Lembra Jerónimo de Sousa que na campanha eleitoral Marcelo "partiu com quilómetros de avanço", referência óbvia à sua notoriedade publica, nomeadamente como comentador dominical das TVs, mas também por ter sido levado ao colo pelos donos da Comunicação Social, que nesta campanha foram os seus mais dedicados e decisivos apoiantes.
Mas Marcelo também partiu para esta campanha à Presidência da República com quilómetros de atraso: os 38% da direita nas legislativas de Outubro seriam noutras condições um obstáculo inultrapassável, mesmo com todos os quilómetros de avanço.
Aliás, mesmo os quilómetros de avanço deveriam ter sido usados contra Marcelo (só no que ele disse ao longo dos últimos 4 anos nas homilias dominicais havia corda para "enforcar" um batalhão), não só colando-o irremediavelmente à direita que "ganhou" com 38%, mas também apresentando-o como o candidato a novo líder da Direita derrotada e decapitada em Outubro.
Considera o Comité Central do PCP que o resultado obtido por Marcelo, 52%, "comprova a real possibilidade (...) para ser derrotado se todos se tivessem verdadeiramente envolvido neste objectivo", e penso estar aqui o busílis da questão.
A incapacidade de apresentação dum candidato da esquerda, a bizarria da multiplicação de candidaturas para "fixar o eleitorado", a falta de comparência do PS, permitiram inclusive a Marcelo fazer da sua campanha um agradável passeio a caminho de Belém.
Derrotada e decapitada em Outubro, a Direita tem agora em Belém o líder que irá tentar fazer esquecer a devastação Pafista e reconstituir a direita numa versão menos agressiva, numa direita que aceite que a sua única hipótese de, a médio prazo, voltar ao poder é em aliança com o PS.
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