Nos EUA de Obama, o racismo ainda corre solto
PSTU - [Wilson H. Da Silva] Há um mês, no dia 26 de fevereiro, Trayvon Martin, um jovem negro de 17 anos, foi assassinado na cidade de Orlando, na Flórida. No sábado, 24 de março, milhares de norte-americanos saíram às ruas de algumas das principais cidades do país (Washington, Chicago, Dallas, Tampa, Seattle, Baltimore e Atlanta) para exigir justiça contra mais este crime racista no país presidido por seu primeiro presidente negro.
O motivo dos protestos é “simples”, apesar de absurdo. O assassino confesso de Trayvon, um vigilante de condomínio chamado George Zimmernan, alega ter matado o jovem em “legítima defesa”, apesar de que Trayvon estava desarmado e nada mais fez do que passar, com um capuz na cabeça, diante da propriedade “protegida” por Zimmernan, indo em direção à casa de uma amiga de seu pai, depois de comprar alguns doces.
Câmeras que registraram toda a movimentação também provam que não houve nenhum tipo de ameaça por parte do garoto. O fato é que sua vida foi tirada a sangue-frio e, se isto não bastasse, uma aberração jurídica típica do estado hiper conservador que é a Flórida, permitiu que o vigilante não fosse acusado de crime algum, não chegando sequer a ser detido.
O “comovente” cinismo de Obama
Apesar de ter mantido um vergonhoso silêncio e nunca ter se pronunciado sobre o assassinato, um dia antes dos protestos, na sexta, o presidente Barack Obama foi a público lamentar a morte do jovem através de uma declaração feita sob medida para comover o público e, ao mesmo tempo, tirar a questão de seu verdadeiro foco.
Afirmando não poder “imaginar o que estão passando os pais", Obama acrescentou que "se eu tivesse um filho, ele seria parecido com Trayvon" e defendeu: "Cada pai nos Estados Unidos deve saber a razão pela qual é imperativo que nós investiguemos todos os aspectos deste caso, e que todos façam esforços, o Estado federal, o estado (da Flórida) e as autoridades locais, para compreender exatamente como esta tragédia ocorreu".
Apelando para a emoção, para fugir do verdadeiro debate, Obama também está completamente errado ao insinuar que aquilo que aconteceu com o jovem Trayvon pode ser chamado de “tragédia”, pois, ao contrário da “desgraças inesperadas” que, às vezes se abatem sobre as pessoas, o que aconteceu com Trayvon poderia ter sido evitado.
O que provocou a morte do garoto não foi uma tragédia e, sim, mais um lamentável caso de racismo, alimentado e acobertado pela racista legislação norte-americana.
Algo, inclusive, bastante conhecido pelos negros e negras brasileiros que, assim como nos EUA, são tratados como “suspeitos antes que se prove o contrário” e, lamentavelmente, também são executados aos milhares, ano após anos, pelas forças de repressão e seus muitos braços no Estado capitalista.
“Somos todos Trayvon”
Antes mesmo de ganhar as ruas, os protestos já estavam acontecendo em todas partes, mas particularmente nas redes sociais e nas comunidades negras, de uma forma bastante emocionante: jovens, brancos e negros, crianças e gente de todo tipo postavam suas fotos encapuzados como Trayvon.
Com a aproximação do primeiro mês depois do assassinato, as manifestações começaram a ganhar as ruas. A nova onda de mobilizações, que culminará nesta segunda-feira, começou na quarta, 21 de março, quando os pais de Trayvon, Tracy Martin e Sybrina Fulton, participaram em uma marcha com cerca de mil pessoas em Nova Iorque, muitas delas encapuzadas.
Os protestos já obrigaram o governador da Flórida, Rick Scott, a convocar uma nova promotora para apurar o homicídio, com o compromisso de "estudar os fatos e as circunstâncias que levaram ao disparo". Também pressionado, o Departamento de Justiça Federal decidiu abrir uma investigação paralela e se reuniu com os pais do adolescente, prometendo que um grande júri determinará, no próximo 10 de abril, se Zimmerman será acusado de algum crime.
Sabemos que para que isto ocorra e para que algum dia este sujeito possa ser punido pelo crime racista que cometeu será necessária muita luta. As manifestações em diversas cidades norte-americanas têm demonstrado esta disposição e, certamente, o movimento irá contar com a solidariedade do movimento negro brasileiro que também tem intensificado suas mobilizações contra os ataques racistas de todos os tipos.
Fonte: Diário Liberdade
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