Julio Antonio Mella Mac Partland (1903/1929) foi uma das figuras mais importantes do movimento revolucionário cubano durante a república neocolonial.
Em 1923 foi Presidente do Primeiro Congresso Nacional de Estudantes. Nesse mesmo ano fundou a Universidade José Marti.
Em 1924 criou a Liga Anticlerical e em 1925 a secção cubana da Liga Anti-imperialista das Américas. Ainda em 1924, ingressou no Agrupamento Comunista de Havana.
Em 1925 foi um dos fundadores do primeiro partido marxista-leninista de Cuba. Em 1926 foi expulso da Universidade devido às suas actividades revolucionárias, ocasião em que fez uma célebre greve de fome.
Após este facto exilou-se no México e fundou a Associação de Novos Emigrantes Revolucionários Cubanos (ANERC).
Em 1927 participou como delegado do IV Congresso da Internacional Sindical Vermelha na União Soviética. Foi assassinado no México em 10 de Janeiro de 1929.
Julio Antonio Mella.
“Quem mais fez em menos tempo”, foi assim que Fidel definiu Júlio Antonio Mella num diálogo com os líderes estudantis universitários.
O seu coração pertencia a Cuba. O seu amor, no entanto, abriu espaço para Tina Modotti, uma defensora italiana da liberdade e da justiça. Ambos encontraram no outro o espaço para fundir ideia e paixão; fazer uma revolução do tempo breve (quatro meses) em que eles estavam juntos. Era o ano de 1928.
A última imagem do seu rosto foi tirada por Tina. Lindo mesmo depois de tudo, revela a paz no seu rosto. O hino de Cuba ressoaria fortemente a 10 de Janeiro de 1929 em algum lugar do mundo, “.. Que morrer pela pátria é viver".
A última imagem do seu rosto foi tirada por Tina. Lindo mesmo depois de tudo, revela a paz no seu rosto. O hino de Cuba ressoaria fortemente a 10 de Janeiro de 1929 em algum lugar do mundo, “.. Que morrer pela pátria é viver".
Dez factos curiosos sobre Mella
⦁ Filho de união extraconjugal entre Cecilia Magdalena Mac Portland e Nicanor Mella Brea, importante alfaiate da capital cubana.
⦁ Foi registado com o nome de Nicanor Mac Portland, visto que, como filho ilegítimo, era impossível para o pai registá-lo.
⦁ O seu avô paterno era Matías Ramón Mella, herói da independência do povo dominicano.
⦁ Em 1915, viaja para Nova Orleães, EUA, e alista-se no Exército alegando uma idade falsa. O pai envia a certidão de nascimento pela embaixada. Ele é expulso do exército e retorna a Cuba.
⦁ Foi aluno na Academia Newton, em Cuba, do poeta mexicano Salvador Díaz Mirón.
⦁ Em Abril de 1920, viajou para o México com o objectivo de ingressar na Escola Militar de San Jacinto, como o seu avô paterno.
⦁ Obtém o título de Bacharelato no Segundo Instituto de Ensino Ensañanza de Pinar del Río.
⦁ Nos seus artigos, usou os pseudónimos de Cuauhtémoc Zapata, Kim (El Machete) e Lord Mac Portland.
⦁ Quando foi assassinado, estava a preparar a expedição que o levaria do México a Cuba para se juntar à luta.
⦁ Era conhecido entre as mulheres como "O Tigre" pelo seu aspecto viril.
⦁ Foi registado com o nome de Nicanor Mac Portland, visto que, como filho ilegítimo, era impossível para o pai registá-lo.
⦁ O seu avô paterno era Matías Ramón Mella, herói da independência do povo dominicano.
⦁ Em 1915, viaja para Nova Orleães, EUA, e alista-se no Exército alegando uma idade falsa. O pai envia a certidão de nascimento pela embaixada. Ele é expulso do exército e retorna a Cuba.
⦁ Foi aluno na Academia Newton, em Cuba, do poeta mexicano Salvador Díaz Mirón.
⦁ Em Abril de 1920, viajou para o México com o objectivo de ingressar na Escola Militar de San Jacinto, como o seu avô paterno.
⦁ Obtém o título de Bacharelato no Segundo Instituto de Ensino Ensañanza de Pinar del Río.
⦁ Nos seus artigos, usou os pseudónimos de Cuauhtémoc Zapata, Kim (El Machete) e Lord Mac Portland.
⦁ Quando foi assassinado, estava a preparar a expedição que o levaria do México a Cuba para se juntar à luta.
⦁ Era conhecido entre as mulheres como "O Tigre" pelo seu aspecto viril.
Júlio Antonio Mella: “Artífice do tempo amanhecido”
Há vidas que são como a passagem dos cometas que, apesar da fugacidade, seu brilho todos os que veem. Se, ademais, a obra iniciada resiste aos vendavais do tempo e continua servindo a gerações posteriores, ratifica-se a afirmação de que, mesmo depois de morta uma pessoa pode continuar sendo útil.
Por Yuniel Romero, em Cubarte
O emblema da organização política da juventude cubana contém as imagens de três rostos de jovens inesquecíveis. O primeiro deles não pertenece, como os outros dois, a um jovem da gesta heroica com que Fidel conduziu o povo cubano à sua mais importante vitória. Trata-se da de um jovem que morreu assassinado trinta anos antes do triunfo revolucionário de 1º de janeiro de 1959. Ao morrer, ainda não tinha completado 26 anos de idade.
Quem era esse jovem e que razões há para que ocupe esse lugar destacado? Por que, em um pequeno parque encravado no lugar em que a rua de São Lázaro desemboca na ampla e histórica escadaria da Universidade de Havana há um busto dele, convertido em um singelo mausoléu em sua homenagem?
Talvez a resposta mais adequada seja: porque foi um precursor, porque foi um fundador, porque defendia, confiante, que qualquer tempo futuro seria melhor. Era um abandeirado da esperança. Um dos imprescindíveis.
Desde seus tempos de criança, teve que enfrentar difíceis circunstâncias sociais. Filho natural, como se dizia para designar as pessoas nascidas fora do casamento, de uma mulher que não era a esposa legal de seu pai, foi registrado no cartório com o nome do pai e o sobrenome da mãe. Os tortuosos caminos da vida o levaram, junto con seu irmão menor, a viver com o pai e sua esposa legítima, casamento do qual tinham nascido três filhas. E esta senhora, que se chamava Mercedes Bermúdez, dominicana como seu esposo Nicanor, recebeu os meninos como se fossem seus próprios filos. Que grandeza! Nicanor era alfaiate e filho do general Ramón Mella, que em 1844 proclamou a independência de seu país.
O neto do general Mella começaria a ser uma figura relevante a partir de seu ingresso na Universidad de Havana em setembro de 1921, aos 18 anos de idade. Ele era um grande desportista. Dizem os que o conheceram que era um homem alto, de mais de um metro e 80 de estatura e mais de 80 quilos. Praticava vários esportes: remo, corrida, natação, basquete, futebol. Integrou a equipe de remo da Universidade que ganhou a regata de Cienfuegos em 1921 e da qual conquistou medalhas de bronze e prata em 1921-1922.
Com seus companheiros atletas, formou um grupo de ação que denominou “os manicatos”, para enfrentar a corrupção na Universidade e opor-se aos abusos como as ações e vexames das calouradas das quais eram vítimas os que ingressavam na faculdade. A palavra manicato na linguagem dos índios caribes significa valente, decidido, esforçado. Conta-se também que a ele se deve a cor emblemática que distingue a Universidade de Havana, os caribes, no el mundo do esporte.
Insistem os que o conheceram que não fumava nem bebia, nem era viciado em jogos de azar; que sempre utilizava uma linguagem respeitosa e era muito cavalheiresco com as mulheres.
Combinava seu amor pelo esporte com a paixão pela leitura. Conta-se que foi um grande estudioso da história e da cultura greco-latina. O joven Mella se impressionou tanto com a história de Roma, em particular com as façanhas de Júlio César e Marco Antonio — que pronunciaria as palavras de despedida a seu chefe assassinado —, que Mella decidiu mudar seu nome, Nicanor, pelo de Julio Antonio, em homenagem aos dois ilustres romanos. Assim ficou o nome com que o conhecemos hoje: Júlio Antonio Mella.
Mas não seria a atividade desportiva precisamente a que faria o jovem Mella saltar para a posteridade. Foi sua atividade nas lutas sociais e políticas.
Relacionado com Carlos Baliño, Enrique José Varona e Emilio Roig de Leuchsenring, Mella foi descobrindo a profundidade do pensamento de José Martí, e se converteu em um martiano decidido. Claro que também estava a par do pensamento latino-americano mais progressista de sua época, como o argentino José Ingenieros — autor de As forças morais, ciência e educação, O homem medíocre, A simulação na luta pela vida e de um livro dedicado à triunfante Revolução de Outubro na Rússia — e o uruguaio José Enrique Rodó, autor, entre outras obras, de Ariel, então muito popular em Cuba.
As primeiras lutas de Mella, junto às já mencionadas dos “manicatos”, se vinculam à reforma universitária. Um ano depois de seu ingresso na Universidade — em novembro de 1922 —, fundou a revista Alma Mater, da qual foi gerente. Seu irmão Cecilio, um ano mais jovem, o ajudava com o trabalho da publicação. Alma Mater surgiu antes da criação da Federação Estudantil Universitária, da qual tambén foi fundador em 20 de dezembro de 1922.
Mella se converteu no mais importante líder estudantil e um orador que comovia, convencia e mobilizava seu auditório. Sua influência ultrapassava os limites da Universidade e se estendia aos estudantes do segundo grau. É muito bonito o que relata o então estudante da escola dos Irmãos Maristas, Raúl Roa García, de suas impressões sobre a personalidade de Mella, sobre o qual escreveria um artigo para a revista Bohemia dias antes do retorno de suas cinzas a Cuba.
Mella convocou o Primeiro Congresso Nacional Revolucionário de Estudantes, que se reuniu no Salão Nobre da Universidade de Havana de 15 a 25 de outubro de 1923. Entre os resultados políticos deste congresso se pode mencionar a condenação ao imperialismo, em particular o imperialismo norte-americano. Condenou-se também a ignominiosa Emenda Platt, saudou-se a Rússia Soviética, apoiou-se os movimentos de libertação da Ásia e África, se insistiu na necessidade de vincular os estudantes universitários com a classe operária e se decidiu pela criação da Universidade Popular “José Martí”, cujo funcionamento nas áreas da Universidade, pela reticência da direção do centro docente, teve que ser transferida a sedes de sindicatos.
Seria necessário esperar pelo triunfo da revolução cubana dirigida por Fidel para que a universidade fosse pintada de negro, de operário e de camponês, como diría o Che. A Universidade Popular contou entre seus profesores con figuras da estatura do poeta José Zacarías Tallet, o médico Gustavo Aldereguía e o poeta Rubén Martínez Villena, entre outros. Nesse congresso circulou outra revista criada por Mella, Juventud.
No ano seguinte, 1924, Mella, que dirigia a Confederação dos Estudantes de Cuba, foi um dos fundadores da Liga Anticlerical, não anti-religiosa, vale esclarecer, mas contrária ao uso da religião como instrumento de dominação política; e da seção cubana da Liga Anti-imperialista. Em meados desse ano, ingressou no Grupo Comunista de Havana. Nesse ano atracou no porto de Cárdenas o navio mercante soviético Vatslav Vorovski e Mella foi encarregado, com outros três companheiros, para que, secretamente, visitasse o navio, missão que foi cumprida com éxito. Também nesse ano, publicou o folheto “Cuba, um povo que nunca foi livre”.
Havia um membro do Comitê Central do Partido Comunista Mexicano, chamado Flores Magón, que estando em Cuba como representante da III Internacional (comunista) propôs que os grupos comunistas cubanos fizessem um congreso, o que veio a acontecer em 16 de agosto de 1925. Assim se fundou o primeiro Partido Comunista de Cuba e se elegeu seu primeiro Comitê Central. Entre esses fundadores estava Mella, que foi eleito secretário de organização. O congresso teve sua primeira sessão no local do Instituto Politécnico “Ariel”, que tinha sido fundado por Mella e Alfonso Bernal del Riesgo naquele mesmo ano. O Comitê Central se reuniria muitas vezes na Universidade de Havana.
Mella já era figura conhecida nacionalmente, não só nos meios estudantis, mas também operários e de trabalhadores rurais. Sua presença em Camaguey e Oriente testemunham a amplitude de seu raio de ação.
Em 20 de maio de 1925 ocupou a presidência da República Gerardo Machado. Desde cedo o governo de Machado assumiu caráter repressivo. Ele ilegalizou o Partido Comunista e a FEU e expulsou Mella da Universidade. Os direitos conquistados pelos estudantes em 1923 eram ameaçados. Havia agitação no estudantado. Em 26 de novembro de 1925, Mella falou aos estudantes na habitual tribuna do Pátio dos Lauréis. No dia seguinte foi preso. Foi seu último discurso em sua querida colina.
Em protesto por sua prisão arbitrária, Mella se declarou em greve de fome. Foram feitas gestões diretas com o próprio Machado para que o libertasse e este o ameaçou de morte. O respaldo popular à greve de fome que Mella fez durante 19 dias obrigou a sua liberação. Mas sua vida corria perigo. Decidiu-se enviá-lo ao exterior. Mella saiu em janeiro de 1926, sob o nome de Juan López, pelo porto de Cienfuegos no navio de carga “Comayagua”, com destino a Honduras. Passou por Honduras e Guatemala antes de chegar ao México, onde finalmente permaneceu.
Ali ele se incorporou ao Partido Comunista Mexicano e foi membro de seu Comitê Central. Trabalhou com a Liga Anti-imperialista das Américas e de quantas atividades importantes teve a seu alcance, entre elas o apoio a Augusto César Sandino em seu enfrentamento ao imperialismo na Nicarágua, e aos revolucionários venezuelanos, e a denúncia e condenação ao fascismo italiano e ao imperialismo ianque. Escreve em numerosos meios de imprensa tais como Cuba Libre, órgão da Associação dos Novos Emigrados Revolucionários Cubanos, fundada por Mella e Leonardo Fernández Sánchez no México em 1927, e no El Machete.
Em fevereiro de 1927 viajou a Bruxelas para participar do Congresso Mundial Contra a Opressão Colonial e o Imperialismo. Depois foi a Moscou e participou do congresso da Internacional Sindical Vermelha.
No México, como membro do Comitê Central do Partido Comunista, participava em todas as ações a favor da nacionalização do petróleo, a reforma agrária, as lutas dos mineiros. Mas sentia que seu dever prioritário era reincorporar-se à luta em seu país. Estava preparando uma expedição para regressar a Cuba e unir-se à luta armada quando, na companhia de Tina Modotti, sua companheira sentimental nos últimos quatro meses de sua vida, foi assassinado a tiros por esbirros a soldo do tirano Machado em 10 de janeiro de 1929. Conta-se que que suas últimas palavras foram: “Morro pela revolução!” O sonho de uma expedição que zarpasse do México para iniciar a luta armada e conquistar o triunfo da revolução popular só se concretizaría 27 anos depois, por outro destacado dirigente estudantil revolucionário, Fidel Castro Ruz, o novo Mella, como o qualificou o dirigente juvenil comunista cubano Flávio Bravo Pardo.
As cinzas de Mella não puderam ser repatriadas até um mês depois da derrubada da ditadura de Gerardo Machado, o “asno com garras”, como o batizou Rubén Martínez Villena. Foi em 29 de setembro de 1933. Na ocasião, Villena pronunciou estas palabras:
Camaradas: Aquí está, sim, não nesse montão de cinzas, mas neste formidável deslocamento de forças. Estamos aqui para tributar a homenagem merecida a Júlio Antonio Mella, inesquecível para nós, que entregou sua juventude, sua inteligência, todo o seu esforço e todo o esplendor de sua vida à causa dos pobres do mundo, dos explorados, dos humilhados… Mas não estamos aqui só para pagar esse tributo a seus méritos excepcionais. Estamos aqui, sobretudo, porque temos o dever de imitá-lo, de seguir seus impulsos, de vibrar ao calor de seu generoso coração revolucionário. Estamos aqui para isso, camaradas, para prestar-lhe dessa maneira a única homenagem que lhe teria sido grata: a de tornar boa a sua queda pela redenção dos oprimidos com nosso propósito de cair também se for necessário.
Mas Mella foi não só um grande organizador, o homem de ação, mas uma inteligência perspicaz que deixou em seus trabalhos profundas interpretações que merecem ser estudadas em um artigo à parte. Mella é o grande precursor da ação revolucionária do século 20 cubano. Ele é o vínculo histórico entre Martí e Fidel.
O nome de Mella foi dado à revista da Juventude Socialista cubana que, na luta clandestina contra a última tirania de Batista, e nos primeiros tempos do triunfo revolucionário de 1959, serviu de guia à juventude revolucionária cubana.
Neste 25 de março de 2013 (também um 25 de março desde terras dominicanas escrevia Martí em 1895 a carta de despedida a sua mãe), completam-se 110 anos do natalício de Julio Antonio Mella, ocasião propícia para a recordação emocionada e agradecida. Com o poeta Ángel Augier podemos dizer-lhe:
Artífice do tempo amanhecido,
todo o sangue de teu peito ferido
acudiu ao resplendor das bandeiras.
E nessa chama que incessante avança
teu coração se rompe em primaveras
para acender a terra de esperança.
Assista o vídeo em espanhol:
Cubarte/Cubadebate
Quem era esse jovem e que razões há para que ocupe esse lugar destacado? Por que, em um pequeno parque encravado no lugar em que a rua de São Lázaro desemboca na ampla e histórica escadaria da Universidade de Havana há um busto dele, convertido em um singelo mausoléu em sua homenagem?
Talvez a resposta mais adequada seja: porque foi um precursor, porque foi um fundador, porque defendia, confiante, que qualquer tempo futuro seria melhor. Era um abandeirado da esperança. Um dos imprescindíveis.
Desde seus tempos de criança, teve que enfrentar difíceis circunstâncias sociais. Filho natural, como se dizia para designar as pessoas nascidas fora do casamento, de uma mulher que não era a esposa legal de seu pai, foi registrado no cartório com o nome do pai e o sobrenome da mãe. Os tortuosos caminos da vida o levaram, junto con seu irmão menor, a viver com o pai e sua esposa legítima, casamento do qual tinham nascido três filhas. E esta senhora, que se chamava Mercedes Bermúdez, dominicana como seu esposo Nicanor, recebeu os meninos como se fossem seus próprios filos. Que grandeza! Nicanor era alfaiate e filho do general Ramón Mella, que em 1844 proclamou a independência de seu país.
O neto do general Mella começaria a ser uma figura relevante a partir de seu ingresso na Universidad de Havana em setembro de 1921, aos 18 anos de idade. Ele era um grande desportista. Dizem os que o conheceram que era um homem alto, de mais de um metro e 80 de estatura e mais de 80 quilos. Praticava vários esportes: remo, corrida, natação, basquete, futebol. Integrou a equipe de remo da Universidade que ganhou a regata de Cienfuegos em 1921 e da qual conquistou medalhas de bronze e prata em 1921-1922.
Com seus companheiros atletas, formou um grupo de ação que denominou “os manicatos”, para enfrentar a corrupção na Universidade e opor-se aos abusos como as ações e vexames das calouradas das quais eram vítimas os que ingressavam na faculdade. A palavra manicato na linguagem dos índios caribes significa valente, decidido, esforçado. Conta-se também que a ele se deve a cor emblemática que distingue a Universidade de Havana, os caribes, no el mundo do esporte.
Insistem os que o conheceram que não fumava nem bebia, nem era viciado em jogos de azar; que sempre utilizava uma linguagem respeitosa e era muito cavalheiresco com as mulheres.
Combinava seu amor pelo esporte com a paixão pela leitura. Conta-se que foi um grande estudioso da história e da cultura greco-latina. O joven Mella se impressionou tanto com a história de Roma, em particular com as façanhas de Júlio César e Marco Antonio — que pronunciaria as palavras de despedida a seu chefe assassinado —, que Mella decidiu mudar seu nome, Nicanor, pelo de Julio Antonio, em homenagem aos dois ilustres romanos. Assim ficou o nome com que o conhecemos hoje: Júlio Antonio Mella.
Mas não seria a atividade desportiva precisamente a que faria o jovem Mella saltar para a posteridade. Foi sua atividade nas lutas sociais e políticas.
Relacionado com Carlos Baliño, Enrique José Varona e Emilio Roig de Leuchsenring, Mella foi descobrindo a profundidade do pensamento de José Martí, e se converteu em um martiano decidido. Claro que também estava a par do pensamento latino-americano mais progressista de sua época, como o argentino José Ingenieros — autor de As forças morais, ciência e educação, O homem medíocre, A simulação na luta pela vida e de um livro dedicado à triunfante Revolução de Outubro na Rússia — e o uruguaio José Enrique Rodó, autor, entre outras obras, de Ariel, então muito popular em Cuba.
As primeiras lutas de Mella, junto às já mencionadas dos “manicatos”, se vinculam à reforma universitária. Um ano depois de seu ingresso na Universidade — em novembro de 1922 —, fundou a revista Alma Mater, da qual foi gerente. Seu irmão Cecilio, um ano mais jovem, o ajudava com o trabalho da publicação. Alma Mater surgiu antes da criação da Federação Estudantil Universitária, da qual tambén foi fundador em 20 de dezembro de 1922.
Mella se converteu no mais importante líder estudantil e um orador que comovia, convencia e mobilizava seu auditório. Sua influência ultrapassava os limites da Universidade e se estendia aos estudantes do segundo grau. É muito bonito o que relata o então estudante da escola dos Irmãos Maristas, Raúl Roa García, de suas impressões sobre a personalidade de Mella, sobre o qual escreveria um artigo para a revista Bohemia dias antes do retorno de suas cinzas a Cuba.
Mella convocou o Primeiro Congresso Nacional Revolucionário de Estudantes, que se reuniu no Salão Nobre da Universidade de Havana de 15 a 25 de outubro de 1923. Entre os resultados políticos deste congresso se pode mencionar a condenação ao imperialismo, em particular o imperialismo norte-americano. Condenou-se também a ignominiosa Emenda Platt, saudou-se a Rússia Soviética, apoiou-se os movimentos de libertação da Ásia e África, se insistiu na necessidade de vincular os estudantes universitários com a classe operária e se decidiu pela criação da Universidade Popular “José Martí”, cujo funcionamento nas áreas da Universidade, pela reticência da direção do centro docente, teve que ser transferida a sedes de sindicatos.
Seria necessário esperar pelo triunfo da revolução cubana dirigida por Fidel para que a universidade fosse pintada de negro, de operário e de camponês, como diría o Che. A Universidade Popular contou entre seus profesores con figuras da estatura do poeta José Zacarías Tallet, o médico Gustavo Aldereguía e o poeta Rubén Martínez Villena, entre outros. Nesse congresso circulou outra revista criada por Mella, Juventud.
No ano seguinte, 1924, Mella, que dirigia a Confederação dos Estudantes de Cuba, foi um dos fundadores da Liga Anticlerical, não anti-religiosa, vale esclarecer, mas contrária ao uso da religião como instrumento de dominação política; e da seção cubana da Liga Anti-imperialista. Em meados desse ano, ingressou no Grupo Comunista de Havana. Nesse ano atracou no porto de Cárdenas o navio mercante soviético Vatslav Vorovski e Mella foi encarregado, com outros três companheiros, para que, secretamente, visitasse o navio, missão que foi cumprida com éxito. Também nesse ano, publicou o folheto “Cuba, um povo que nunca foi livre”.
Havia um membro do Comitê Central do Partido Comunista Mexicano, chamado Flores Magón, que estando em Cuba como representante da III Internacional (comunista) propôs que os grupos comunistas cubanos fizessem um congreso, o que veio a acontecer em 16 de agosto de 1925. Assim se fundou o primeiro Partido Comunista de Cuba e se elegeu seu primeiro Comitê Central. Entre esses fundadores estava Mella, que foi eleito secretário de organização. O congresso teve sua primeira sessão no local do Instituto Politécnico “Ariel”, que tinha sido fundado por Mella e Alfonso Bernal del Riesgo naquele mesmo ano. O Comitê Central se reuniria muitas vezes na Universidade de Havana.
Mella já era figura conhecida nacionalmente, não só nos meios estudantis, mas também operários e de trabalhadores rurais. Sua presença em Camaguey e Oriente testemunham a amplitude de seu raio de ação.
Em 20 de maio de 1925 ocupou a presidência da República Gerardo Machado. Desde cedo o governo de Machado assumiu caráter repressivo. Ele ilegalizou o Partido Comunista e a FEU e expulsou Mella da Universidade. Os direitos conquistados pelos estudantes em 1923 eram ameaçados. Havia agitação no estudantado. Em 26 de novembro de 1925, Mella falou aos estudantes na habitual tribuna do Pátio dos Lauréis. No dia seguinte foi preso. Foi seu último discurso em sua querida colina.
Em protesto por sua prisão arbitrária, Mella se declarou em greve de fome. Foram feitas gestões diretas com o próprio Machado para que o libertasse e este o ameaçou de morte. O respaldo popular à greve de fome que Mella fez durante 19 dias obrigou a sua liberação. Mas sua vida corria perigo. Decidiu-se enviá-lo ao exterior. Mella saiu em janeiro de 1926, sob o nome de Juan López, pelo porto de Cienfuegos no navio de carga “Comayagua”, com destino a Honduras. Passou por Honduras e Guatemala antes de chegar ao México, onde finalmente permaneceu.
Ali ele se incorporou ao Partido Comunista Mexicano e foi membro de seu Comitê Central. Trabalhou com a Liga Anti-imperialista das Américas e de quantas atividades importantes teve a seu alcance, entre elas o apoio a Augusto César Sandino em seu enfrentamento ao imperialismo na Nicarágua, e aos revolucionários venezuelanos, e a denúncia e condenação ao fascismo italiano e ao imperialismo ianque. Escreve em numerosos meios de imprensa tais como Cuba Libre, órgão da Associação dos Novos Emigrados Revolucionários Cubanos, fundada por Mella e Leonardo Fernández Sánchez no México em 1927, e no El Machete.
Em fevereiro de 1927 viajou a Bruxelas para participar do Congresso Mundial Contra a Opressão Colonial e o Imperialismo. Depois foi a Moscou e participou do congresso da Internacional Sindical Vermelha.
No México, como membro do Comitê Central do Partido Comunista, participava em todas as ações a favor da nacionalização do petróleo, a reforma agrária, as lutas dos mineiros. Mas sentia que seu dever prioritário era reincorporar-se à luta em seu país. Estava preparando uma expedição para regressar a Cuba e unir-se à luta armada quando, na companhia de Tina Modotti, sua companheira sentimental nos últimos quatro meses de sua vida, foi assassinado a tiros por esbirros a soldo do tirano Machado em 10 de janeiro de 1929. Conta-se que que suas últimas palavras foram: “Morro pela revolução!” O sonho de uma expedição que zarpasse do México para iniciar a luta armada e conquistar o triunfo da revolução popular só se concretizaría 27 anos depois, por outro destacado dirigente estudantil revolucionário, Fidel Castro Ruz, o novo Mella, como o qualificou o dirigente juvenil comunista cubano Flávio Bravo Pardo.
As cinzas de Mella não puderam ser repatriadas até um mês depois da derrubada da ditadura de Gerardo Machado, o “asno com garras”, como o batizou Rubén Martínez Villena. Foi em 29 de setembro de 1933. Na ocasião, Villena pronunciou estas palabras:
Camaradas: Aquí está, sim, não nesse montão de cinzas, mas neste formidável deslocamento de forças. Estamos aqui para tributar a homenagem merecida a Júlio Antonio Mella, inesquecível para nós, que entregou sua juventude, sua inteligência, todo o seu esforço e todo o esplendor de sua vida à causa dos pobres do mundo, dos explorados, dos humilhados… Mas não estamos aqui só para pagar esse tributo a seus méritos excepcionais. Estamos aqui, sobretudo, porque temos o dever de imitá-lo, de seguir seus impulsos, de vibrar ao calor de seu generoso coração revolucionário. Estamos aqui para isso, camaradas, para prestar-lhe dessa maneira a única homenagem que lhe teria sido grata: a de tornar boa a sua queda pela redenção dos oprimidos com nosso propósito de cair também se for necessário.
Mas Mella foi não só um grande organizador, o homem de ação, mas uma inteligência perspicaz que deixou em seus trabalhos profundas interpretações que merecem ser estudadas em um artigo à parte. Mella é o grande precursor da ação revolucionária do século 20 cubano. Ele é o vínculo histórico entre Martí e Fidel.
O nome de Mella foi dado à revista da Juventude Socialista cubana que, na luta clandestina contra a última tirania de Batista, e nos primeiros tempos do triunfo revolucionário de 1959, serviu de guia à juventude revolucionária cubana.
Neste 25 de março de 2013 (também um 25 de março desde terras dominicanas escrevia Martí em 1895 a carta de despedida a sua mãe), completam-se 110 anos do natalício de Julio Antonio Mella, ocasião propícia para a recordação emocionada e agradecida. Com o poeta Ángel Augier podemos dizer-lhe:
Artífice do tempo amanhecido,
todo o sangue de teu peito ferido
acudiu ao resplendor das bandeiras.
E nessa chama que incessante avança
teu coração se rompe em primaveras
para acender a terra de esperança.
Cubarte/Cubadebate
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