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terça-feira, 25 de março de 2014

"Eu sonhava com uma Angola mais solidária" - Escritor Henrique Guerra O autor que passou mais de oito anos nas prisões da era colonial acaba de publicar um livro de contos "O Tocador de Quissanje"

"Eu sonhava com uma Angola mais solidária" - Escritor Henrique Guerra

O autor que passou mais de oito anos nas prisões da era colonial acaba de publicar um livro de contos "O Tocador de Quissanje"
Henrique Guerra
Henrique Guerra
O escritor e activista angolano Henrique Guerra lamentou “o exclusivismo” da actual sociedade angolana que ele gostava de ver mais solidária e integrada.

Para o escritor, que passou mais de oito anos nas prisões portuguesas durante a era colonial, é de lamentar que hoje haja quem se sinta mais angolano do que outros.

Guerra falava por ocasião do lançamento do seu último livro que tem como aspecto central a realidade da era colonial em Angola com os seus problemas diários e as suas contradições.

“O Tocador de Quissanje” é com efeito a mais recente obra literária do escritor publicada pela União dos Escritores Angolanos (UEA), no passado mês de Fevereiro em Luanda.


“A obra constitui uma galeria de quadros sugestivos, onde a realidade colonial angolana, com todos seus contrastes e contradições, se vai vislumbrar, transportando-nos quase para universos cinematográficos,” escreveu a professora Irene Guerra Marques no prefácio do livro.

O livro contém seis contos, escolhidos de um caderno escrito no início dos anos sessenta e guardado por um amigo do autor durante mais de vinte anos.

Guerra disse à Voz da América que “os contos são diferentes entre si” procurando ser um retrato “parcial” da sociedade colonial “ dos inícios dos anos 60”.

Um dos contos visa também retratar “a Luanda antiga dos anos 40 e as transformações que vai sofrendo”.

A maior parte dos contos, disse, passam-se no meio rural,  explicando “ as dificuldades que o meio rural apresentava na altura” como “ a falta de desenvolvimento,  traumatizada”.

Membro fundador da UEA, onde exerceu as funções de Secretário das Actividades Culturais e também membro fundador da União Nacional dos Artistas Plásticos (UNAP), foi presidente da direção desta associação nas suas duas primeiras comissões directivas.

É autor de “Cubata Solitária” (Contos), 1962, “Quando Me Acontece Poesia”, (Poemas) 1976, “Alguns Poemas”, 1978, “Angola – Estrutura Económica e Classes Sociais” (Ensaio), “O Circo de Giz de Bombó” (Teatro) 1979 e “Três Histórias Populares” (Contos), 1989.

Guerra esteve oito anos e meio preso em Portugal até 1973 durante a época colonial.
Guerra é humilde em relação à sua actividade política em prol do MPLA afirmando que foi condenado “a uma pena excessiva em relação aquilo que eu fiz”.

“Não posso dizer que fiz muito pelo partido, “ disse.

“Tentei fazer alguma coisa mas não aconteceu,” acrescentou, afirmando ainda em resposta a uma pergunta se se sente ignorado pelo MPLA “que isso não compete à minha pessoa”.

“Quem deve responder a isso é o próprio movimento, eu não sei,” acrescentou.

Guerra queixou-se da parca reforma que obtém do governo pois foi elaborada no tempo do “kwanza burro”.

“Tiraram-lhe seis zeros e o que recebo não dá para as necessidades da vida,” disse.

Guerra recuou-se a criticar a actual situação em Angola afirmando que embora não esteja plenamente satisfeito “ fez-se a Angola que foi possível”.

Disse no entanto que aquando da luta de libertação “sonhava com uma Angola mais solidária e mais integrada”.

A Angola que se vive hoje “é um bocado exclusivista”.

“Há grupos que excluem os outros que pensam que são os únicos angolanos, “ disse o escritor.

“Não pensava que pudesse haver tanta divisão como há", acrescentou o escritor.

Para Guerra a democracia “quer dizer governo do povo para o povo mas não existe muito isso”.

Contudo, devido às realidades angolanas “não sei se seria possível outro tipo”, disse.

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