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domingo, 31 de janeiro de 2016

Tudo é feito de mudança

Baptista Bastos





As eleições presidenciais forneceram elementos de reflexão sobre a erosão a que os partidos tradicionais estão seriamente ameaçados, e que o "sistema" ameaça entrar em colapso, talvez mais cedo do que se julga. Podemos, acaso, aferir que a espectacular ascensão do Bloco de Esquerda, sem ser um epifenómeno, significará mais para o futuro, atendendo que o PCP, ainda com grande influência social e sindical, está numa linha evasiva. Muitos militantes desejariam alterações; muitos outros desacordam dessa alteração, que talvez fosse fatal para o partido, cuja história está intimamente ligada não só à Resistência como às modificações registadas na sociedade portuguesa, nos últimos 40 anos.

Está tudo em mudança, até a própria concepção da existência. A velha sedução que os mais novos tinham pela luta política, impulsionados pelo sonho de fazer do mundo um local decente, deixou de despertar esse exaltante entusiasmo. Digo-o com pesar, mas sei do que falo. E lembro o que o Papa Francisco disse sobre os malefícios do capitalismo (causa das próprias doenças espirituais), a ganância e a desumanização que provoca.

As sociedades estão em evolução, para o mal e para o bem. A conjugação de esforços, alguns bem contrafeitos, entre partidos opostos e até antagónicos, registada em Portugal, e que levou, legitimamente, o PS ao poder, é um sinal poderoso dos movimentos sociais e, bem entendido, culturais, que atravessa a nação. O Bloco de Esquerda corresponde a essa necessidade de evolução, que varre toda a Europa. E os questionamentos feitos à União Europeia, e a falência da tão apregoada solidariedade entre países, constituem um afrontamento com o próprio capitalismo. Porque, na realidade, o que está em questão é a própria natureza predatória do capitalismo, tantas vezes posta em causa nos textos do Papa, e veementemente criticada por aqueles que vêem no "sistema" a decadência inexorável de um modo de viver e de um tipo de civilização.

Parece ainda haver resquícios de temor quando se fala ou se critica o capitalismo. A própria Igreja portuguesa, com raríssimas excepções, tem sido omissa na relação com o ideário do Papa. Continuam, nos templos católicos, a mesma reverência supersticiosa e a mesma obediência apavorada que fizeram fé nas camadas mais ignaras da população. O meu profundo respeito pelos crentes começa na minha própria família e nas relações de estima e de amizade que mantenho com dignitários católicos. Não me venham com essa do ateísmo ou do comunismo: já não cola, mas pegou durante décadas miseráveis e dolorosas.

A falta de fé, em largas camadas da população mais jovem, deve-se à hierarquia da própria Igreja, que não estimula a crítica, pelo contrário, e prega a obediência sem sentido. As mudanças substanciais que ocorrem um pouco por toda a parte erguem-se à revelia da hierarquia, e talvez daí decorra o afastamento registado.

As últimas eleições fornecem amplos motivos de reflexão, que não podem nem devem limitar-se ao acto circunstancial. Há tempos, Jorge Coelho, o melhor e mais apto comentador daquela trapalhada chamada Quadratura do Círculo, chamava a atenção para o facto de as coisas, o mundo e os homens estarem a ser contestados. Quando cito Jorge Coelho é, de facto, para vulgarizar Pacheco Pereira, que apenas recita o breviário, com ar pedante e vácuo; e para nomear um António Lobo Xavier, a nulidade das nulidades, imagem devolvida do pipi dos anos 50 do passado. Um dia destes direi mais. Até lá, Dilecto, saúde e fantasia.

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