Se eu tivesse vinte anos...
Se eu tivesse vinte anos... e formasse uma banda rock, provavelmente, ao contrário dos GNR, faria uma canção defendendo a saída de Portugal da CEE, ou como agora se diz, da UE e do Euro.
Os jovens GNR, ainda com o experimental Vítor Rua e sem o Rui Reininho, fizeram sucesso nos idos de 1981 com a sua entusiástica apologia da entrada de Portugal na CEE. Era a miragem do progresso, a inocência do cordeiro que se vai meter na boca do lobo. Confirmou-se tudo. Houve algum progresso (até nas formas e na intensidade da exploração de quem trabalha) e o lobo abocanhou, como se esperava, o cordeiro. No essencial, começou a inclinar-se a ladeira que aceleraria o nosso afastamento dos ideais e conquistas de Abril. Foi esse o objectivo, desde Soares, objectivo que se vai cumprindo e agravando até hoje.
Hoje, se tivesse vinte anos e, como já disse, fizesse uma cantiga a gritar pela saída de Portugal da UE e do Euro, acredito que não tivesse o sucesso popular dos jovens GNR... mas na verdade, ao contrário do que aconteceria há uns poucos anos, não seria trucidado pela crítica e teria até um ou outro aceno aprovativo de figuras “respeitáveis”, o apoio de economistas conceituados (mas, curiosamente, a condenação por parte de Louçã)... em vez de ser entendido apenas pelos mesmos “comunas” de sempre, que já em 81 não acharam muita graça à canção dos GNR.
Provavelmente, à semelhança do que tem acontecido nos últimos tempos com outros protagonistas de algumas inesperadas canções de “intervenção”... eu andaria por aí, passados quinze dias, a desdobrar-me em entrevistas apelando à calma e a explicar que não senhor, não escrevia canções políticas e muito menos participava na política ativa, que era apenas artista e tal...
De qualquer maneira, teria pelo menos introduzido a discussão e reflexão sobre o tema entre os da minha idade... isto, claro, se tivesse vinte anos.
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