Desaprender
Carlos Cipriano, jornalista do Público, tem escrito, em primeira mão, a triste história do desmantelamento da rede ferroviária nacional. Em parte devido ao encerramento de centenas de quilómetros de linhas, os caminhos-de-ferro perderam 99 milhões de passageiros em duas décadas, uma redução de 43%. As políticas públicas privilegiaram o transporte rodoviário privado e isso teve tradução nas estatísticas: entre 1990 e 2004, o uso de comboio passou de 11,3% para 3,8%, o uso de autocarros de 20,5% para 11,1% e o uso do automóvel de 54,6% para 68,7% nas “preferências” dos cidadãos. Estas preferências são então sempre condicionadas por escolhas políticas, moldadas por poderosos interesses empresariais, a montante. Portugal tem agora 20 metros de auto-estrada por Km2 (a média europeia é de 16 metros) e na rede ferroviária tem 31 metros por Km2 (a média europeia é de 47 metros). As contas externas e o ambiente agradecem o desinvestimento no transporte que só poder ser público, o que também explica parcialmente o peso dos combustíveis no orçamento dos portugueses registado há poucos anos: 5,2% para uma média Europeia de 3,3%. E agora? Agora, vamos persistir no erro, graças à austeridade selvagem, que também vai desmembrar a CP, entregando aos privados os lucrativos comboios suburbanos: estudo entregue à troika propõe fecho de 800 km de linha férrea. A lógica, para retomar uma vez mais os termos de Tony Judt num ensaio sobre caminhos-de-ferro, é a de desaprender “a partilhar o espaço público para benefício comum”.
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