uma nova carta alarmante ao presidente Roosevelt em 7 de Março de 1940. Somente em Outubro de 1941 – os Estados Unidos entram na Segunda Guerra Mundial em Dezembro de 1941 – é que Roosevelt dá luz verde ao lançamento do programa nuclear. A administração americana não apresenta uma posição antifascista firme durante a Segunda Guerra Mundial, e Einstein está farto de esperar. Em Setembro de 1942, por exemplo, no início da Batalha de Stalingrado, ele escreve: "Porque é que Washington ajudou a estrangular a Espanha lealista [republicana]? Porque é que Washington tem um representante oficial na França fascista? (…) Porque é que Washington mantém relações com a Espanha franquista? Porque é que não é feito qualquer esforço para ajudar a Rússia que é a mais necessitada? Este governo é controlado em larga escala por banqueiros cuja mentalidade se aproxima do estado de espírito fascista. Se Hitler não se encontrasse em pleno delírio, ele poderia ter tido excelentes relações com as potências ocidentais." [3]

Quando o gigante nazi, aparentemente imbatível, é travado em Stalingrado, Einstein declara: "Sem a Rússia, estes cães sanguinários alemães poderiam ter atingido os seus fins ou, em todo o caso, estariam muito perto disso. (…) Nós e os nossos filhos temos uma enorme dívida de gratidão para com o povo russo que suportou tão grandes perdas e sofrimento."






"A maneira como a Rússia dirigiu a sua guerra provou a sua excelência em todos os domínios da indústria e da técnica. (…) Nos sacrifícios sem conta e na abnegação de cada um, eu vejo uma prova de determinação geral em defender o que eles ganharam (…) finalmente, um feito que se reveste de uma importância particular aos nossos olhos, a nós os judeus. Na Rússia, a igualdade de todos os povos e de todos os grupos culturais não é palavra vã: ela existe verdadeiramente na realidade. (…)" [4]

Porque razão foi Einstein afastado do programa de aperfeiçoamento da bomba? 

O facto de Einstein ter sido afastado do programa de desenvolvimento das primeiras bombas nucleares não se deveu propriamente ao facto de ser considerado pelo FBI e pelas autoridades militares americanas como antifascista e promotor da amizade e ajuda à URSS. Na verdade, vários físicos conceituados que trabalharam na bomba partilhavam das mesmas posições políticas de Einstein. Sem eles, a bomba não poderia ter sido concluída em tempo recorde.

Um outro argumento avançado por um dos principais responsáveis pela finalização da bomba, Hans Bethe (Prémio Nobel da Física 1967), é o seguinte: "tínhamos necessidade de peritos em física nuclear e em explosivos. Einstein, ainda que seja o maior físico do século nunca trabalhou nesses domínios." [5] Este argumento não é válido, se pensarmos que Einstein, na mesma época, resolveu diversos problemas no domínio dos explosivos clássicos para a Marinha dos Estados Unidos. A verdade é que o FBI e as autoridades militares suspeitavam, e com razão, que Einstein queria a Bomba americana somente para um único fim: impedir Hitler de aterrorizar o mundo inteiro com a sua própria Bomba. De outro modo, Einstein era determinadamente contra a Bomba. Se Einstein tivesse sido membro da equipa que construiu as primeiras bombas nucleares, com o seu enorme prestígio, ele poderia ter empatado o projecto de utilizar a Bomba para outros fins que não aquele de confrontar a possível Bomba de Hitler. Quando, no final de 1944, se soube que Hitler não possuía a Bomba, vários cientistas antifascistas que haviam trabalhado no aperfeiçoamento da Bomba dos Estados Unidos pediram que esta não fosse utilizada contra o Japão ou qualquer outro país. Mas eles estavam subjugados e condicionados pelos seus dirigentes militares. Não foram além do protesto intelectual e continuaram a trabalhar lá. Apenas o físico nuclear britânico J. Rotblat (Prémio Nobel da Paz em 1995) teve coragem de não mais colaborar no projecto. Uma vez mais se Einstein tivesse feito parte da equipa, ele poderia ter prejudicado os projectos da Administração, do FBI e da Armada dos Estados Unidos. Deste modo, Einstein foi deixado numa ignorância quase completa sobre o aperfeiçoamento da Bomba até ao bombardeamento de Hiroshima (6 de Agosto de 1945) e de Nagasaki (9 de Agosto de 1945).

Einstein, depois de Hiroshima e Nagasaki 

Einstein condenou imediatamente o bombardeamento nuclear do Japão, atribuindo esse desastre à política estrangeira anti-soviética do presidente Truman que, em Abril de 1945, tinha substituído o presidente Roosevelt entretanto falecido. Durante a guerra, ele havia apoiado com entusiasmo a aliança de Roosevelt com Moscovo contra o nazismo [6] .

Em Maio de 1946, é constituído o "Comité de Emergência de Cientistas Atómicos" (Emergency Committe of Atomic Scientists – ECAS). A sua missão é, desde logo, a de recolher fundos para outros grupos antinucleares. À excepção de Einstein, todos os outros membros do ECAS haviam trabalhado na construção da Bomba. Entre eles estavam os prémios Nobel, Harold Urey, Linus Pauling, Hans Bethe. O apoio da opinião pública americana à arma nuclear, mal assegurado desde o início, declina consideravelmente durante os anos que se seguem a Hiroshima. Em Outubro de 1947, uma sondagem da Gallup mostra que a tendência a favor da bomba tinha descido de 69% em 1945 para 55%, e que o sentimento antinuclear havia mais que duplicado, passando de 17% para 38%. [7]

Em 23 de Junho de 1946, Einstein declara ao New York Times: "Muitas pessoas noutros países olham agora a América com grande desconfiança, não apenas por causa da bomba mas porque temem que esta se torne imperialista; (…) Nós continuamos a fabricar bombas (atómicas), e as bombas fabricam o ódio e o medo. Nós guardamos os segredos (da fabricação da bomba) e os segredos alimentam a desconfiança".

A partir do início da Guerra Fria (1946), a histeria anticomunista e a caça às bruxas não cessou de aumentar, alimentada nomeadamente pela surpreendente notícia anunciada em 1949 de que a URSS possuía igualmente a Bomba, e pela Guerra da Coreia (1950-1953). Quem estava contra a arma nuclear era automaticamente suspeito de trabalhar contra os Estados Unidos.

Em 12 de Fevereiro de 1950, Einstein aparece na televisão fazendo advertências contra a construção da bomba de hidrogénio (também chamada de bomba H ou bomba termonuclear) pelos Estados Unidos. Ele declara que esta bomba será mil vezes mais destruidora que a bomba atómica. [8] Esta emissão põe em furor anticomunistas belicistas americanos como Edgar Hoover.

Em 1952, a bomba de hidrogénio é finalmente testada pelos Estados Unidos. Segue-se a vez da URSS em 1953, perante a estupefacção dos Estados Unidos. A pretensão americana de ter direito absoluto de vida e de morte nuclear sobre o mundo havia acabado. A virulência anticomunista tinha agora longos anos à sua frente. Em 10 de Março de 1954, Einstein – com a idade de 75 anos – escreve a propósito deste assunto: "A meu ver, a 'conspiração comunista' é sobretudo um slogan (…) que torna as pessoas completamente indefesas. De novo, sou obrigado a pensar na Alemanha de 1932, cujo corpo social democrático tinha já sido enfraquecido por meios similares, dando a Hitler a possibilidade de aplicar o seu golpe fatal. Estou convicto de que aqui se passará o mesmo, a menos que pessoas informadas e capazes de sacrifício intervenham em nossa defesa." [8]

Em 28 de Março de 1954, ele escreve à rainha Elisabete da Bélgica: "Tornei-me uma espécie de 'enfant terrible' na minha nova pátria, e tudo isto por causa da minha incapacidade de guardar o silêncio e engolir tudo o que se passa aqui. Cada vez mais, acho que as pessoas mais velhas que não têm praticamente nada a perder deveriam ter vontade de se expressarem a favor dos jovens e daqueles que estão submetidos a tantos constrangimentos. Gosto de pensar que isso os poderá ajudar". [9]

Einstein inquieta-se com o facto de a maioria dos intelectuais ocidentais permanecerem sem reacção simultaneamente perante a História e perante o resto do mundo: "Nada mais me espanta do que a constatação de que a memória do ser humano é tão curta quando se trata de acontecimentos políticos" (Carta à rainha Elisabete da Bélgica, 2 de Janeiro de 1955) [10] Imediatamente antes da sua morte (18 de Abril de 1955), Einstein assina o célebre Manifesto pela paz Russell-Einstein [ver anexo]

Nota: o termo "bomba atómica" foi colocado em circulação, em 1945, pelos militares americanos com a intenção de a fazer aceitar pela opinião pública. O termo exacto é, na verdade, "bomba nuclear", mas isso pareceria demasiado rebarbativo!
[*] Professor de física teórica na Universidade de Católica de Lovaina. 

[1] Jean Pestieau et Jean-Pierre Kerckhofs, Einstein, "La personnalité du 20e siècle", 7 mars 2005, http://www.ecoledemocratique.org/article.php3 ?id_article=249 - 42k .
[2] Fred Jerome, "Einstein ... Un traître pour le FBI. Les secrets d'un conflit", Editions Frison-Roche, Paris, 2005. A leitura deste livro é recomendada em especial. Fred Jerome, The Einstein File : J. Edgar Hoover's Secret War Against the World's Most Famous Scientist, St.Martin's Griffin Edition, New York, 2003, http://www.theeinsteinfile.com/
[3] Fred Jerome, "Einstein ... Un traître pour le FBI. Les secrets d'un conflit", p.58
[4] ibidem, p.175
[5] ibidem, p.70
[6] ibidem, p.80
[7] ibidem, p.87
[8] ibidem, p.179
[9] ibidem, p.282
[10] ibidem, p.178

Manifesto Russell – Einstein

Na situação dramática em que se encontra a humanidade, achamos que os cientistas se deveriam reunir em conferência para analisar conjuntamente a extensão dos perigos criados pelo desenvolvimento de armas de destruição maciça e examinar um projecto de resolução cujo espírito será o do projecto abaixo mencionado. 

Não é em nome de uma nação, de um continente ou de uma fé em particular que nós tomamos hoje a palavra, mas sim enquanto seres humanos, enquanto representantes da espécie humana cuja sobrevivência se encontra ameaçada. Os conflitos abundam em todas as partes do mundo… 

Cada um de nós, ou pelo menos, a maioria, por pouco consciente que seja politicamente, tem opiniões bem definidas sobre uma ou várias questões que agitam o mundo; pedimo-vos, todavia, que se possível, se abstraiam dos vossos sentimentos e que se considerem exclusivamente como membros de uma espécie biológica que tem atrás de si uma história excepcional e da qual nenhum de nós pode desejar o desaparecimento. 

Esforçar-nos-emos por não dizer nada que possa constituir um apelo a determinado grupo em detrimento de outro. Toda a humanidade está em perigo, e talvez, se tomarem consciência disso, possam conseguir livrar-se colectivamente. 

Temos de aprender a pensar de uma nova forma. Temos de aprender não a questionarmo-nos sobre qual a maneira de assegurar a vitória militar do grupo da nossa preferência, porque isso já não é possível, mas antes como impedir um afrontamento militar cujos resultados não poderão ser senão desastrosos para todos os protagonistas. 

O grande público, e muitos entre aqueles que exercem o poder, não compreenderam plenamente o que implica uma guerra nuclear. O grande público raciocina ainda em termos de cidades destruídas. Ele sabe que as novas bombas são mais poderosas que as antigas, e que se uma bomba A foi suficiente para riscar Hiroshima do mapa, uma única bomba H poderá apagar as principais metrópoles: Londres, Nova Iorque ou Moscovo. 

É certo que numa guerra no decurso da qual se utilize a bomba H, as grandes cidades desaparecerão da superfície da terra. Mas isso seria apenas um desastre menor para a humanidade. Mesmo se a população inteira de Londres, Nova Iorque e Moscovo fosse exterminada, o universo poderia, em alguns séculos, recuperar. Mas nós sabemos a partir de agora, em particular depois do ensaio de Bikini, que o efeito destrutivo das bombas nucleares pode estender-se por zonas muito mais vastas do que aquilo que se tinha pensado no início. 

Sabe-se de fonte autorizada que a partir de agora é possível fabricar uma bomba 2500 vezes mais poderosa do que aquela que destruiu Hiroshima. Uma tal bomba, ao explodir perto do solo ou debaixo de água, projecta partículas radioactivas até às camadas superiores da atmosfera. Essas partículas caem depois lentamente sobre a superfície da Terra sob a forma de poeira ou de chuva mortais. Foi essa poeira que contaminou os pescadores japoneses e as suas capturas. 

Ninguém sabe até onde se poderá estender essa nuvem mortal de partículas radioactivas, mas as personalidades com mais autoridade no campo são unânimes em afirmar que uma guerra no decurso da qual sejam utilizadas bombas H poderá sem dúvida marcar o fim da raça humana. O que mais se teme é que se várias bombas H forem utilizadas, toda a humanidade encontrará a morte, morte súbita para uma minoria apenas, mas a lenta tortura da doença e da desintegração para a maioria. 

As advertências não faltaram por parte dos maiores sábios e especialistas em estratégia militar. Nenhum deles chega a afirmar que o pior é certo. O que eles afirmam é que o pior é possível e que ninguém pode dizer que ele não se produzirá. Nunca constatámos que a opinião dos peritos sobre este ponto dependesse de alguma forma das suas posições políticas ou dos seus preconceitos. Essa opinião depende apenas, por aquilo que as nossas pesquisas nos permitem afirmar, daquilo que cada perito sabe. O que nós constatámos é que aqueles que sabem são os mais pessimistas. 

Tal é assim, na sua terrível simplicidade, o dilema que nós vos apresentamos: iremos nós pôr um fim à raça humana, ou irá a humanidade renunciar à guerra? Se os indivíduos se recusarem a encarar esta alternativa, isso significa que é imensamente difícil abolir a guerra. 

A abolição da guerra exigirá limitações desagradáveis para a soberania nacional. Mas o que, acima de tudo, impede talvez uma verdadeira tomada de consciência da situação é que o termo "humanidade" é sentido como algo de vago e abstracto. As pessoas têm dificuldade em imaginar que são elas próprias, os seus filhos e netos que estão em perigo, e não apenas uma humanidade confusamente vislumbrada. Elas têm dificuldade em apreender que elas próprias e aqueles que elas amam se encontram em perigo imediato de morrer no final de uma longa agonia. E é por essa razão que elas esperam que a guerra possa eventualmente continuar a existir, desde que os armamentos modernos sejam proibidos. 

Essa é uma esperança ilusória. Sejam quais forem os acordos de não-utilização da bomba H que estaria concluída em tempo de paz, eles não seriam mais considerados impeditivos em tempo de guerra, e os dois protagonistas apressar-se-iam a fabricar bombas H desde o início das hostilidades; na verdade, se apenas um deles fabricasse bombas e o outro se abstivesse de o fazer, a vitória iria necessariamente para o primeiro. 

Um acordo através do qual os partidos renunciassem às armas nucleares no quadro de uma redução geral de armamentos não resolveria o problema, mas teria uma utilidade relevante. Em primeiro lugar, de facto, todo o acordo entre Oriente e Ocidente é benéfico na medida em que contribui para o apaziguamento. Em segundo lugar, a supressão das armas termonucleares, na medida em que cada um dos protagonistas esteja convencido da boa fé do outro, diminuirá o medo de um ataque súbito ao estilo daquele que se deu em Pearl Harbour, medo que é actualmente mantido pelos dois protagonistas num estado de constante apreensão nervosa. Um tal acordo deverá então ser considerado como desejável, ainda que represente apenas um primeiro passo. 

A maioria de nós não é neutra nas suas convicções, mas enquanto seres humanos, nós temos que nos lembrar que, se os problemas entre Oriente e Ocidente deverão ser resolvidos de modo a oferecer alguma satisfação a quem quer que seja, comunistas ou anticomunistas, asiáticos, europeus ou americanos, brancos ou negros, então esses problemas não devem ser resolvidos através da guerra. Temos que desejar que isso seja compreendido tanto a Oriente como a Ocidente. 

Depende de nós progredir sem cessar na direcção da felicidade, do conhecimento e da sabedoria. Iremos nós, em vez disso, escolher a morte só porque somos incapazes de esquecer as nossas querelas? O apelo que nós lançamos é de seres humanos para seres humanos: lembrai-vos que sois da raça humana e esqueçam o resto. Se conseguirdes fazer isso, um novo paraíso se abrirá; senão, estareis a provocar o aniquilamento universal. 

Resolução 

Convidamos o presente congresso e, por seu intermediário, os cientistas do mundo inteiro e o grande público, a subscrever a seguinte resolução: 

Tendo em conta que no decurso de futuras guerras mundiais as armas nucleares irão certamente ser utilizadas e que essas armas põem em perigo a sobrevivência da humanidade, apelamos veementemente aos governos do mundo que compreendam e admitam publicamente que não procurarão mais atingir os seus objectivos através de uma guerra mundial, e pedimos-lhe ainda veementemente que, em consequência disso, utilizem meios pacíficos para resolver todos os seus diferendos.

23 de Dezembro de 1954

Este texto foi subscrito por: 

  • Professor Max Born (professor de física teórica em Berlim, Frankfurt e Göttingen, e professor de filosofia da natureza em Edimburgo; Prémio Nobel de física) 
  • Professor P. W. Bridgman (professor de física na Universidade de Harvard; Prémio Nobel de física) 
  • Professor Albert Einstein 
  • Professor L. Infeld (professor de física teórica na Universidade de Varsóvia) 
  • Professor J. F. Joliot-Curie (professor de física no Colégio de França; Prémio Nobel de química) 
  • Professor H. J. Muller (professor de zoologia na Universidade de Indiana; Prémio Nobel de fisiologia e de medicina) 
  • Professor Linus Pauling (professor de química no Instituto de Tecnologia da Califórnia; Prémio Nobel de química) 
  • Professor C. F. Powell (professor de física na Universidade de Bristol; Prémio Nobel de física) 
  • Professor J. Rotblat (professor de física na Universidade de Londres; Medical College of St Bartholomew's Hospital) 
  • Bertrand Russell 
  • Professor Hideki Yukawa (professor de física teórica na Universidade de Kyoto; Prémio Nobel de física)

  • A versão em francês do manifesto encontra-se em
    http://radio-canada.ca/par4/_Notas/manifeste_russell_einstein.htm
    O original do artigo encontra-se em
    http://www.ecoledemocratique.org/article.php3?id_article=270
    Tradução de Rita Maia. 


    Este artigo encontra-se em http://resistir.info/ .

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