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sábado, 31 de março de 2012


Que raio de Partido Socialista é este? 



O Partido Socialista teve, anteontem, na Assembleia da República, uma excelente ocasião para se redimir das evasivas políticas, das ambiguidades e dos desvios que têm caracterizado a sua trajectória. O Partido Socialista teve, anteontem, na Assembleia da República, uma excelente ocasião para se redimir das evasivas políticas, das ambiguidades e dos desvios que têm caracterizado a sua trajectória. Porém, ao abster-se de combater a nova lei laboral, acentuou o retrato ideológico e moral da sua triste existência. A ideia de que António José Seguro é um "homem de Esquerda" caiu pela base. Ao claudicar perante um documento daquela natureza, o PS desacreditou-se definitivamente.

Fica por saber, mas adivinha-se, as manobras de bastidores encetadas entre as direcções socialista e social-democrata, a fim de se atingir aquele vergonhoso resultado. Aliás, a "concertação" social, tão afamada pelos trompetistas da Direita, foi subscrita por João Proença, figura de relevo do PS. Convém não esquecer, para memória futura.

Mas a história do chamado "socialismo democrático" está pejada de traições (porque de traições se trata) desta e de índole semelhante. Não é preciso ler Tony Judt, embora seja importante frequentá-lo, para sermos informados das claudicações dos partidos "socialistas" na Europa, que levaram ao total descalabro. A ameaça do comunismo serviu de pretexto para as maiores abjurações. Ao juntar-se aos partidos de Direita (caso português), o PS alterou a fisionomia do que de ele se esperava, desde o 25 de Abril.

Claro que o sectarismo do PCP, na altura, e a existência da União Soviética, como poder omnipresente, também não ajudaram a convergência de esforços. Mas, como escreveu, na altura, o jornalista alemão Kurt Dreyer, "tudo seria o mesmo, pois os partidos socialistas procedem de ambições pequeno-burguesas."

A queda do Muro de Berlim "não salvou ninguém de coisa nenhuma" [Gunther Grass] e apenas forneceu ao capitalismo outra força e outro desiderato, porventura mais cegos e desvigiados. O resultado está à vista. No fundo, não se desejava que o PS fosse além do que dizia. Apenas se exigia que cumprisse as razões da "social-democracia."

Os portugueses ainda se recordam dos gritos e dos estribilhos dos anos da brasa. "Partido Socialista, Partido Marxista!" E o punho erguido, vertical e incisivo, depois alterado para a rosa. "Uma rosa sem cheiro", na rotunda expressão de Fernando Piteira Santos. Aliás, há uma história dessa época que se conta ainda. Parece que um diaMário Soares dirigiu-se a Piteira Santos e inquiriu: "Porque é que você não se inscreve no Partido Socialista?" Piteira, velho resistente, cujo sarcasmo nunca media distâncias, respondeu-lhe; "Porque sou socialista."

Podemos confiar no PS? Se a questão é penosa, a resposta poderá ser cruel. Há muitos anos que o PS abandonou as regras d'oiro da Esquerda. Ao menos que, nos problemas sociais, tivesse uma resposta e uma actuação que não fossem tão humilhantes. Nada disso. Não votaram em Francisco Assis, para secretário-geral, porque estava muito ligado a José Sócrates, e, também, porque Seguro oferecia mais garantias "de Esquerda." É o que se tem visto. Encostado, cada vez mais declaradamente, aos propósitos e objectivos da Direita, o PS de António José Seguro queda-se numa retórica absurda, sem direcção nem sentido, espécie de baratinha tonta com fato e gravata.

Depois da abstenção de quarta-feira que vão Seguro e os seus dizer às pessoas? O seu comportamento, a sua ubiquidade, a sua falta de carácter e de ideologia roçam a indignidade ética. Mas será que alguma vez a tiveram? Perguntar não ofende. O que ofende a consciência dos homens livres são as constantes tranquibérnias de um partido cada vez mais ligado aos interesses e aos malabarismos do rotativismo.



APOSTILA - Para governo e conceito dos meus Dilectos, e para honra da verdade, nunca fui redactor do "Diário de Notícias", apenas seu colunista, de há cinco anos a esta parte, e a convite expresso de João Marcelino, meu amigo. Acrescento que me insurgi contra os saneamentos de 1975, e que fui camarada fraterno de João Coito, grande jornalista, homem digno e honrado, fiel às suas convicções até ao remate final dos dias. Adianto que nos protegemos um ao outro, o que deixava os dele e os meus correligionários completamente fora de si. Depois, quem quiser corresponder-se comigo, sem a máscara vil do anonimato, o meu endereço electrónico está a seguir. Chega?



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