O DN de 13 de Agosto relata que Passos Coelho, na festa do PSD no Pontal, terá perguntado à assistência: “O que é que vai acontecer ao país seguro que temos sido se se mantiver esta possibilidade de qualquer um viver em Portugal?” Não há notícia da resposta dos militantes. A estupidez caiu no vazio.
Trata-se de uma afirmação estúpida, a vários títulos. Portugal não está sob ameaça de uma invasão de cidadãos estrangeiros que aqui pretendem aportar e instalar-se, não existem manifestações tensas resultantes de problemas de xenofobia e de racismo por parte dos portugueses. É uma estupidez política clamar contra uma ameaça que os cidadãos não sentem. É uma estupidez embarcar na onda de xenofobia e o racismo apenas porque estão na moda política no dito primeiro mundo, o mundo desenvolvido, porque justificaram a vitória de Trump, o Brexit, os êxitos eleitorais da Frente Nacional em França e a subida eleitoral de partidos ou movimentos extremistas pela Europa, da Holanda à Hungria, à Polónia e à Alemanha.
Passos Coelho quis aproveitar uma onda, mas essa onda é a da estupidez. A xenofobia e a sua adjacência do racismo, são manifestações de dois sentimentos que as sociedades mais cedo ou mais tarde acabam por rejeitar nos políticos que elegem: o medo e a cobardia. A xenofobia e o racismo que estão por detrás da crítica de Passos Coelho e, já agora, na argumentação política que conduziu ao Brexit e na propaganda de Trump, representam o medo do outro, o medo do exterior, refletem um sinal de fraqueza. Mas são também uma manifestação de medo de si próprios, o medo interior e a incapacidade de o vencer, de competir, um sentimento que tem um nome: chama-se cobardia. Passos Coelho assumiu-se como um político medroso e cobarde, como o são Trump, os tenores do Brexit, ou Le Pen.
Num livro, que julgo não estar traduzido em português, «L’ Aventure ambiguë», o autor, Cheikh Hamidou Kane, do Senegal, escreveu a propósito do modo como os africanos e os europeus se devem relacionar após as independências das antigas colónias: “ Não tivemos o mesmo passado, mas teremos, rigorosamente, o mesmo futuro” e, mais adiante: “Findou o tempo dos destinos singulares. O fim desse mundo chegou para todos nós porque mais ninguém poderá viver preocupado somente com a sua própria e exclusiva preservação.”
Passos Coelho prefere o isolamento dos muros de Trump ou das fugas do Brexit, uma persistente estupidez, coerente porque segue a de Durão Barroso e Paulo Portas, quando acompanharam Bush e Blair na catastrófica e eminentemente estúpida invasão do Iraque, da qual nenhum dos atores saiu com honra, e só as companhias petrolíferas e os fornecedores de exércitos privados obtiveram assinaláveis proveitos!
A afirmação de Passos Coelho não chega a merecer critica por ser xenófoba ou racista, mas por ser uma estupidez, sinal de pouco siso e discernimento; e uma parvoíce, isto é, o ato de alguém parvo, no sentido de pequeno.
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