À espera que chova
«Devo dizer que sou uma pessoa de fé, esperarei sempre que chova e esperarei sempre que a chuva nos minimize alguns destes danos. Como é evidente, quanto mais depressa vier, mais minimiza, quanto mais tarde, menos minimiza. Se não vier de todo, não perderei a minha fé mas teremos obviamente de atuar em conformidade.»
É bom saber que Assunção Cristas não vai esperar infinitamente pela mão meteorológica de Deus para tratar dos assuntos de César. De um ponto de vista político, ao não dispensar a tomada de decisões que vier a revelar-se necessária, a sua fé torna-se assim, felizmente, apenas inócua. Por mais que tutele a Agricultura, o Mar, o Ambiente e o Ordenamento do Território, a ministra sabe que - como qualquer mortal - não tem meio de intervir nem de interceder nos desígnios da atmosfera.
Muito mais séria e perigosa é por isso a absurda fé que o ministro do empobrecimento Vítor Gaspar e o ministro do desemprego e da recessão, Álvaro Santos Pereira, nutrem por um «crescimento-económico-que-há-de-vir», sem que consigam tecer uma elucidação minimamente plausível para que tal aconteça. Uma fé obstinada com que animam as hostes de um governo insane, em êxtase com as supostas virtudes do fogo austeritário e da destruição do Estado, que está a empurrar a economia e o país para o abismo.
Ainda recentemente, num post absolutamente imperdível, Pedro Lains recordava a entrevista em que Vítor Gaspar foi incapaz de explicar «de onde virá o crescimento que permitirá a redução da dívida, concentrando-se apenas em elogiar a redução do défice - sem lembrar que o fez essencialmente com medidas temporárias, como a transferência das pensões dos bancos». Ou a lunática resposta do mesmo ministro a um aluno da LSE, quando este perguntou a Gaspar pelos pilares em que assentaria o famoso «crescimento-que-há-de-vir». Como assinala Lains, «depois de refrasear a pergunta, Gaspar disse que a primeira fonte de crescimento será uma "normal cyclical recovery". Ou seja, isto vai abaixo e depois vem acima porque a economia passa a ter "lots of spare capacity"», presumindo-se portanto «que quanto mais abaixo for, mais acima virá». Uma simplicidade estarrecedora, não é?
Pelo mesmo guião afina Santos Pereira, para quem paradoxalmente a criação de emprego parece constituir um objectivo alheio às suas funções governativas. Basta ver, aliás, a dificuldade que constantemente exibe para elencar qualquer medida concreta de criação de emprego e que o leva recorrentemente a refugiar-se numa bizarra indignação face ao aumento crescente do número de desempregados, como se perante eles não tivesse responsabilidades nem obrigações directas. Essa «coisa» do emprego, para o ministro da Economia e do Emprego, há-de ser certamente assunto da economia, desse mundo que fica para lá das portas do seu ministério.
É bom lembrar que, ao contrário de Assunção Cristas, naturalmente impedida de agir sobre a meteorologia, Gaspar e Santos Pereira são sacerdotes convictos da atmosfera recessiva que nos envolve, criada a partir de escolhas políticas concretas. Ao recusarem deliberadamente adoptar políticas capazes de inverter a trajectória depressiva em que prosseguimos, eles esperam, numa inexplicada fé, que o «crescimento-que-há-de-vir» caia um dia do céu. De um modo tão espontâneo como a chuva.
É bom saber que Assunção Cristas não vai esperar infinitamente pela mão meteorológica de Deus para tratar dos assuntos de César. De um ponto de vista político, ao não dispensar a tomada de decisões que vier a revelar-se necessária, a sua fé torna-se assim, felizmente, apenas inócua. Por mais que tutele a Agricultura, o Mar, o Ambiente e o Ordenamento do Território, a ministra sabe que - como qualquer mortal - não tem meio de intervir nem de interceder nos desígnios da atmosfera.
Muito mais séria e perigosa é por isso a absurda fé que o ministro do empobrecimento Vítor Gaspar e o ministro do desemprego e da recessão, Álvaro Santos Pereira, nutrem por um «crescimento-económico-que-há-de-vir», sem que consigam tecer uma elucidação minimamente plausível para que tal aconteça. Uma fé obstinada com que animam as hostes de um governo insane, em êxtase com as supostas virtudes do fogo austeritário e da destruição do Estado, que está a empurrar a economia e o país para o abismo.
Ainda recentemente, num post absolutamente imperdível, Pedro Lains recordava a entrevista em que Vítor Gaspar foi incapaz de explicar «de onde virá o crescimento que permitirá a redução da dívida, concentrando-se apenas em elogiar a redução do défice - sem lembrar que o fez essencialmente com medidas temporárias, como a transferência das pensões dos bancos». Ou a lunática resposta do mesmo ministro a um aluno da LSE, quando este perguntou a Gaspar pelos pilares em que assentaria o famoso «crescimento-que-há-de-vir». Como assinala Lains, «depois de refrasear a pergunta, Gaspar disse que a primeira fonte de crescimento será uma "normal cyclical recovery". Ou seja, isto vai abaixo e depois vem acima porque a economia passa a ter "lots of spare capacity"», presumindo-se portanto «que quanto mais abaixo for, mais acima virá». Uma simplicidade estarrecedora, não é?
Pelo mesmo guião afina Santos Pereira, para quem paradoxalmente a criação de emprego parece constituir um objectivo alheio às suas funções governativas. Basta ver, aliás, a dificuldade que constantemente exibe para elencar qualquer medida concreta de criação de emprego e que o leva recorrentemente a refugiar-se numa bizarra indignação face ao aumento crescente do número de desempregados, como se perante eles não tivesse responsabilidades nem obrigações directas. Essa «coisa» do emprego, para o ministro da Economia e do Emprego, há-de ser certamente assunto da economia, desse mundo que fica para lá das portas do seu ministério.
É bom lembrar que, ao contrário de Assunção Cristas, naturalmente impedida de agir sobre a meteorologia, Gaspar e Santos Pereira são sacerdotes convictos da atmosfera recessiva que nos envolve, criada a partir de escolhas políticas concretas. Ao recusarem deliberadamente adoptar políticas capazes de inverter a trajectória depressiva em que prosseguimos, eles esperam, numa inexplicada fé, que o «crescimento-que-há-de-vir» caia um dia do céu. De um modo tão espontâneo como a chuva.
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