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sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

CARLOS MARIGELLA, O GRANDE GUERRILHEIRO - IMAGENS E CLIPS - SUA VIDA - SUA LUTA - SUA HISTÓRIA - A GUERRILHA - AS PRISÕES, O ASSASSINATO - A FAMÍLIA


Pólvora
De Carlos Pronzato, do livro "Poemas sem licença para Carlos Marighella"

Carlos
Poderias ter sulcado
O céu
Com tuas asas
Tocar cúpulas
Sinos
Voar intensamente
Com poesias
Sambas
Ser tão baiano
Como Dorival
Caetano
Amado
Ou o mais velho
Dos Novos Baianos
Ou talvez
Irreverente
Como um Glauber
Desarmado
Ou até um grito renovado
Do Poeta dos Escravos
Mas o espelho
Devolve-te
Como um punho
Clandestino
E apertado

Pólvora
De um sonho
Deslizando
Entre as tuas mãos
Que guarda ainda
Seu último disparo

















Mariguella2.jpg (14145 bytes)Sua vidaCarlos Marighella nasceu em Salvador, Bahia, em 5 de dezembro de 1911. Era filho de imigrante italiano com uma negra descendente dos haussás, conhecidos pela combatividade nas sublevações contra a escravidão.
De origem humilde, ainda adolescente despertou para as lutas sociais. Aos 18 anos iniciou curso de Engenharia na Escola Politécnica da Bahia e tornou-se militante do Partido Comunista, dedicando sua vida à causa dos trabalhadores, da independência nacional e do socialismo.
Conheceu a prisão pela primeira vez em 1932, após escrever um poema contendo críticas ao interventor Juracy Magalhães. Libertado, prosseguiria na militância política, interrompendo os estudos universitários no 3o ano, em 1932, quando deslocou-se para o Rio de Janeiro.
            Em 1o de maio de 1936 Marighella foi novamente preso e enfrentou, durante 23 dias, as terríveis torturas da polícia de Filinto Müller. Permaneceu encarcerado por um ano e, quando solto pela “macedada” – nome da medida que libertou os presos políticos sem condenação -- deixou o exemplo de uma tenacidade impressionante.
Transferindo-se para São Paulo, Marighella passou a agir em torno de dois eixos: a reorganização dos revolucionários comunistas, duramente atingidos pela repressão, e o combate ao terror imposto pela ditadura de Getúlio Vargas.
Voltaria aos cárceres em 1939, sendo mais uma vez torturado de forma brutal na Delegacia de Ordem Política e Social (DOPS) de São Paulo, mas se negando a fornecer qualquer informação à polícia. Na CPI que investigaria os crimes do Estado Novo o médico Dr. Nilo Rodrigues deporia que, com referência a Marighella, nunca vira tamanha resistência a maus tratos nem tanta bravura.
Recolhido aos presídios de Fernando de Noronha e Ilha Grande pelo seis anos seguintes, ele dirigiria sua energia revolucionária ao trabalho de educação cultural e política dos companheiros de cadeia.
Anistiado em abril de 1945, participou do processo de redemocratização do país e da reorganização do Partido Comunista na legalidade. Deposto o ditador Vargas e convocadas eleições gerais, foi eleito deputado federal constituinte pelo estado da Bahia. Seria apontado como um dos mais aguerridos parlamentares de todas as bancadas, proferindo, em menos de dois anos, cerca de duzentos discursos em que tomou, invariavelmente, a defesa das aspirações operárias, denunciando as péssimas condições de vida do povo brasileiro e a crescente penetração imperialista no país.
Com o mandato cassado pela repressão que o governo Dutra desencadeou contra o comunistas, Marighella foi obrigado a retornar à clandestinidade em 1948, condição em que permaneceria por mais de duas décadas, até seu assassinato.
Nos anos 50, exercendo novamente a militância em São Paulo, tomaria parte ativa nas lutas populares do período, em defesa do monopólio estatal do petróleo e contra o envio de soldados brasileiros à Coréia e a desnacionalização da economia. Cada vez mais, Carlos Marighella voltaria suas reflexões em direção do problema agrário, redigindo, em 1958, o ensaio “Alguns aspectos da renda da terra no Brasil”, o primeiro de uma série de análises teórico-políticas que elaborou até 1969. Nesta fase visitaria a China Popular e a União Soviética, e anos depois, conheceria Cuba. Em suas viagens pôde examinar de perto as experiências revolucionárias vitoriosas daqueles países.
Após o golpe militar de 1964, Marighella foi localizado por agentes do DOPS carioca em 9 de maio num cinema do bairro da Tijuca. Enfrentou os policiais que o cercavam com socos e gritos de “Abaixo a ditadura militar fascista” e “Viva a democracia”, recebendo um tiro a queima-roupa no peito. Descrevendo o episódio no livro “Por que resisti à prisão”, ele afirmaria: “Minha força vinha mesmo era da convicção política, da certeza (...) de que a liberdade não se defende senão resistindo”.
Repetindo a postura de altivez das prisões anteriores, Marighella fez de sua defesa um ataque aos crimes e ao obscurantismo que imperava desde 1o de abril. Conseguiu, com isso, catalisar um movimento de solidariedade que forçou os militares a aceitar um habeas-corpus e sua libertação imediata. Desse momento em diante, intensificou o combate à ditadura utilizando todos os meios de luta na tentativa de impedir a consolidação de um regime ilegal e ilegítimo. Mas, mantendo o país sob terror policial, o governo sufocou os sindicatos e suspendeu as garantias constitucionais dos cidadãos, enquanto estrangulava o parlamento. Na ocasião, Carlos Marighella aprofundou as divergências com o Partido Comunista, criticando seu imobilismo.
Em dezembro de 1966, em carta à Comissão Executiva do PCB, requereu seu desligamento da mesma, explicitando a disposição de lutar revolucionariamente junto às massas, em vez de ficar à espera das regras do jogo político e burocrático convencional que, segundo entendia, imperava na liderança. E quando já não havia outra solução, conforme suas próprias palavras, fundou a ALN – Ação Libertadora Nacional para, de armas em punho,  enfrentar a ditadura.
O endurecimento do regime militar, a partir do final de 1968, culminou numa repressão sem precedentes. Marighella passou a ser apontado como Inimigo Público Número Um, transformando-se em alvo de uma caçada que envolveu, a nível nacional, toda a estrutura da polícia política.
Na noite de 4 de novembro de 1969 – há exatos 30 anos -- surpreendido por uma emboscada na alameda Casa Branca, na capital paulista, Carlos Marighella tombou varado pelas balas dos agentes do DOPS sob a chefia do delegado Sérgio Paranhos Fleury.
Resumo biográfico

1911 - No dia 5 de dezembro, Carlos Marighella nasce na Rua do Desterro número 9, na cidade de São Salvador, Estado da Bahia. Seus pais são o casal Maria Rita do Nascimento, negra e filha de escravos, e o imigrante italiano, o operário Augusto Marighella. Carlos teve sete irmãos e irmãs.

1929 - Marighella começa a cursar engenharia civil na antiga Escola Politécnica da Bahia, depois de haver estudado no Ginásio da Bahia, hoje Colégio Central. Numa e noutra escola, destaca-se como aluno, pela alegria e criatividade. São famosas suas diversas provas em versos.

1932 - Ingressa na Juventude Comunista. O Partido Comunista havia sido criado em 1922. Com a revolução de 30 uma grande efervescência política varria o Brasil. Marighella participa de manifestações contra o regime autoritário e o interventor Juracy Magalhães. Inconformado com versos de Marighella que o ridicularizavam, Juracy manda prendê-lo e espancá-lo.

1936 - Abandona o curso de engenharia e vai para São Paulo a mando da direção, reorganizar o Partido Comunista, que havia sido gravemente reprimido após o levange de 1935. É, porém, novamente preso e torturado durante 23 dias pela Polícia Especial de Felinto Muller.

1937 - Marighella é libertado pela anistia assinada pelo ministro Macedo Soares e, quatro meses depois, Getúlio dá o golpe e instaura o Estado Novo. Na clandestinidade, Marighella é encarregado da difícil tarefa de combater as tendências internas dissidentes da linha oficial do PCB em São Paulo.

1939 - Preso pela terceira vez, é confinado em Fernando de Noronha. Na cadeia, os revolucionários presos organizam uma universidade popular e Marighella dá aulas de matemática e filosofia.

1942 - Os presos políticos vão para a Ilha Grande, no litoral do Rio de Janeiro, porque Fernando de Noronha passa a ser usada como base de apoio das operações militares dos aliados no Atlântico Sul.

1943 - Na Conferência da Mantiqueira, Marighella, mesmo preso, é eleito para o Comitê Central. O Partido Comunista adota linha de apoio ao governo Vargas em razão da entrada do Brasil na guerra, posição de que ele discorda, embora a cumpra, por dever de militância.

1945 - Anistia, em abril, devolve à liberdade os presos políticos. Com a vitória das forças antifascistas, o PCB vai à legalidade e participa da eleição para a Constituinte. Marighella é eleito como um dos deputados constituintes mais votados da bancada..

1946 - Apesar do apoio de Prestes, o general Dutra, eleito Presidente da República, desencadeia repressão aos comunistas. Marighella participa ativamente da Constituinte com um dos redatores do organismo parlamentar. Conhece Clara Charf.

1947 -Ainda no primeiro semestre é fechada a União da Juventude Comunista. Depois, é o próprio Partido que é posto na ilegalidade. Marighela coordena a edição da revista teórica do PCB, Problemas e vive um relacionamento com dona Elza Sento Sé, que resulta no nascimento, em maio de 1948, de seu filho Carlos.

1948 - No início do ano são cassados os mandatos dos parlamentares comunistas. Marighella volta à clandestinidade. Data desse ano seu romance com Clara Charf, sua companheira até o fim da vida.

1949/1954 - Em São Paulo, Marighella cuida da ação sindical do PCB. Sob sua direção o PC se vincula aos operários, participa da campanha "O Petróleo é nosso" e organiza a greve geral conhecida como "dos cem mil" em 1953. Considerado esquerdista pela direção do Partido, é mandado em viagem à China. Lá é internado em razão de uma pneumonia. Depois, vai à União Soviética e volta ao Brasil em 1954.

1955 - A morte de Getúlio Vargas e o início do governo de Juscelino Kubistchek permitem que os comunistas, embora na ilegalidade, atuem de modo mais visível.

1956/1959 - O XX Congresso do PC da União Soviética inicia a desestalinização. O PCB adota a linha da "coexistência pacífica" pregada pela União Soviética. A vitória da Revolução Cubana, porém, contraria frontalmente as posições do movimento comunista internacional.

1960/1964 - A renúncia de Jânio gera uma crise política. Jango toma posse e Marighella passa a divergir da linha oficial do PC, principalmente de sua política de moderação e subordinação à burguesia. Em 1962, divisão do PC dá origem ao Partido Comunista do Brasil - PC do B.

1964 - Com o golpe de abril, instaura-se a ditadura militar. Perseguido pela polícia, Marighella entra num cinema do bairro da Tijuca, no Rio de Janeiro, e lá resiste aos policiais até ser diversas vezes baleado, espancado e finalmente preso. Sua resistência transformou sua prisão em um ato político que teve repercussão nacional. É solto depois de 80 dias, depois de um habeas corpus pedido pelo advogado Sobral Pinto.

1965 - Escreve e publica o livro "Por que resisti à prisão", em que aponta sua opção por organizar a resistência dos trabalhadores brasileiros contra a ditadura e pela libertação nacional e o socialismo.

1966 - Publica "A Crise Brasileira", onde aprofunda suas posições críticas à linha do PCB, prega a adoção da luta armada contra a ditadura, fundada na aliança dos operários com os camponeses.

1967 - Na Conferência Estadual de São Paulo as idéias de Marighella saem vitoriosas por ampla maioria - 33 a 3 -, apesar da participação pessoal e contrária de Luiz Carlos Prestes. Vendo que a derrota no VI Congresso era iminente, Prestes inicia um processo de intervenções nos Estados, para impedir a participação de delegados ligados à corrente de esquerda. Marighella viaja a Cuba para participar da conferência da Organização Latino-Americana de Solidariedade-OLAS. O PCB envia telegrama desautorizando sua participação e ameaçando-o de expulsão. Disso resulta uma carta dele rompendo com o Comitê Central do PCB e afirmando que ninguém precisa pedir licença para praticar atos revolucionários. Como represália, é expulso do Partido Comunista. Retorna ao Brasil e funda a Ação Libertadora Nacional-ALN e dá início à luta armada contra a ditadura militar.

1968 - Marighella participa diretamente de diversas ações armadas recuperando fundos para a construção da ALN. No primeiro de maio, em São Paulo, os operários tomam o palanque de assalto, expulsam o governador Sodrée realizam comemorações combativas do dia internacional dos trabalhadores. O Movimento estudantil toma conta das ruas em manifestações contra a ditadura que chegaram a mobilizar cem mil pessoas. Em outubro, porém, o Congresso da UNE é descoberto pela polícia e os estudantes sofrem grave derrota. Também no final do ano, torna-se conhecido o fato de que Marighella comandava parte das ações guerrilheiras.

1969 - No início do ano, a descoberta de planos da Vanguarda Popular Revolucionária - VPR pela polícia antecipa a saída do capitão Carlos Lamarca de um quartel do exército em Osasco, levando um caminhão carregado com armamento para a guerrilha. Em setembro o embaixador norte-americano é feito prisioneiro por um destacamento unificado com integrantes da ALN e do MR-8 e trocado por quinze presos políticos. No dia 4 de novembro, às oito horas da noite, Carlos Marighella caiu numa emboscada armada pelos inimigos do povo brasileiro em frente ao número 800 da alameda Casa Branca, em São Paulo, e foi assassinado. Sua organização, a ALN sobreviveu até 1974.









Resistência













Guerrilha





Pertencemos à Ação Libertadora Nacional e o que propomos é derrubar pela violência a ditadura militar, anular todos os seus atos desde 1964, formar um governo revolucionário do povo; expulsar os norte-americanos, confiscar suas firmas e propriedades e as firmas e propriedades dos que com eles colaborarem; transformar a estrutura agrária do país, expropriando e extinguindo o latifúndio, dando terra ao camponês, valorizando o homem do campo; transformar as condições de vida dos trabalhadores, assegurando salários condignos, melhorando a situação das classes médias; assegurar a liberdade em qualquer terreno, do campo político ao campo cultural ou religioso; retirar o Brasil da condição de satélite da política externa dos Estados Unidos, colocá-lo no plano mundial como nação independente, reatar relações com Cuba e todos os demais países socialistas.Carta a D. Hérder Câmara - Agosto de 1969
“Em nome da Ação Libertadora Nacional envio esta saudação aos 15 patriotas resgatados em troca do embaixador norte americano Charles Elbrick seqüestrado em setembro no Rio de Janeiro (...) Foi esta uma das maneiras que os revolucionários brasileiros encontraram para libertar um punhado de patriotas que sofriam nas prisões do país os mais brutais castigos impostos pelos fascistas militares”.
Na foto, treze dos quinze presos libertados. Outubro de 1969

Em maio de 1964 Marighella enfrenta agentes do DOPS no cine Esky, no Rio de Janeiro. Foi ferido no peito com um tiro a queima-ropa. Em seguida ele escreveu o livro "Por que resisti à prisão", onde diz:
"Minha força vinha mesmo era da convicção política, da cerrteza (...) de que a liberdade não se defende senão resistindo"' .
Na foto, Marighella é transferido do Hospital Souza Aguiar para a enfermaria da Penitenciária Lemos Brito.








Bravura




Presos políticos em Fernando de Noronha.
Marighella é o quarto, em pé, da esquerda para a direita. Gregório Bezerra e Agildo Barata, 1942.
Presos políticos na Ilha Grande: Entre eles estão Diogo Soares Cardoso, Juvenal de Brito, Arlindo Pinho, Antonio Bento Monteiro Tourinho, Marighella, Agliberto Vieira de Azevedo, David Capistrano, 8. Antonio Gouveia, Cesar Gonçalves da Silva, Joaquim Câmara Ferreira




Cassado




Com a adesão do governo Dutra aos Estados Unidos, no contexto da Guerra Fria, o registro do PCB e o mandato dos parlamentares eleitos sob sua legenda são cassados na virada para o ano de 1948. A polícia empastela seus jornais e os dirigentes comunistas passam a ser perseguidos e processados. Os avanços democráticos alcançados na Constituição promulgada em setembro de 1946 sofrem um retrocesso. Para Carlos Marighella tem início mais um período de clandestinidade que se estenderia por quase uma década.
À direita, empastelamento da Tribuna Popular, jornal diário do PCB. Rio de Janeiro, outubro de 1947.




Flagrante raro do cotidiano de Marighella:
à esquerda, com Clara
Charf, sua
companheira desde 1948, e a sobrinha
Esther Grinspum,
São Paulo, 1963;
Às vésperas do
 golpe militar,
o comício pelas
Reformas de Base
na Central do Brasil,
Rio de Janeiro,
13 de março de 1964
(à direita).







Militante




Marighella abandona o curso de engenharia, transfere-se para o Rio de Janeiro e vai trabalhar na reorganização do Partido Comunista, esfacelado pela repressão desencadeada com o levante de 1935. Preso em 1o de maio de 1936, seria barbaramente torturado. Solto em julho do ano seguinte, cai na clandestinidade, sendo incumbido de reestruturar o partido em São Paulo. Novamente capturado pela polícia em maio de 1939 e condenado pelo Tribunal de Segurança Nacional, permanece seis anos nos presídios de Fernando de Noronha e Ilha Grande. A foto é do prontuário de Marighella no DOPS.





Juventude





Carlos Marighella ingressa no curso de engenharia da Escola Politécnica da Bahia em 1931. Datam desse período suas provas  escritas em verso. No ano seguinte, envolvido nas manifestações dos estudantes baianos em apoio ao movimento constitucionalista desencadeado a partir de São Paulo, é preso pela primeira vez. Libertado, participa das articulações da Juventude Comunista em Salvador
Foto do Quadro de Formandos do Ginário da Bahia, 1929Alunos da 5ª série do  Ginásio da Bahia. Ao centro, olhando para cima, Marighella.






família




"Minha avó era negra haussá,
ela veio   foi da África,
num navio negreiro.
Meu pai veio foi da Itália,
operário imigrante.
O Brasil  é mestiço,
mistura de índio,
de negro, de branco".
Carlos Marighella
Augusto Marighella, o paiMaria Rita Marighella, a mãe
Carlos Marighella,  ou simplesmente Carlinhos, como o chamavam na época em que foi feita a fotografia ao lado, em 1927.  nasceu na em Salvador, na Bahia, em 5 de dezembro de 1911.








Assassinado




Quatro de novembro de 1969, terça-feira. Como de outras vezes, Marighella marcara um ponto com os freis dominicanos Ivo e Fernando na altura do número 806 da Alameda Casa Branca. Passava um pouco das oito da noite e os frades, que haviam sido presos e torturados, estavam lá, levados pela polícia. Naquele momento Marighella não poderia supor que ia cair numa emboscada. Sob o comando do delegado Sérgio Fleury, 29 agentes fortemente armados haviam cercado o local e aguardavam sua chegada.




“Para Marighella, tudo parecia normal enquanto caminhava lentamente em direção ao carro – até estourar a fuzilaria. O primeiro tiro que o atingiu atravessou as suas nádegas; o segundo, acertou-lhe a virilha; o terceiro, feriu de raspão o seu rosto. Caído no meio da rua, imobilizado pelos ferimentos, foi cercado e executado às queima-roupa com um quarto tiro. Em um reflexo defensivo, elevou a mão e teve um dos dedos estraçalhado pela bala que lhe perfurou o pulmão e a aorta, provocando-lhe hemorragia interna e morte instantânea.”  Dos filhos deste solo, de Nilmário Miranda e Carlos Tibúrcio
 O ESTADO RECONHECE O CRIMEEm 11 de setembro de 1996, por 5 votos a 2, a Comissão Especial dos Mortos e Desaparecidos do Ministério da Justiça condenou a ditadura militar pela morte covarde de Carlos Marighella. Concluiu que ele foi assassinado por um tiro a curta distância, depois de imobilizado por três disparos não fatais. Além disso, a polícia tinha controle absoluto sobre a área onde foi morto, caracterizando-a como uma dependência do Estado, o qual deve zelar por quem se encontra sob sua responsabilidade.








Ruptura




O golpe militar de 1964 significou para as esquerdas a derrota do seu projeto político. A instalação de um regime ditatorial no país desmoralizou a perspectiva da conquista do poder pela via pacífica, desencadeando no PCB uma acirrada luta interna. Em carta de 10 de dezembro de 1966, Marighella requer seu desligamento da Comissão Executiva do partido: 
O contraste das nossas posições políticas e ideológicas é demasiado grande e existe entre nós uma situação insustentável (...) Solicitando demissão da atual Executiva desejo tornar público que minha disposição é lutar revolucionariamente junto com as massas, e jamais ficar à espera das regras do jogo político e burocrático convencional que impera na liderança ...

Entre 31 de julho e 10 de agosto de 1967, realizou-se em Havana a Conferência da Organização Latino-Americana de Solidariedade – OLAS. Marighella, que se encontrava na capital cubana, participa do encontro e declara a opção pela guerrilha, a seu ver, caminho fundamental – mas não exclusivo – da revolução no continente.De volta ao Brasil, lança O Guerrilheiro, jornal do agrupamento comunista de São Paulo, grupo dissidente do PCB que deu origem à Ação Libertadora Nacional -  ALN - organização que irá desencadear ações armadas a partir de 1968,





Anistia




Libertado do presídio de Ilha Grande pela anistia de abril de 1945, Marighella desembarca no Rio de Janeiro. Atrás, à esquerda, Antonio Bento Monteiro Tourinho, tenente do 3o RI.
Homenagem aos pracinhas da FEB por ocasião da chegada de um de seus contingentes da Itália. Aparecem, da esquerda para a direita, Marighella, Maurício Grabois (1), Luis Carlos Prestes (2) e Diógenes Arruda Câmara (3). Rio de Janeiro, 1945.






Resgatado




Após a autópsia realizada em sigilo, o corpo de Carlos Marighella foi levado para o cemitério de Vila Formosa escoltado por duas viaturas do DOPS. Além dos quinze agentes armados de metralhadoras impedindo que alguém se aproximasse do local, somente os coveiros que realizaram o sepultamento puderam presenciá-lo.




Dez anos depois do assassinato, a chegada no cemitério das Quintas, em Salvador. À esquerda, carregando a urna, Carlos Augusto, o filho, e à direita, Caetano, irmão de Marighella.
Na foto à direita, o túmulo de Carlos Marighella projetado pelo arquiteto Oscar Niemmeyer












Constituinte




Eleito deputado federal constituinte pela Bahia em dezembro de 1945, Marighella seria o autor de grande parte das emendas apresentadas pela bancada do PCB. Com atuação marcada pela combatividade, fez do plenário uma tribuna de denúncias da injustiça social e da violência contra os trabalhadores. A situação dos operários e camponeses de todo o país - em especial os de sua terra natal – e a luta contra os baixos salários, eram os alvos preferenciais do parlamentar comunista.




Bancada comunista em 1946: na fila superior, da esquerda para a direita: Claudino Silva, Osvaldo Pacheco, Batista Neto, Gregório Bezerra, Alcedo Coutinho, Carlos Marighella, Alcides Sabença; em primeiro plano: Jorge Amado, Abílio Fernandes, João Amazonas, Luís Carlos Prestes, Milton Caires de Brito, Agostinho Dias e José Maria Crispim. 




“Democracia é assegurar todos os direitos a que o povo faz jus;
democracia não é dizer, apenas,
que se trata do presidente de todos os brasileiros. Demagogia,
 sim, é declarar-se presidente de todos os brasileiros, mas não lhes manter os direitos. Se o Parlamento não se  revoltar, não mostrar que tem fibra para se opor a todos e quaisquer atos do Executivo que visem anular
os sagrados direitos do povo, não
evidenciar o seu desejo de garantir a democracia, para que o Brasil possa tornar-se independente – então poderemos dizer que teremos fracassado”.
2/11/1946     
“Sabemos, e o povo sabe perfeitamente, que nada se pode esperar dos ‘salvadores’; o povo tem de agir por si mesmo, precisa organizar-se e colaborar com aqueles que estão, realmente, com ele, com aqueles que pretendem resolver seus problemas e que, na prática, são a seu favor, a fim de que sejam os mesmos solucionados”.  18/2/1946












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