Com a prevenção recomendada pela proverbial sabedoria popular que nos avisa que, quando a fartura ou a esmola é muita, deve o pobre desconfiar, olhemos para o chamado «Panamá Papers». Desde logo para registar a súbita inquietação que assolou os centros de produção mediática quanto à aparente descoberta da existência de offshores.
Conhecida que é a estreita ligação dos principais centros de difusão noticiosa com o capital transnacional que os comanda e a comprovada capacidade de controlo de difusão à escala mundial das notícias que interessam ao imperialismo, olhe-se com a reserva exigível para a generalizada e orquestrada projecção dada ao tema. Reservas tão mais justificadas quanto conhecido que, por detrás da chamada associação intencional de jornalista de investigação, está a mão financiadora desse centro de delinquência capitalista conhecido como Fundação Soros ou a família Rockefeller.
Reconhecendo que muitos se possam comover perante tão súbita contrição de tão gradas figuras, manda a prudência adoptar um pouco mais de exigência do que o simples papaguear do que em doses massivas os media nos inundaram e alguma reflexão sobre os objectivos, as agendas e os interesses políticos que lhes possam estar associados.
Tanto mais que da leitura deste processo tem ficado de fora o que ele expressa da verdadeira natureza do capitalismo, de legitimação da sua existência enquanto instrumentos de «competitividade» ou «elasticidade» fiscal de países e «contribuintes», de tentativa de os explicar não pelo que representam de peças essenciais e inerentes aos interesses do capital financeiro na extorsão de recursos aos povos mas sim pelo indevido uso e abuso de alguns mais gananciosos, de ensaio para novos e mais avançados passos em políticas de articulação global favoráveis ao capital transnacional.
Lendo o que alguns por aí têm escrito seríamos levados a concluir que esta coisa dos offshores é obra dos inimigos do capitalismo. Leia-se A. Nogueira Leite que em nome de um capitalismo mais próspero e transparente sentencia que «manter opacidade é fazer jogo dos que o querem destruir». Se o leitor ainda não percebera fique pois sabendo que ainda se vai concluir que isto dos offshores tem a mão de comunistas.
Jorge Cordeiro
Sem comentários:
Enviar um comentário