Era descendente de açorianos e foi um dos melhores jóqueis de sempre nos Estados Unidos. Mas, antes disso, morreu. Depois ressuscitou e voltou a montar. Tornou-se uma lenda: o “Pimenteiro Português".
Um filho de emigrantes açorianos tornou-se um dos melhores jóqueis de sempre nos Estados Unidos. Mas, antes de isso acontecer, morreu. O seu óbito foi declarado na sequência de um acidente durante uma corrida, quando tinha apenas 19 anos. Já na morgue, recebeu uma injecção de adrenalina directamente no coração e fugiu para o hipódromo, disposto a saltar outra vez para cima de um cavalo. A partir daí, o “Pimenteiro Português” tornou-se uma lenda. Morreu, pela segunda e definitiva vez, há vinte anos.
A morte na pista
Era um dos jóqueis “mais duros” de sempre e chamava-se Ralph Neves – mas não foi esse nome que o fez famoso. Era um dos jóqueis “mais corajosos” de sempre e tinha a alcunha “Príncipe dos Ossos Partidos” – mas também não era assim que o conheciam. O “duro” Ralph Neves, o “corajoso” “Príncipe dos Ossos Partidos”, era tratado pelos jornalistas, pelos fãs e pelos adversários por “Pimenteiro Português”. “Pimenteiro”, porque parecia ter fogo e fúria nos pés, na língua e no chicote; “Português”, porque era filho de emigrantes açorianos.
A lenda começou com um epitáfio. A 8 de Maio de 1936, o “Pimenteiro Português” tinha apenas 19 anos quando entrou numa competição no mítico hipódromo de Bay Meadows. Não estava ali para perder tempo nem para acumular experiência – estava ali para ganhar. Por causa do prémio: 500 dólares em dinheiro e um relógio em ouro. Mas também por causa da pessoa que iria entregar o prémio: Bing Crosby, um dos cantores e actores mais conhecidos da época, tinha ido a São Francisco só para apertar a mão suada do vencedor.
A gravidade do que tinha acontecido tornou-se tão evidente que o médico oficial da competição não foi o único a correr na direcção do “Pimenteiro Português”: dois outros clínicos saltaram das bancadas. O que viram era triplamente preocupante. Um: o corpo não mexia. Dois: os pulmões não respiravam. Três: o coração não batia.
Na quarta corrida, as coisas estavam a correr bem a Ralph Neves. Ia em quarto lugar, mas seguia colado aos três da frente, numa perseguição frenética. Quando um dos cavalos partiu uma perna, o “Pimenteiro Português” estava, como acontece em todas as tragédias, no local errado, à hora errada e, mais importante do que isso, a cavalgar a uma velocidade erradíssima. A sucessão de acontecimentos foi clássica: o acidente provocou uma queda; a queda instalou uma confusão; a confusão pregou um susto à égua de Neves; o susto levou a uma paragem súbita; e a paragem súbita projectou o jóquei no chão. Deitado na pista, sem protecção e sem fuga, Ralph Neves foi pisado por vários cavalos.
A gravidade do que tinha acontecido tornou-se tão evidente que o médico oficial da competição não foi o único a correr na direcção do “Pimenteiro Português”: dois outros clínicos que estavam a assistir à prova saltaram das bancadas e dirigiram-se freneticamente para o local da queda. O que viram era triplamente preocupante. Um: o corpo não mexia. Dois: os pulmões não respiravam. Três: o coração não batia.
Procuraram fracturas, para explicar o primeiro problema. Fizeram-lhe respiração boca-a-boca, para resolver o segundo. E aplicaram-lhe massagens cardíacas, para reverter o terceiro. Falhou tudo. Ao fim de quinze minutos destes fracassos sucessivos, levaram-no para a enfermaria da pista e deitaram-no numa mesa. Quando uma ambulância chegou ao hospital com o corpo já não havia nada a fazer, excepto um elogio fúnebre. Pelo sistema de som do hipódromo, uma voz anunciou: “Por favor, juntem-se a mim numa oração silenciosa em memória de Ralph Neves. O ‘Pimenteiro Português’ foi declarado morto há poucos minutos.”
No hospital, seguiram-se os procedimentos que eram habitualmente dispensados aos cadáveres. Os enfermeiros tiraram uma das botas do jóquei, colocaram-lhe um cartão de identificação num dedo do pé, cobriram o corpo com um lençol e enviaram-no para a morgue.
A ressurreição na morgue
Isto parecia o fim – mas, surpreendentemente, não era o fim. Neves tinha combinado ir jantar nessa noite com Horace Wald, um médico amigo. Quando chegou à pista e percebeu o que tinha acontecido, Horace foi directo para o hospital. Entrou na morgue para ver Ralph pela última vez e aproximou-se do corpo. Não se sabe se o que se seguiu foi um acto de medicina ou de fé. Parecendo-lhe sentir ainda um pulso fraco, o médico abriu a sua mala, tirou uma seringa, encheu-a com adrenalina e, com um gesto de força, injectou-a directamente no coração do “Pimenteiro Português”.
Os fãs de “Pulp Fiction” não se devem surpreender com o que aconteceu a seguir. Tomado por uma súbita urgência, Ralph Neves levantou-se e começou a correr. Não tinha a camisa, mas ainda tinha as calças; não tinha uma bota, mas ainda tinha a outra. Foi assim, com sangue seco por todo o corpo, que acelerou para fora do hospital. Atrás dele, numa cena de comédia, vários médicos e enfermeiros tentavam apanhá-lo.
Não se sabe se o que se seguiu foi um acto de medicina ou de fé. Parecendo-lhe sentir ainda um pulso fraco, o médico abriu a sua mala, tirou uma seringa, encheu-a com adrenalina e, com um gesto de força, injectou-a directamente no coração do “Pimenteiro Português”.
Cada vez mais rápido, seguiu pela rua escapando aos seus perseguidores e tomou a direcção da estação de comboios. Quando passou por uma paragem de táxis viu que ao volante de um dos carros estava outro seu amigo, conhecido pelo improvável e patusco nome de “Joe Português”. Entrou no automóvel e pediu-lhe que o levasse de volta ao hipódromo. Com esta preciosa ajuda de quatro rodas e de um motor, Ralph deixou irremediavelmente para trás todos aqueles – e eram muitos – que, já sem forças e sem fôlego, ainda o tentavam apanhar para o trazer de volta ao hospital.
Foi finalmente a correr que se aproximou do exacto local onde horas antes tinha caído do cavalo. Aí, a corrida acabou: com um afinado timing teatral, o jóquei parou e desmaiou.
Quando chegou a Bay Meadows, o “Pimenteiro Português” não estava mais calmo. Tinha entrado no táxi a correr – e foi a correr que saiu do táxi. Foi também a correr que passou a porta de entrada, levando a que algumas pessoas pensassem estar a ver um fantasma. Foi ainda a correr que entrou na sala reservada aos jóqueis, provocando susto e espanto nos seus colegas, que estavam a recolher donativos para a sua família enlutada. Foi mais uma vez a correr que voltou a sair da sala, percorrendo os corredores do hipódromo. Foi sempre a correr que saltou para a pista, arrastando atrás de si uma pequena multidão que o tentava parar (anos mais tarde, Ralph Neves disse: “Acho que, a dada altura, toda a gente naquela maldita pista estava atrás de mim”). Foi finalmente a correr que se aproximou do exacto local onde horas antes tinha caído do cavalo. Aí, a corrida acabou: com um afinado timing teatral, o jóquei parou e desmaiou.
Ao recuperar os sentidos, o “Pimenteiro Português” mantinha intacta a disposição de competir na prova que ia começar em breve. Sucede porém que, depois de o analisarem para se certificarem de que não iam ter duas mortes da mesma pessoa no mesmo dia, os médicos proibiram-no de se pôr em cima de um cavalo. Mas fizeram uma concessão: desde que repousasse, poderia voltar para a pista na manhã seguinte.
O título de um dos jornais da manhã seguinte misturava admiração e estupefacção: “Declarado Morto em Queda, Nega Tudo”.
Quando, depois de uma noite de descanso, saltou novamente para uma sela, Ralph Neves percebeu que fora alvo de uma transferência mórbida: alguns jornais tinham-no já passado das páginas do desporto para as da necrologia, dando aos leitores todos os detalhes sobre a sua comovente morte. Com teimosia, o “Pimenteiro Português” iria forçá-los a voltar atrás. Nesse dia, acabou todas as corridas em segundo ou terceiro lugar, o que lhe permitiu ficar em primeiro na classificação geral. Bing Crosby entregou-lhe os 500 dólares e o relógio em ouro. O título de um dos jornais da manhã seguinte misturava admiração e estupefacção: “Declarado Morto em Queda, Nega Tudo”.
O maldito sangue “port-a-ghee”
A morte e ressurreição do “Pimenteiro Português” foram tão rápidas e tão confusas que sobrevive mais do que uma versão dos acontecimentos. Há variações, por exemplo, sobre a identidade do médico que lhe deu a injecção de adrenalina no coração, sobre o local onde ele despertou ou sobre o percurso de Ralph Neves ao longo daquelas horas. Mas o essencial desta história, que foi contada em vários jornais da época, mantém-se.
Em 2001, Ralph Neves aterrou nas páginas de “Seabiscuit”, o bestseller de Laura Hillenbrand que se transformaria num filme e ganharia seis óscares, incluindo o de melhor filme (Hillenbrand foi também autora de “Invencível”, agora adaptado ao cinema por Angelina Jolie e um dos livros que esteve mais tempo nos tops do “The New York Times” desde que eles existem). Mas este pequeno e espectacular episódio não esgota a atribulada vida do “Pimenteiro Português”.
Quando Ralph Neves nasceu em 1916 os seus pais já eram emigrantes. Tinham saído poucos anos antes dos Açores para a América, passando primeiro por Cape Cod e instalando-se depois em São Francisco. Os familiares do “Pimenteiro Português”, que hoje vivem nos Estados Unidos, não sabem de que ilha açoriana eles vieram e nem sequer sabem com certeza qual o nome do pai de Ralph – apostam em Raphael, que se presume ser uma adaptação de Rafael. Mas há uma coisa que eles sabem: o sangue “port-a-ghee” que herdaram tornou-se uma obsessão para os descendentes do “Pimenteiro Português”.
Saltou de uma janela, escalou um muro e entrou na floresta que rodeava o colégio. Quando encontrou uma cabana abandonada, passou lá seis dias, até a polícia desistir de o procurar. Ao perceber que já era seguro deixar o esconderijo, começou a andar e só parou num rancho no Oregon. Aí, aprendeu a montar a cavalo – e começou a ganhar dinheiro.
Há uma razão para isso. Quando chegou aos Estados Unidos, o pai de Ralph trabalhou na apanha de lagostas, mas o emprego não durou muito. Raphael sofria de esquizofrenia. Jason Tougaw, neto de Ralph Neves, conta no seu blogue, “Californica”, que um dia, nos anos 30, Raphael tirou a roupa e foi a pé para a ponte Golden Gate, em São Francisco. Totalmente nu, pôs-se no meio da estrada e começou a tentar orientar o tráfego, fazendo, de forma alternada e confusa, sinais para os carros travarem ou avançarem, enquanto dizia, em português, “Pare” ou “Siga em frente”. O seu objectivo era tirar todos os automóveis dali. Na sua cabeça, eles faziam com que a ponte “parecesse estar cheia de formigas negras”.
Ralph viveu num colégio de freiras, o St. Vincent’s School for Boys, onde teve como colegas órfãos e pequenos delinquentes juvenis.
Quando Raphael foi hospitalizado de forma permanente, a sua mulher, a açoriana Frances, percebeu que não ia conseguir continuar a tomar conta dos três filhos. Por isso, colocou Ralph num colégio de freiras, o St. Vincent’s School for Boys, onde passou a ter como colegas órfãos e pequenos delinquentes juvenis. Jason Tougaw conta que, aos 12 anos, o seu avô já era o líder de um grupo de miúdos e tinha o hábito de mascar tabaco. Um dia, uma das freiras aplicou-lhe um castigo depois de o apanhar a jogar aos dados e Ralph decidiu que estava na hora de desaparecer.
Nessa mesma noite, saltou de uma janela, escalou um muro e, sem hesitações, entrou na floresta que rodeava o colégio. Quando encontrou uma cabana abandonada, decidiu aproveitar. Passou ali seis dias, até a polícia desistir de o procurar. Ao perceber que já era seguro deixar o esconderijo, começou a andar e só parou num rancho no estado do Oregon. Aí, aprendeu a montar a cavalo – e foi assim que começou a ganhar dinheiro.
A dieta dos parasitas
Na verdade, não foi bem assim. A princípio, não ganhou dinheiro a montar cavalos, mas burros. Esse era um dos números de um espectáculo de rodeo onde trabalhou durante algum tempo. Mas evoluiu rapidamente. Em 1934, exibia tanta destreza em cima de um cavalo que foi contratado como duplo por Frank Capra. O realizador americano tinha acabado de receber seis óscares pelo filme “It Happened One Night” quando lançou “Broadway Bill”, que conta a história de um homem que deixa o seu emprego na empresa do sogro para se dedicar às corridas de cavalos. Ralph recebeu 10 dólares por cada dia de filmagem, a que se somou um bónus de 200 dólares pela forma exemplar como conseguiu cair da sela numa das cenas mais difíceis e arriscadas do filme.
A passagem por Hollywood foi divertida, mas o que Ralph Neves realmente queria fazer na vida era ser jóquei. Não se percebe porquê. Na época, entrar nessa profissão era o mesmo que entrar num romance de Charles Dickens para assumir o papel de um rapaz órfão. No livro “Seabiscuit”, Laura Hillenbrand escreve que os jóqueis dormiam nos estábulos e eram frequentemente espancados pelos donos dos cavalos.
Depois, havia o problema da balança. As regras do desporto obrigavam a um controlo absoluto sobre o peso dos cavalos e de quem os montava. Os jóqueis tinham de andar entre os 40 e os 60 quilos, no máximo. Um dia, na preparação para uma corrida, o “Pimenteiro Português” teve de fazer uma dieta rigorosa para conseguir ficar com apenas 48 quilos.
Um dos principais jóqueis da década de 30 passou um ano inteiro (não é exagero: foram mesmo doze meses) a comer apenas (também não é exagero: foi mesmo só) ovos.
Falar em “dieta rigorosa” é, obviamente, uma forma simpática de pôr a coisa. A palavra “selvagem”, por exemplo, seria mais adequada para descrever o que se passava. Laura Hillenbrand descreve com detalhe este dia-a-dia anoréctico. Um dos principais jóqueis da década de 30 passou um ano inteiro (não é exagero: foram mesmo doze meses) a comer apenas (também não é exagero: foi mesmo só) ovos. Outro jantava duas folhas de alface na noite antes de uma corrida, mas, temendo que isso não fosse suficiente, tomava a precaução de as pôr ao sol durante algum tempo para perderem água.
E, atenção, isto que eu fiz agora era imperdoável: usar a palavra “água” era quase um insulto aos jóqueis. Terrivelmente desidratados, só a palavra provocava-lhes uma sede pavorosa. Quase nunca bebiam água. Um dos principais objectivos da vida deles não era meter líquidos no corpo – era tirá-los. Para isso, por exemplo, costumavam vestir várias camadas de roupas quentes, cobrir-se com mantas e correr ao sol até estarem mais suados do que um norueguês em dia de sauna.
Quando tudo isto falhava, recorriam aos laxantes. E quando até os laxantes eram insuficientes usavam um método que conseguia ser ao mesmo tempo engenhoso, perigoso e eficaz. Laura Hillenbrand conta que compravam no mercado negro cápsulas que tinham ténias no interior e ingeriam-nas, deixando depois que os parasitas fizessem o seu trabalho dietético.
A segunda morte
Foi neste ambiente que o “Pimenteiro Português” ganhou a sua reputação. Nesta altura, já ninguém deve ficar surpreendido com o facto de isso só ter sido possível por causa de uma mentira. Quando se ofereceu para correr como jóquei, Ralph tinha apenas 13 anos. Isso era um problema. Mas se a Natureza nos deu a capacidade para mentir foi seguramente para conseguirmos ultrapassar estes pequenos obstáculos que a vida nos coloca. Assim, com uma ligeira alteração da verdade, o “Pimenteiro Português” conseguiu um lugar em cima de uma sela.
Não há unanimidade na descrição da forma como Ralph se comportava a cavalo. Mas sabe-se que oscilava entre o zangado e o furibundo. Consoante a pessoa que se ouve, a temperatura verbal vai subindo. Ele era um jóquei “sem medo”; ele usava “tácticas pouco cavalheirescas”; ele era “ferozmente competitivo”; ele era “agressivo”; ele adoptava um estilo “furioso”; ele era “implacável”.
Olhando para a sua ficha clínica, não se percebe como conseguiu chegar tão longe. Ao longo dos anos, fracturou, esmagou, partiu, estraçalhou ou danificou várias partes do corpo. Chegou a estar “paralisado da cintura para baixo” e sofreu um traumatismo craniano que o obrigou a ser operado durante duas horas e meia.
Tornou-se notado rapidamente. Pelas boas razões: em 1934 ganhou a sua primeira corrida. E pelas más: na mesma altura, passou a ser “um dos jóqueis mais multados da Costa Oeste”, pela forma como punha em risco os adversários ou como chicoteava os seus próprios cavalos e os dos que corriam contra ele. Uma vez, chegou a ser suspenso das competições durante seis meses. Apesar destes castigos, em 1960 entrou no Racing Hall of Fame, tornando-se assim, oficialmente, um dos melhores jóqueis da História. No total, ganhou 3.772 corridas.
Durante a carreira, disseram-lhe seis vezes que “nunca mais poderia voltar a correr” – e enganaram-se sempre.
Olhando para a sua ficha clínica, não se percebe como conseguiu chegar tão longe. O seu neto Jason Tougaw e vários jornais contam que, ao longo dos anos, fracturou, esmagou, partiu, estraçalhou ou danificou várias partes do corpo. Chegou a estar “paralisado da cintura para baixo” e sofreu um traumatismo craniano que o obrigou a ser operado durante duas horas e meia (os médicos não estavam especialmente optimistas: davam-lhe apenas 60% de hipóteses de sobreviver). Já depois de se reformar, esteve em coma vários meses na sequência de uma cirurgia ao coração. Durante a carreira, disseram-lhe seis vezes que “nunca mais poderia voltar a correr” – e enganaram-se sempre.
Ralph Neves tinha uma explicação para o facto de ter sobrevivido a tudo isto. E não era médica. Uma vez, segredou a um amigo: “Como é que o meu nome se lê ao contrário? Seven.” Sete era o número da sorte e o seu amuleto: “Nem Deus me consegue matar. Ele já tentou”.
Como se perceberia algum tempo mais tarde, era sempre possível tentar novamente. Há vinte anos, no dia sete do mês sete de 1995, o “Pimenteiro Português” morreu num lar de idosos na Califórnia. Tinha um cancro no pulmão e graves problemas cardíacos. Tinham-se passado 59 anos desde que o seu óbito fora declarado pela última vez. Usou bem o tempo extra. Costumava dizer: “Desde essa altura, aproveitei cada minuto”.
Duplo num filme de Frank Capra
VÍDEO
Depois de “It Happened One Night” e antes de “Mr. Smith Goes to Washington”, Frank Capra, que ganhou por três vezes o óscar de Melhor Realizador, fez “Broadway Bill”, um filme sobre um homem apaixonado por cavalos. Numa das cenas decisivas, um jóquei cai espectacularmente da sela na linha da meta. Era, portanto, fundamental arranjar alguém que soubesse montar e soubesse cair. Ralph Neves, que tinha passado os últimos tempos a trabalhar em rodeos, juntava as duas capacidades. Saiu-se tão bem que, no final das filmagens, Capra deu-lhe um prémio de 200 dólares.
Nota: Quero agradecer a Jason Tougaw, neto de Ralph Neves, a disponibilidade e a simpatia com que me ajudou a recolher informações sobre a vida do seu destemido avô.
Fontes:– Entrevista com Jason Tougaw, neto de Ralph Neves.
– Jason Tougaw, “The Golden Gate”, publicado no blogue “Californica” a 21 de Janeiro de 2012; “My grandpa was a tiny party. The photos prove it”, publicado a 17 de Fevereiro de 2012; e “You Can´t Kill the Portuguese Pepper Pot”, publicado a 21 de Maio de 2012.
– Laura Hillenbrand, “Seabiscuit”, Harper Perennial, London, 2007.
– Barbara Mikkelson, “Jockey Shorted”, publicado no site Snopes a 19 de Abril de 2009.
– Bill Christine, “Long Ride Over for Jockey Neves: Horse racing: Declared dead after a race, he dies of cancer 59 years later”, publicado no jornal “Los Angeles Times” a 8 de Julho de 2005.
– Brian Cronin, “Did jockey Ralph Neves die in a race accident and come back to life?”, publicado no jornal “Los Angeles Times” a 6 de Junho de 2012.
– Dwight Chapin, “A Resurrection”, publicado no jornal “San Francisco Examiner” a 29 de Abril de 1999.
– Mike Brunker, “Portuguese Pepper Pot defied death to ride on”, publicado no jornal “San Francisco Examiner” a 22 de Janeiro de 1995.
– Ryan Whirty, “Jockey Ralph Neves’ strange tale”, publicado no site do ESPN a 5 de Maio de 2011.
– “Neves Remembered For Brush With Death”, publicado no jornal “San Francisco Chronicle” a 10 de Julho de 1995.
– “Ralph Neves”, publicado no site do National Museum of Racing and Hall of Fame.
– “The Portuguese Pepperpot”, publicado no site do Washington Racing Hall of Fame”.
– “Neves Undergoes Brain Operation”, publicado no jornal “The New York Times” a 31 de Maio de 1959.
– “Ralph Neves, 78, Hall of Fame Jockey”, publicado no jornal “The New York Times” a 10 de Julho de 1995.
– Jason Tougaw, “The Golden Gate”, publicado no blogue “Californica” a 21 de Janeiro de 2012; “My grandpa was a tiny party. The photos prove it”, publicado a 17 de Fevereiro de 2012; e “You Can´t Kill the Portuguese Pepper Pot”, publicado a 21 de Maio de 2012.
– Laura Hillenbrand, “Seabiscuit”, Harper Perennial, London, 2007.
– Barbara Mikkelson, “Jockey Shorted”, publicado no site Snopes a 19 de Abril de 2009.
– Bill Christine, “Long Ride Over for Jockey Neves: Horse racing: Declared dead after a race, he dies of cancer 59 years later”, publicado no jornal “Los Angeles Times” a 8 de Julho de 2005.
– Brian Cronin, “Did jockey Ralph Neves die in a race accident and come back to life?”, publicado no jornal “Los Angeles Times” a 6 de Junho de 2012.
– Dwight Chapin, “A Resurrection”, publicado no jornal “San Francisco Examiner” a 29 de Abril de 1999.
– Mike Brunker, “Portuguese Pepper Pot defied death to ride on”, publicado no jornal “San Francisco Examiner” a 22 de Janeiro de 1995.
– Ryan Whirty, “Jockey Ralph Neves’ strange tale”, publicado no site do ESPN a 5 de Maio de 2011.
– “Neves Remembered For Brush With Death”, publicado no jornal “San Francisco Chronicle” a 10 de Julho de 1995.
– “Ralph Neves”, publicado no site do National Museum of Racing and Hall of Fame.
– “The Portuguese Pepperpot”, publicado no site do Washington Racing Hall of Fame”.
– “Neves Undergoes Brain Operation”, publicado no jornal “The New York Times” a 31 de Maio de 1959.
– “Ralph Neves, 78, Hall of Fame Jockey”, publicado no jornal “The New York Times” a 10 de Julho de 1995.
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