Momento zen
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Portugal vive um dos momentos mais sui generis, mais em forma de assim, da sua já longa história.
Os portugueses não têm que fazer; os que ainda têm, trabalham mais e ganham cada vez menos, pagam cada vez mais impostos, têm cada vez menos direitos. E todavia, gostam: a política do empobrecimento geral (mas não universal) em curso é o desígnio nacional que, segundo as abébiasque falam na televisão, foi sufragado e é apoiado por oitenta por cento dos cidadãos eleitores. Nem mais.
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A pobreza é a verdadeira prioridade. A única em que o governo legitimamente constituído realmente acredita. E acredita tanto mas tanto que faz dela o seu único verdadeiro investimento. Basta ver os rios de dinheiro que sonega à segurança social e que o ministro da solidariedade, “a cinderela da lambreta”, prodigaliza às empresas privadas de caridade -na Figueira da Foz, uma delas, esta, é mesmo uma das maiores empregadoras do concelho, vejam bem.
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A pobreza é pois, neste momento, indústria pesada, e de ponta. Em breve o país estará em condições de exportar.
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Mas a pobreza não é só flores - o ministro da saúde, por exemplo, admite que o aumento da pobreza faça crescer também a tuberculose. O que é uma maçada e, talvez por isso, os serviços que ele tutela mandaram encerrar o BCG da Figueira da Foz e a partir deste mês (Março) os doentes pulmonares figueirinhas vão passar a poder passear por Coimbra o seu esplendor. Ou seja, não há nada que este governo não faça pelos pobrezinhos.
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No entanto, os cidadãos que se opõem a isto e o manifestam publicamente em greves legalmente convocadas e pacíficas são descritos, “a vol d’oiseau” nos canais manipulados de televisão, como “grupos de perigosos radicais”.
Eu gostava de mostrar aos coninhas avençados que falam nas televisões manipuladas e escrevem em jornais de referência, o que é um verdadeiro radical. Mas não percebo nada de explosivos (os meus conhecimentos na matéria são manifestamente limitados para me fazer suficientemente eloquente). Por isso faço desenhos. Sirvo-me do humor e de todas as suas três teorias, que tento levar à prática de forma, digamos, mais ou menos empírica.
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Hoje, talvez levado por este post bem-humorado do meu amigo Agostinho, saiu-me um cão. Captei-o no momento em que o melhor amigo do homem faz - na rua, às escâncaras e sem culpa (lá se vai a teoria freudiana do alívio) - aquilo que os seus donos e muitas outras pessoas têm dentro da cabeça. Oitenta por cento delas, segundo os especialistas da televisão (e dos jornais de referência).
Dir-me-ão que isto não é humor. Pois não. É escárneo. Pura derisão.
Há momentos em que bem tento ser elegante. Mas não sou de ferro.
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