Só? Não! Porquê?
O Governo decidiu aumentar o preço dos transportes públicos em 1,5 por cento. E logo sublinhou: só 1,5 por cento, que é a taxa prevista de inflação para 2017. E aquele «só», ali colocado para contrastar com as práticas do anterior governo, quer dar a entender estarmos perante a inversão dum caminho, uma mudança de rumo face a políticas anteriores, ou quer simular uma certa naturalidade, afinal é só a taxa de inflação (quando nas empresas os trabalhadores exigirem os aumentos salariais de 2017 veremos como Governo, patrões e comunicação social deixarão de considerar naturais quaisquer aumentos).
Ora este aumento de preços não é mais do que o consolidar dos aumentos brutais impostos pelo anterior governo. Em 2017, os passes e bilhetes estarão 25 por cento mais caros do que em 2011 para a generalidade da população e quase 100 por cento mais caros para os reformados e estudantes (pelo efeito duplo do aumento do preço e da redução do desconto). Mas nem os salários (nem dos que produzem nem dos que utilizam o serviço) subiram 25 por cento nem as pensões subiram 100 por cento, antes pelo contrário!
Consequência destes aumentos brutais e das não menos brutais reduções na oferta, milhões de passageiros abandonaram o sistema e os transportes públicos degradaram-se, bem como o acesso das populações à mobilidade.
Ora, como o PCP defendeu, a única solução é uma redução significativa do preço dos bilhetes e dos passes e a reposição dos descontos de 50 por cento para reformados, jovens e estudantes. Nada justifica a manutenção do actual nível dos preços, que são um obstáculo à socialização dos transportes públicos.
E se mal andou o Governo quando tomou esta opção de consolidar os aumentos decretados pelo governo PSD/CDS, pior ficou quando o fez sem cumprir sequer os procedimentos legais exigíveis, nomeadamente de aviso prévio aos utentes e de articulação com outras entidades. O Governo quis falar sem resposta, para que aquele seu «só» entrasse casa a dentro, e por lá andasse com naturalidade até à data da compra do passe, e nunca corresse o risco de ser atropelado por todos os «porquês» que utentes, trabalhadores e autarquias iriam levantar de imediato. Mas o protesto e a luta são inevitáveis. E necessários.
Manuel Gouveia
www.avante.pt
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