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segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

Documento oficioso distribuído pelo governo grego no fim da reunião do Eurogrupo

Documento oficioso distribuído pelo governo grego no fim da reunião do Eurogrupo

Manifestação na Grécia
Comentário sobre o acordo na reunião de emergência do Eurogrupo

1. O dia de hoje marca uma viragem para a Grécia. Negociações significam dar luta sem recuar no mandato popular recebido. Ficou provado que podia ter acontecido uma negociação ao longo destes anos e que a Grécia não está isolada, não caminha em direção ao precipício e não continuará com o Memorando.

2. O plano para encurralar o governo Grego até 28 de fevereiro foi derrubado. O plano estratégico fundamental para este período temporal (4 meses), no quadro de um acordo intermédio que nos dará a possibilidade de negociar, foi bem sucedido.

3. As tentativas de chantagem das últimas 24 horas deram em nada. O pedido para uma extensão do acordo de empréstimo acabou por ser aceite em princípio, e constitui a base para as próximas decisões e para o que aconteça a seguir.

4. As medidas de recessão a que o anterior governo estava vinculado foram derrubadas (o email de Hardouvelis sobre os cortes nas pensões, aumentos de impostos, etc.), bem como os acordos sobre os excedentes primários exorbitantes.

5. O edifício extra-institucional da TROIKA, que estava a dar ordens e se tornou num superpoder, acabou.

6. O novo governo Grego apresentará a sua própria lista de reformas para a próxima fase intermédia, propondo aquelas que constituam um ponto de encontro.

7. O governo Grego e a Europa irão tomar o tempo necessário para que comece a negociação tendo em vista a transição final, de políticas de recessão, desemprego e insegurança social para políticas de crescimento, emprego e justiça social.

8. O governo Grego prosseguirá com lucidez a sua governação, tendo ao seu lado a sociedade Grega, e continuará a negociação até ao acordo final no verão.

***«»***
Em dois textos anteriores, assinalei que Grécia não saiu derrotada neste duro embate com a Alemanha e com as instâncias da União Europeia. Pelo contrário, conseguiu impor a aceitação do princípio de que o governo não irá implementar mais nenhuma medida de austeridade, o que irá refletir-se na queda do saldo orçamental primário, em 2015. As medidas de austeridade, que o governo anterior já tinha programado, ficam, assim, sem efeito É certo que a Grécia abdicou de algumas exigências iniciais, mas isso não é motivo para alimentar as críticas, que já começaram a surgir dentro do próprio Syrisa. Este não é o momento da divisão. Tem de ser um momento de grande unidade, à volta do governo de Alexis Tsipras, para lhe dar força e confiança para os novos embates com a UE, nos próximos quatro meses.
A uma amiga que me interpelou sobre este asunto, respondi: “Eu também fiquei desiludido, assim como todos os portugueses que estão solidários com o martirizado povo grego. Mas os governantes têm de assumir o realismo das situações. E, na Grécia, a situação seria dramática se o governo, em Março, não tivesse dinheiro para pagar aos funcionários públicos. Foi uma negociação muito dura, de um contra todos, mas o ministro das Finanças grego, além da sua tenacidade e determinação, revelou qualidades ímpares de negociador. Perante a opinião pública europeia, ele ficou bem visto. OEurogrupo e a Merkel, é que não”.
Pela primeira vez, acontece uma rebelião dentro da União Europeia. Pela primeira vez, um pequeno país, inferiorizado e humilhado por uma crise dramática, aparece a desafiar a toda  poderosa Alemanha e a sua chanceler. Pela primeira vez, foi possível ver, à vista desarmada, que a União Europeia não é um espaço de solidariedade, mas um meio de negócio encapotado, destinado a favorecer os seus países mais ricos, principalmente a Alemanha, à custa dos países mais pobres, através do traiçoeiro processo de endividamento induzido. E este glorioso feito foi protagonizado pelo governo grego.
Para encontrarmos algo de semelhante, será necessário recuar até à década de sessenta, do século passado, quando o General De Gaule, num gesto patriótico, para marcar a dignidade da França, bateu estrondosamente com a porta aos americanos, decretando a saída da França da estrutura militar da NATO.
Eu só espero que, a breve prazo, Portugal também se levante em peso, para também poder dizer-se que recuperámos a dignidade e a plena soberania. 


alpendredalua.blogspot.pt

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