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terça-feira, 11 de março de 2014

Belmiro, veja o patrão alemão, não veja o trabalhador Não será difícil ser muito rico em Portugal. Digo isto porque os homens mais ricos do país nem sempre parecem os mais perspicazes. Ser muito rico em Portugal deve ser, portanto, mais uma questão de sorte e de oportunidade.

Belmiro, veja o patrão alemão, não veja o trabalhador

Não será difícil ser muito rico em Portugal. Digo isto porque os homens mais ricos do país nem sempre parecem os mais perspicazes. Ser muito rico em Portugal deve ser, portanto, mais uma questão de sorte e de oportunidade.
Vem a isto a propósito dos comentários do engenheiro Belmiro de Azevedo sobre a produtividade dos portugueses. Parece que os alemães, numa hora, trabalham quatro vezes mais. Talvez trabalhem. Não digo que não. Estou absolutamente certo que, para o engenheiro Belmiro afirmar tal coisa, é porque sabe – com dados estatísticos, porque a produtividade mede-se – que é mesmo assim.
Mas porquê? – É a questão para um milhão de euros ou, pelo menos, para salários mais altos. Os portugueses são mais preguiçosos, estão mal habituados e gostam de viver à custa do Estado e dos patrões? É isto? Eu não acredito – e não acredito mesmo – que tenha sido o que o engenheiro Belmiro quis dizer, mas é o que parece e o engenheiro Belmiro já tem idade para saber que há certas coisas que não podem ser ditas levianamente, como por exemplo, esta ideia de que se os portugueses querem salários melhores, têm de trabalhar como os alemães, que em uma hora dão 4 a 0.
É que eu não percebo nada disto, mas a produtividade não é responsabilidade dos trabalhadores. É uma responsabilidade da direcção. E se os alemães são mais produtivos, provavelmente têm melhores empresários e a conversa começa a azedar para o engenheiro Belmiro, que é um dos maiores empresários portugueses e que pela dimensão da sua companhia, é também ele que marca o ritmo.
O engenheiro Belmiro saberá, com certeza, que estes dez milhões, se acordassem na próxima segunda-feira na Alemanha, trabalhavam tanto ou mais que os alemães. Tenho, porém, as mais sérias dúvidas relativamente à hipótese de alguns empresários portugueses sobreviverem em economias como a alemã.
Por outro lado, das palavras do engenheiro Belmiro – e deixando nota de que só ouvi a parte que a comunicação social quis que eu ouvisse – infiro que os trabalhadores do grupo Sonae não são produtivos. São produtivos para a média nacional, mas também não chegam aos calcanhares dos alemães. Ora, o engenheiro Belmiro, pelos vistos, acha que a culpa é deles, que nasceram assim, preguiçosos e calões. Já o engenheiro Belmiro deve achar-se perfeitamente ao nível dos empresários alemães, agarrado apenas, por contingências da vida, a esta cambada de lesmas que vivem em Portugal.
Mas o pior é que existem em Portugal alguns exemplos de fábricas multinacionais onde o drama da produtividade não se verifica, sendo a mais conhecida, naturalmente, a Autoeuropa. Repare-se que é uma fábrica em território português, sob as leis portuguesas, com trabalhadores portugueses. A única coisa que a Autoeuropa não tem, assim de repente, é um empresário (accionista) português.
Perante isto, talvez fosse já tempo dos empresários portugueses, quando procuram culpados pelos fracos resultados, não olharem tanto para baixo, mas mais para a frente e para os lados. É claro que os empresários podem continuar nesta estratégia de castigo, reduzindo os salários dos trabalhadores até que eles comecem de uma vez por todas a trabalhar, mas isso vai correr muito mal, porque não é aí que está o problema.
Enfim, é também à conta destas coisas que se percebe a debilidade da economia portuguesa, sobretudo em matéria de investimento. Se eu pensar como um investidor, eu não vejo um único motivo para me interessar por companhias que andam nesta vida. Estas empresas europeias em que o patrão ainda anda às turras com os trabalhadores porque não vergam a mola, não têm o mínimo interesse. Ou invisto no valor acrescentado e na qualidade ou na política dos baixos salários. Mas para isso invisto na China, não vou andar aqui a brincar aos berlindes.


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