por Jorge Cadima
"A crise não foi, seguramente, para todos. Não só não houve “sacrifícios repartidos”, como a crise do capitalismo foi usada para promover uma autêntica pilhagem de classe que engordou muito o grande capital à custa dos povos. ""Os orçamentos do Estado são usados para salvar os banqueiros (o Banif é o mais recente exemplo no nosso País), mas os banqueiros nem sequer pagam impostos para financiar os orçamentos do Estado. O Jornal de Negócios online publicou (12.12.16) uma notícia sobre o nosso País com o título «As 1000 famílias que mandam nisto tudo (e não pagam impostos)». Não é um problema só nosso. A Reuters noticiou (22.12.15) que «Sete dos maiores bancos de investimento que operam em Londres pagaram poucos ou nenhuns impostos na Grã-Bretanha no ano passado».
"Conscientes de que uma nova ronda de «austeridade» para os trabalhadores e povos e «maná do céu» para os multimilionários não é compatível com a democracia, as liberdades e a paz, sectores importantes da classe dominante preparam a via da repressão, do autoritarismo e da guerra. Para os trabalhadores e povos não há outra opção, senão preparar-se para o embate."
O ano começou com uma nova crise bolsista mundial. Apesar das
flutuações, é claro que estamos perante uma nova convulsão do sistema
financeiro internacional. Há um facto incontornável: as políticas de
miséria para os povos, mas de subsídios para o grande capital financeiro
(como os chamados programas de Quantitative Easing – QE que o banco
central dos EUA procura agora reduzir), promovidas após 2008, não
resolveram os problemas de fundo do sistema capitalista mundial:
agravaram as dívidas e as bolhas especulativas, sem redinamizar a
economia produtiva.
Mas o capitalismo mundial já não funciona sem essas injeções de dinheiro
fácil na veia. William White, ex-economista-chefe do BIS (o «banco dos
banqueiros») e actual figura de destaque na OCDE é claro: «A situação
hoje é pior do que era em 2007. Já foram usadas praticamente todas as
nossas munições macro-econômicas. […] As dívidas continuaram a
avolumar-se durante os últimos oito anos e alcançaram níveis tais em
todo o mundo que se tornaram uma fonte séria de problemas. Tornar-se-á
óbvio na próxima recessão que muitas destas dívidas não serão [pagas] e
isto será pouco confortável para muita gente que pensa que tem bens com
valor» (Telegraph online, 19.1.16). O jornalista que obteve estas
declarações na véspera da abertura do recente Fórum Econômico Mundial de
Davos acrescenta que o «QE e as políticas de dinheiro fácil da Reserva
Federal dos EUA e seus congêneres» são uma espécie de
«tóxico-dependência», em que se gasta hoje aquilo que não se possui, mas
que «acaba por perder efeito» e o dia chega em que «não há dinheiro
para gastar amanhã».
«Dinheiro fácil» só existiu para os grandes banqueiros e capitalistas.
Na semana passada (18.1.16), a organização de caridade inglesa Oxfam
publicou um relatório com o título «Uma economia para os 1%». Cita o
gigante financeiro Credit Suisse para afirmar que os 1% mais ricos detêm
hoje mais riqueza do que os restantes 99% da população mundial.
A Oxfam acrescenta outros números impressionantes: em 2015, 62
indivíduos possuem a mesma riqueza que 3,6 mil milhões de pessoas
(metade da população do planeta). Desde 2010, a riqueza destes 62
multi-milionários aumentou 44%, enquanto que para a metade mais pobre da
Humanidade se verificou uma quebra de 41%. A crise não foi,
seguramente, para todos. Não só não houve “sacrifícios repartidos”, como
a crise do capitalismo foi usada para promover uma autêntica pilhagem
de classe que engordou muito o grande capital à custa dos povos.
Os orçamentos do Estado são usados para salvar os banqueiros (o Banif é o
mais recente exemplo no nosso País), mas os banqueiros nem sequer pagam
impostos para financiar os orçamentos do Estado. O Jornal de Negócios
online publicou (12.12.16) uma notícia sobre o nosso País com o título
«As 1000 famílias que mandam nisto tudo (e não pagam impostos)». Não é
um problema só nosso. A Reuters noticiou (22.12.15) que «Sete dos
maiores bancos de investimento que operam em Londres pagaram poucos ou
nenhuns impostos na Grã-Bretanha no ano passado». Os sete referidos
gigantes financeiros tiveram em 2014 lucros de 5,3 mil milhões de
dólares naquele país, mas pagaram de imposto apenas 31 milhões, ou seja,
menos de 0,006% dos seus lucros. Cinco dos sete nem pagaram um penny.
Quem esteja à espera que o problema se resolva com «mais regulação» ou
«mais Europa» bem pode esperar sentado: entre os sete mega-caloteiros
encontra-se a Goldman Sachs, de onde saiu o presidente do Banco Central
Europeu, Mario Draghi.
A nova explosão de crise em 2016 vai agravar todas as já agudíssimas
contradições no seio do capitalismo mundial. Conscientes de que uma nova
ronda de «austeridade» para os trabalhadores e povos e «maná do céu»
para os multimilionários não é compatível com a democracia, as
liberdades e a paz, sectores importantes da classe dominante preparam
a via da repressão, do autoritarismo e da guerra. Para os trabalhadores
e povos não há outra opção, senão preparar-se para o embate.
Fonte: Avante
Mafarrico Vermelho
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