Maria Vitória – Uma derrocada simbólica
Quase a fazer noventa anos, muitos dos quais à espera de um novo impulso na vida do Parque Mayer, na popular Revista à Portuguesa e na própria cultura em geral... o Teatro Maria Vitória cansou-se de esperar... e partiu.
Não partiu completamente, mas a derrocada de parte do tecto impossibilitou a abertura de pano do espetáculo que estava programado para ontem, dia 16 de Junho, deixando um punhado de artistas à procura de um espaço alternativo.
Se esta derrocada tivesse sido pensada como um golpe publicitário, ou uma espécie de “performance” para assinalar a entrada em cena do novo governo do PSD/CDS e o seu previamente anunciado desprezo pela cultura, teria sido uma ideia brilhante. Infelizmente, trata-se apenas da crua e fria realidade.
Às verbas irrisórias que são postas ao serviço da cultura, desde há muitos anos, vem agora juntar-se a ainda maior desvalorização oficial da criação cultural e da preservação do património e defesa da língua, com o anunciado fim do Ministério da Cultura.
Ao contrário dos seus antecessores, estes que agora chegam ao poder podem pelo menos gabar-se de estarem a ser perfeitamente coerentes com a sua concepção ultraliberal de cultura... que ainda há um par de dias ouvi Vasco Graça Moura, um dos caceteiros cavaquistas mais cultos do país, defender numa entrevista televisiva:
«O que tem muito público e dá dinheiro, é para ficar; aquilo que não for comercialmente viável, é para acabar... ou então, que se pague a si próprio!»
Segundo este critério miserável, muitos dos que hoje são consensualmente aceites como grandes símbolos da nossa cultura, nunca teriam chegado ao nosso conhecimento. Nunca teriam visto os seus livros editados, as suas obras musicais tocadas e gravadas, os seus quadros expostos e, sobretudo, o seu pensamento divulgado.
O que é grave é que calhordas como este Vasco Graça Moura e o seu novo primeiro-ministro, sabem muito bem que assim é. Sabem para que lado estão a tentar torcer o rumo da História... e não têm perdão, pois sabem muito bem o que fazem!
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