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quarta-feira, 26 de março de 2014

HISTÓRIA DA GUERRA COLONIAL - 4ª PARTE - EM PLENO ESTADO NOVO SALAZARISTA PORTUGAL PERDE GOA, DAMÃO E DIO - VÍDEOS SOBRE A GUERRA COLONIAL DE RAUL FURTADO -


Guerra Colonial


Após a II Guerra Mundial todos os países europeus com excepção de Portugal foram concedendo a independência aos seus territórios na Ásia e em África, recorrendo por vezes ao uso da força (por exemplo no caso da Argélia). Assim, Cabo Verde, Guiné, S. Tomé e Príncipe, Angola, Moçambique, o chamado "Estado da Índia" (constituído por Goa, Damão e Diu), Macau e Timor eram ainda pertença portuguesa.
Em 1955, com a entrada de Portugal na ONU, foi recomendado ao governo tornar as suas colónias independentes, algo que não foi aceite. Para tentar contornar a situação o regime declarou as colónias como "províncias ultramarinas" e concedeu a cidadania aos seus habitantes. Tal medida foi reprovada internacionalmente pela Assembleia-Geral das Nações Unidas.
Goa, Damão e Diu seriam os primeiros territórios que Portugal perderia, após uma guerra de pequena duração com as forças indianas.
Em 1961, um rol de acontecimentos marcam uma viragem no destino das colónias portuguesas. É o caso da rebelião iniciada pelos militantes do MPLA (Movimento Popular para a Libertação de Angola) em Luanda, a 4 de Fevereiro e, a 15 de Março, a UPA (União das Populações de Angola), posteriormente denominada FNLA (Frente Nacional de Libertação de Angola), inicia um conjunto de violentos ataques no norte da colónia. Anos mais tarde, já com a presença da UNITA (União Nacional para a Independência Total de Angola), começa uma luta de guerrilha.
O conflito na Guiné-Bissau irá iniciar-se em 1963, com apenas uma organização política: o PAIGC (Partido Africano para a Independência da Guiné-Bissau e Cabo Verde), ao passo que a FRELIMO (Frente de Libertação de Moçambique) irá conduzir Moçambique à guerra no ano de 1964.
No continente africano apenas Cabo Verde e S. Tomé e Príncipe ficaram imunes à guerra; na Ásia o território macaense sofreu alguns momentos de instabilidade, não tendo no entanto chegado a haver conflito armado; em Timor os movimentos independentistas só surgiram após o 25 de Abril de 1974.
No ano de 1961 Salazar irá proferir a máxima legitimadora da sua posição relativamente às rebeliões que se desencadeavam nas possessões portuguesas: "Para Angola, imediatamente e em força".
As três frentes de guerra provocaram fortes abalos nas finanças do Estado, desgastando simultaneamente as forças armadas, ao mesmo tempo que colocava Portugal cada vez mais isolado no panorama político mundial. A nível humano, as consequências foram trágicas: um milhão e quatrocentos mil homens mobilizados, nove mil mortos e cerca de trinta mil feridos, além de cento e quarenta mil ex-combatentes sofrendo distúrbios pós-guerra. A acrescentar a estes números há ainda que mencionar as não contabilizadas vítimas civis de ambas as partes.
O conflito não terá solução através de meios pacíficos ou militares, mas apenas por meios políticos e diplomáticos empreendidos após 1974.


VÍDEOS - invasão da Índia Portuguesa


FIM DO COLONIALISMO NA ÍNDIA

Invasão de Goa
India Portuguesa

Portuguese conflit India



Em pleno Estado Novo salazarista
Portugal perde Goa, Damão e Diu

Mapa da Ilha de Goa

Fez no passado dia 18 de dezembro 50 anos que Portugal perdeu o seu primeiro território colonial no século XX – o Estado Português da Índia, ou seja um conjunto territorial de 4194 quilómetros quadrados, normalmente designado por Goa, Damão e Diu. Estávamos em pleno Estado Novo, dirigido pelo fundador do regime, António de Oliveira Salazar.
Cerca de dois anos após o termo da 2.ª Guerra Mundial a União Indiana conseguiu a sua independência da coroa britânica e já se esperava que também não quisesse manter a permanência colonial portuguesa (na década de 1950, o primeiro-ministro indiano Nehru já havia reclamado a devolução daquela parcela de território) que durava há 4 séculos e meio, desde que Afonso de Albuquerque a havia conquistado, no dia 25 de novembro de 1510.
Goa tornar-se-ia a capital do importantíssimo Império Português do Oriente. Ao longo destes 451 anos muitas vicissitudes se passaram, milhares de histórias se viveram e hoje a antiga Goa portuguesa é um atrativo centro turístico que recebe milhares de visitantes, que pretendem apreciar o rico património histórico herdado do passado português e que a União Indiana vem recuperando, assim como em Damão e Diu, reconhecendo o seu extraordinário valor cultural.
Como Salazar recusasse a via negocial com a União Indiana, relativamente ao futuro dos territórios administrados por Portugal, aquele país acabou por recorrer à força das armas para anexar o secular Estado Português da Índia. Convém recordar que Portugal foi o primeiro país europeu a chegar à Índia, no reinado de D. Manuel I, graças à bem sucedida viagem de Vasco da Gama (1497-1499).
Depois disso, Portugal criaria em Goa a capital de um império que se caracterizava sobretudo pelo domínio de pontos estratégicos que garantiam aos portugueses o quase exclusivo das rotas marítimas no Índico e no Pacífico, que permitiam a chegada à Europa, via Portugal, de toda a espécie de mercadorias existentes naquelas longínquas paragens.



Mas a história secular da presença portuguesa havia de ter um fim. Na manhã de 17 de dezembro de 1961, uma força estimada em cerca de 50 mil homens, apoiados por equipamento militar de ponta, com capacidade ofensiva por terra, ar e mar dirige-se ao território português com vista à sua imediata conquista. Nos nossos territórios, as forças militares eram exíguas: cerca de 3500 homens e mal armados, com espingardas de fabrico checo (Kropatchek de 1892) que tinham que ser recarregadas após cada tiro, enquanto que do lado indiano já se recorriam a armas automáticas e tinham o apoio da aviação militar e de várias embarcações de guerra, entre as quais um porta-aviões.
Salazar ainda pediu ajuda britânica, no âmbito da velha aliança, só que a Índia era membro da Commonwealth, e a conjuntura internacional era claramente adversa à posição portuguesa, pelo que a ocupação por parte da União Indiana ficou decidida em cera de 36 horas.
De Lisboa, Salazar dava ordens expressas para que as forças portuguesas lutassem até ao último homem. Contudo, os comandantes militares no terreno sabiam que não tinham qualquer hipótese e acabaram por render-se.
É conhecida a carta de rendição, assinada pelo Major Tenreiro, cujo conteúdo aponta para a tentativa de evitar o massacre da população e a destruição da própria cidade: «Cidade de Goa, 18/12/61 / O Comandante Militar da Cidade de Goa declara que deseja parlamentar com o Comandante do exército da União Indiana com respeito à rendição. Nestas condições, as tropas portuguesas devem, imediatamente, cessar fogo e as tropas indianas proceder de igual modo com o fim de evitar a chacina da população e a destruição da cidade. O Comandante; (as.) Acácio Tenreiro (Major)».


 
O Brasão que se usou em Goa, enquanto pertenceu a Portugal

Meio ano mais tarde, um navio português foi buscar os prisioneiros a Goa, mas os mesmos seriam mal recebidos em Lisboa, escoltados pela polícia militar, por serem considerados “traidores” ao não terem lutado até à morte. Alguns dos seus comandantes foram mesmo sujeitos a julgamento militar. O Estado Português da Índia continuou a estar representado na Assembleia Nacional até 1974. Após a Revolução do “25 de Abril”, finalmente, as relações diplomáticas com a Índia foram restabelecidas.

Em Portugal, mesmo algumas personalidades políticas opostas à “situação”, tiveram acções de repúdio relativamente à atitude da União Indiana. Houve registo de várias manifestações contra a atitude de Nehru, adjetivado como «cínico, cobarde, hipócrita e sinistro».

viajandonotempo.blogs.sapo.pt

Goa, Damão e Diu – Outra verdade!


Notícias de Salazar sobre Goa, Damão e Diu


Goa, Damão e Diu – Outra verdade!

Vivíamos quase iludidos. Salazar falava dos ventos da história. Ele conhecia os ventos da história, mas sob a sua ditadura, as notícias que nos chegavam sobre tais ventos eram passados pelo filtro da vontade de Salazar, o “domador de lusos”, que os mantinha controlados no chicote. Porém, o pouco que se sabia era suficiente para sabermos quem tínhamos no poder.

Com Goa como capital do Estado português da Índia desde 1505, esta parte do território português incluía boa parte da costa de Malabar na península de Guzerate, incluindo Damão, Diu, a ilha de Angediva a sul de Goa, Dadrá e Nagar Haveli, Simbor e Gogolá, Bombaim cedida à Inglaterra como bodas de casamento de Catarina de Bragança, de Portugal e o rei Carlos II de Inglaterra. Em 1947 a Inglaterra, por ação do grande Mahatma Gandhi, reconhece a independência da Índia que pede a devolução de todas as possessões portuguesas. Levado o caso ao tribunal de Haia e às Nações Unidas, era evidente que deveria devolvê-los exatamente por aqueles ventos da história a que Salazar se referia. Salazar, domador de lusos, também queria domar estes ventos. Portugal manteve esses territórios até 1954. De 1954 a 1961, Portugal apenas conseguiu manter Goa, Damão e Diu. Nessa oportunidade Portugal tinha o maior exército ativo da Europa, e gastava os recursos da Pátria para combater ventos. Enquanto Portugal tinha cerca de dez milhões de habitantes, a Índia – ou União Indiana como se conhecia em Portugal – contava com cerca de 600 milhões. Era uma luta desigual, um David às avessas lutando contra 100 Golias que nem atacavam armados. Gandhi queria tomar posse do que era seu de forma pacífica tanto quanto possível.






Em 1954 eu tinha nove anos. Não entendia muito bem os acontecimentos, mas sabia o suficiente para me preocupar em crescer rapidamente para lutar ao lado dos meus patrícios. Quando me fui despedir de um primo, o Gabriel André, que partia num transatlântico mobilizado para transporte de tropas no Cais de Sodré, ainda lhe disse que um dia seria eu a entrar num navio daqueles. Eu leria todos os livros de Emílio Salgari, mas até aquele momento só tinha lido – Sandokan conquista um trono e achava a guerra colonial uma aventura a sério onde se podia ser herói vivo. Resolvi que logo que pudesse eu entraria para a marinharia da Mocidade Portuguesa. E um ano depois em 1955, sendo obrigatória a participação nessa Mocidade perdida, entrei, fui promovido a “arvorado em comandante de castelo” e no ano seguinte eu estava na marinharia. Meu primo continuava vivo por lá, na Índia, longe da família. Com onze anos eu já me preocupava em saber como minha prima, a mulher dele, conseguiria passar tanto tempo sem ter relações sexuais, se eu, com onze anos, já não podia passar alguns dias sem me masturbar. Achei que ela deveria fazer o mesmo.

Em 1960 eu já tinha 15 anos. Portugal já não tinha apenas o problema da Índia. Os ventos sopravam também em Angola, Moçambique, Guiné, em todos os territórios coloniais. Nas lanchas da marinha que me levavam aos sábados para a base do Alfeite, do outro lado do Tejo, de frente para Lisboa, a caminho da instrução militar da marinharia, ouvia-se de tudo, víamos fotos que jamais foram para os jornais. Eram atrocidades cometidas por ambos os lados em África: mulheres grávidas com os fetos arrancados e pisados, braços cortados com os seios nas mãos, um sem fim de gônadas cravadas em estacas ao longo das estradas, colares de dedos enfeitando o pescoço de falsos heróis.  

No Liceu Gil Vicente, comentavam os professores de forma velada, que a juventude portuguesa estava sendo enviada para a morte a troco de nada porque era irreversível a independência dessas nações, a exemplo do que estava acontecendo no mundo. Portugal não seria exceção. Um primo que morava em Luanda, Angola, chegou de férias a Lisboa. Contou-me o que era a vida nas “províncias” ultramarinas e como alguns dos donos de terras ou de empresas batiam de chicote nos negros trabalhadores. Quando associei este fato com os hindus que atacavam sem armas, as mulheres com macas percorrendo os campos para recolher os mortos e feridos, percebi qual era o lado errado. Eu estava do lado errado e comecei a lamentar estar na marinharia, pronto para defender não uma nação, mas um louco que subiu ao poder. Um ditador que domava lusos apoiado por bajuladores que sempre esperavam migalhas de sua condescendência.

Meu pai estava no Brasil desde 1951, e eu já começava a acarinhar a idéia de largar o país, largar os amigos, largar tudo, não para fugir por medo, mas para não participar dessa ultrajante “defesa” do território.

Em 1961 passei minhas últimas férias em Portugal, em Sesimbra. Lá comecei um namoro com uma moça, Luísa, que morava no Bairro das colônias em Lisboa, onde moravam também os ministros de Salazar. Contou-me algumas coisas, em Outubro, quando a fui visitar como cortesia. Nosso namoro fora apenas de férias. Antes das férias terminarem, ela já estava na garupa da lambreta de um francês. Eu não tinha lambreta e lá em casa ninguém tinha carro. Uma das coisas que me contou foi sobre a prisão do Ministro da Defesa Botelho Moniz em Abril, numa noite em que chegaram uns carros pretos, o tiraram da cama e o levaram. Nunca mais ela o vira até o final do mês de outubro. Eu já ouvira também sobre presos políticos, sobre a oposição do general Humberto Delgado, e já sabia que a maioria da população já não aprovava o Salazar. A população tinha medo da sua polícia, a PIDE. Eu continuei expondo as minhas opiniões de forma cautelosa.

Por outro lado, eram já bastantes e muitos os sinais de desobediência a Salazar. Uma delas, durante a segunda guerra mundial, foi a realizada por Aristides de Souza Mendes, descendente de judeus - como 40% da população portuguesa - ao conceder vistos desde Bordéus na França a judeus que fugiam de Hitler, contra as ordens expressas de Salazar. Posteriormente várias revoltas, a apreensão do Vera Cruz, a revolta de Beja e outras aconteceriam. Apesar disto, para o qual não tenho explicação, Salazar permitiu que milhares de judeus se refugiassem em Portugal vindos de outras partes da Europa, e não alterou os estatutos de igualdade entre judeus e portugueses. Demitido por Salazar, o ex-cônsul perdeu a pensão e morreu na miséria. Já o motivo da prisão do ministro da defesa teria sido uma tentativa de golpe de estado.
Nunca entendi como pôde Salazar invocar a aliança entre Portugal e Inglaterra contra a Índia, sabendo-se que a Inglaterra reconhecera a independência daquela nação e que estava reconhecendo a independência de suas ex-colônias. Estaria Salazar louco ainda mais com Haia e a ONU reconhecendo as razões da Índia?
Não era à toa que corriam piadas pejorativas pelas ruas de Lisboa sobre Craveiro Lopes e Américo Tomáz, os dois presidentes da república fantoches e sem opinião, colocados no poder por Salazar. Do primeiro, as piadas eram sobre sua esposa. O segundo era conhecido como o “banana”.  Para onde eu fosse, quer no Liceu, no voleibol do Sporting onde joguei, na marinharia, em família, entre amigos, pelas ruas, o povo não gostava de Salazar. A PIDE não escutava nada disso porque tinha outras “particularidades” para resolver. A  FNAT – Fundação Nacional da Alegria no Trabalho – Era conhecida e reconhecida em todos os meios, como Fanantes Nacionais Agarrados ao Tacho. Para brasileiros, Fanantes é sinônimo de ladrões e Tacho é a velha “panela” de amiguinhos. Quem não agüentava ou suportava, e podia, emigrava.
Quando a 19 de dezembro de 1961 as tropas portuguesas saíram às pressas de Goa, Damão e Diu sob fogo da artilharia e da aviação da Índia, estava claro que a paciência de Gandhi se tinha esgotado e que a falácia de Salazar era ridícula. Isso estava claro até mesmo entre a tropa, e nós, povo, nos admirávamos da paciência de Gandhi. Fosse outro e já não estaríamos lá há muito tempo. O tempo do colonialismo estava chegando ao fim. Salazar continuava como sempre fora: vesgo de cérebro. Fiquei feliz por as tropas portuguesas não terem desperdiçado mais vidas numa guerra estúpida.


Com 42% dos votos, em 2007 Salazar foi eleito – não sei como foi feita a votação nem de sua credibilidade – como a personalidade mais proeminente dos “Grandes portugueses”, através de enquête pela RTP – Radio Televisão Portuguesa, fundada por Salazar. Um dos mais votados foi exatamente o ex-cônsul em Bordéus que Salazar demitiu. Aqui de longe, eu afirmo que há muitos salazaristas ainda na RTP e que os resultados foram manobrados. De outra forma, eu que já acho que Salazar tinha seus laivos de loucura, me perguntaria: -O que querem os meus conterrâneos? Outra ditadura, desta vez remando contra os ventos da União Européia? Mas ainda acho que a história da cadeira, embora verídica em todas as versões, incluindo aquela em que não se tratava de uma cadeira, mas de uma banheira, não está completamente contada.
Para não se repetirem erros, Açores e Madeira deveriam fazer parte de uma Confederação portuguesa a exemplo da constituição da Suíça, em absoluta igualdade de condições com as demais províncias, nem mais nem menos.

Rui Rodrigues
onscienciademocrata.no.comunidades.n




Álbum de Memórias: Índia Portuguesa. 1954-62, Lisboa, Padrão dos Descobrimentos


O major general  Gespal (Sikh), primeiro comandante do campo de prisioneiros de Pondá, Goa, tendo à sua esquerda o capitão de fragata José Pinto da Cruz, imediato do avio "Afonso Albuquerque", e comandante dos prisioneiros.



Goa > Campo de prisioneiros do Forte de Aguada > O famigerado  bidão da sopa. Um dos cozinheiros deste ou campo de Pandá  era o meu primo Luís Maçarico, de Ribamar, Lourinhã. (Estava colocado no Hospital Militar de Pangim, aquando da invasão).




Goa > Vasco da Gama >  Campo de prisioneiros de Alparqueiros >  1962 > "Quem passar daqui será alvejado a tiro": título de letreiro afixado, ao fundo... Em  11 de janeiro, tinha havido uma tentativa de fuga de 11 prisioneiros, que procuraram refúgio num navio ancorado no porto, e prontamente denunciados pelo respetivo capitão. 

A 19 de março, no campo de prisioneiros de Pondá, Goa, haverá outra tentativa de fuga: 3 prisioneiros tenta5m esconder-se na camioneta da recolha do lixo, mas são denunciados pelo furriel que os comandava.  Este incidente acabou por dar origem a uma revolta coletiva que, embora prontamente doiminada pelos oficiais e sargentos portugueses, levou à intervenção do brigadeiro indiano, comandante geral dos campos de Goa, que ameaçou fuzilar todos os que persistissem em castigar o furriel... O tenente capelão Joaquim Ferreira da Silva, jesuita, natural de Santo Tirso, teve então um gesto heróico, conseguindo apaziguar os ânimos de um lado e do outro. O capitão Roberto Durão escreveuino seu diário: "Hoje foi o dia do Pai [, 19 de março,], podíamos ter deixado muitos órfãos em Portugal, pois a nossa vida estave por um fio".



Goa > Campo de prisioneiros de Alparqueiros > 1962 > Na hora da despedida, ao fim de 5 meses e meio de cativeiro.



N/T Pátria > 1962 > Repatriamento dos prisioneiros de guerra... Um operação discreta, um regresso humilhante, um momento doloroso da nossa história, um esquecimento coletivo de meio século...






Pequena amostra da exposição Álbum de Memórias: Índia Portuguesa, 1954-62, que tem estado aberta ao público, desde setembro de 2012, em  Lisboa, Padrão dos Descobrimentos. Encerra em  27 de janeiro de 2013. [Imagens e legendas  de L.G,]

A exposição, criada a partir de fotografias, documentação e recordações dos militares portugueses, espólio recolhido por Fernanda Paraíso, com o apoio da Associação Nacional de Prisioneiros de Guerra (ANPG), "retrata a vida dos militares, prisioneiros de guerra na sequência da ocupação indiana dos territórios portugueses na Índia, em  Dezembro de 1961, até ao momento do seu repatriamentO". Tem também o contributo do Observatório Político que "introduz o enquadramento complementar para a compreensão do quadro histórico e político de meados do século XX, no qual se inscrevem os acontecimentos narrados."

Com a presente expsição, a EGEAC (, a empresa do Município de Lisboa, responsável pela Gestão de Equipamentos e Animação Cultura,) assinala os 50 anos do regresso, em 1992,  do último contingente militar da Índia Portuguesa. (**)



A SITUAÇÃO DOS PRISIONEIROS DE GUERRA E O RECONHECIMENTO


JN- Jornal de Notícias, 12/5/2008

É o dia 19 de Março de 1962, pelas 18.30 horas. Campo de prisioneiros de Pondá, Goa, Índia. Três prisioneiros tentaram a fuga. Denunciada por um furriel português, a ousada manobra falhou e o acto de indisciplina iria ser pago com o fuzilamento dos 1750 militares portugueses, prisioneiros, em Pondá, desde 17 de Dezembro de 1961. A coragem e a diplomacia do tenente-capelão Ferreira da Silva haveria de evitar o banho de sangue.


Quarenta e seis anos depois, Fausto Diabinho [, foto à direita, há 50 anos atrás,] ainda não consegue conter as lágrimas ao recordar o fatídico 19 de Março. Viu a morte à frente. Lembra os companheiros a desmaiar, as metralhadoras apontadas, o pelotão de fuzilamento e a voz que gritava "Quem se mexer será abatido". Lembra, sobretudo, o tenente-capelão que, num acto heróico, sai da formatura, arriscando a vida, e consegue negociar com o brigadeiro indiano o perdão dos portugueses, evitando o massacre.

(...) Quarenta e seis anos depois, o Ministério da Defesa reconhece, finalmente, o acto heróico de Joaquim Ferreira da Silva, a quem atribui, a 7 Dezembro do ano passado, a título póstumo, a Medalha Militar de Serviços Distintos, grau ouro.

"Se hoje estamos aqui, devemos-lhe a ele", garante o vice-presidente da Associação Nacional dos Prisioneiros de Guerra (ANPG), que, anteontem, prestou, na Póvoa de Varzim, homenagem a Ferreira da Silva."Se fosse vivo, faria 92 anos", recordou Fausto Diabinho, explicando a escolha do dia para homenagear o tenente-capelão, sepultado no cemitério poveiro.

Foi igualmente em Maio, em 2003, continuou a explicar, que o Governo reconheceu a condição de prisioneiros de guerra, condecorando todos os ex-militares presos na Índia, Timor, Angola, Moçambique e Guiné. Finalmente, foi também em Maio de 1962 que os mais de três mil portugueses presos na Índia começaram a ser libertados.

"O ministro da Defesa, na altura Castro Caldas, teve a ousadia de dizer que não houve prisioneiros de guerra na Índia porque simplesmente estavam à espera de transporte", lembrou Fausto Diabinho, que recorda, com tristeza, os mais de 40 anos necessários para que Portugal reconhecesse que, a defender a pátria, três mil militares portugueses foram feitos prisioneiros, durante seis meses, e 29 perderam a vida. Agora, os ex-prisioneiros na Índia festejam, finalmente, o reconhecimento justo de quem "serviu a pátria e perdeu a vida" em defesa dos territórios portugueses de Goa, Damão e Diu.


blogueforanadaevaotres.blogspot.pt

Depoimentos


JOÃO MARQUES DE OLIVEIRA - Índia












Mensagem de João Marques de Oliveira, Soldado, com data de 16 de Dezembro de 2011. Esteve na Índia 1960/62
Assentei praça no dia 6 de Abril de 1959 no batalhão de Engenharia, no Porto, onde fiz a recruta.

Em 3 de Agosto de 1959, ainda no Regimento de Engenharia, fiz a especialidade de guarda-fios.

Em 10 de Novembro de 1959 fui colocado no regimento de Transmissões 719, em Lisboa e aqui recebi a ordem de mobilização para a Índia.

No dia 26 de Abril de 1960 embarquei no navio Niassa, em Lisboa, tendo desembarcado em 12 de Maio no porto de Mormugão.















No dia 18 de Dezembro o Estado Português da Índia - constituído pelos territórios de Goa, Damão e Diu - foi invadido pelos indianos. Da resistência à invasão resultaram 67 mortos - 45 militares e 22 indianos.
No dia 20 de Dezembro de 1961 fui feito prisioneiro (num total de cerca de 4.000 portugueses) e fui libertado no dia 13 de Maio de 1962.
Carderneta militar



O regresso à Metrópole aconteceu ainda em Maio. Embarquei no porto de Carachi no dia 15 de Maio, no navio Moçambique, e desembarquei em Lisboa no dia 30 de Maio de 1962.



Presentemente resido em Avintes, no Lugar de Campos.


VEJA AQUI DIVERSOS VÍDEOS SOBRE A GUERRA COLONIAL

AO CLIKAR NO QUE DESEJA VER VAI SER REMETIDO PARA O SITE RESPECTIVO.



O Ano Que Marca A História - Joaquim Furtado (vol. VII)
A forma como é cultivado, colhido e vendido o algodão em Angola está na origem dos graves incidentes em Janeiro e Fevereiro de 1961 na Baixa do Cassange. As Forças Armadas intervêm com as 3ª e 4ª Companhias de Caçadores Especiais e com a Força Aérea, causando um número nunca determinado de baixas. 

As trajectórias de diversos líderes dos Movimentos de Libertação antes do início da luta pela independência, sendo destacada a figura de Eduardo Mondlane.

A preparação da luta armada na Guiné, a importância da Republica Popular da China na formação dos quadros do PAIGC.

Dezembro de 1961 a União Indiana invade Goa Damão e Diu, os territórios que constituem o Estado Português da Índia. As forças portuguesas rendem-se face à esmagadora desproporção de forças. Salazar apelara: "soldados e marinheiros vitoriosos ou mortos "

O Movimento Nacional Feminino as suas características e a sua acção.

Após o início da guerra em Angola alguma turbulência emerge no seio do Estado Novo. Adriano Moreira e Venâncio Deslandes protagonizam alguns episódios que poderão indiciar mudanças na política oficial. Ambos acabam demitidos e Salazar retoma em pleno as rédeas do poder.



Os comentários aos diferentes Documentários foram efectuados em colaboração com a Associação 25 de Abril, e são da responsabilidade de:
Coronel de Infantaria - José Aparício
Coronel de Artilharia – Eduardo Abreu
Coronel Piloto aviador – Villalobos Filipe
Capitão-de-mar-e-guerra – Pedro Lauret
  • VIDEOS ACTUAIS
  • VÍDEOS DA ÉPOCA
  • TÍTULOS


www.rtp.ptRTPA25





VÍDEOS DA GUERRA COLONIAL




GUERRA DA GUINÉ

GUERRA EM ÁFRICA 1961/1974

MOÇAMBIQUE - GUERRA NO ULTRAMAR


Outros








A Invasão do Estado Português da Índia (Goa, Damão e Diu) de 1961

Soldados indianos marchando sobre Goa (http://www.herodote.net)
Soldados indianos marchando sobre Goa (http://www.herodote.net)
Em resposta deste pedido deixado no Quintus por um dos nossos comentadores:
“Em 1961 tropas da união indiana invadiram e ocuparam os territórios portugueses de GOA, DAMÃO e DIU pondo um fim ao Estado Português da Índia, gostaria de uma reportagem sobre esse isso.”
Produzimos este artigo sobre esta questão, um dos temas mais importantes da História recente de Portugal e que mais ausente tem estado dos manuais de História. Esta ausência encontra uma parte da sua explicação nos traumas da descolonização e num fenómeno de negação que se observou no Antigo Regime a propósito dos acontecimentos que ditaram o fim do Estado Português da Índia.
Já desde a década de 40 que a Índia reclamava a saída de Portugal de Goa, Damão e Diu, mas o apoio britânico e norte-americano às posições portuguesas refreou tais ânimos. Na década de 50, o primeiro-ministro indiano Nehru, que, em 1950, reivindica formalmente pela primeira vez os territórios administrados por Portugal, a quem propõe a abertura de negociações. Salazar recusa. Pouco depois ocorrem distúrbios nos territórios, severamente reprimidas pelo regime.
Anos depois já na década de 60, animado pelo começo da guerra de insurgência em Angola, Nehru declararia que a Índia “não estava disposta a tolerar a presença dos portugueses em Goa, ainda que os goeses os quisessem lá”…
O fim da Índia Portuguesa começou na noite de 17 de dezembro quando durante essa noite mais de 50 mil soldados da União Indiana atravessaram a fronteira e recorrendo a amplos meios blindados, de artilharia e aviação (com os bombardeiros de origem britânica Canberra). As forças indianas tinham armas automáticas de vários tipos, enquanto que a arma padrão portuguesa na Índia era ainda a espingarda Kropatchek de 1892, uma arma checa que havia que recarregar tiro após tiro. As forças portuguesas possuíam também espingardas Mauser, algumas raras metralhadoras ligeiras Drayse e MG44 e pistolas-metralhadoras nacionais da marca FBP.
Ainda antes da invasão indiana começar Salazar tentou ativar a dita “Aliança Britânica” pedindo a 11 de dezembro auxílio britânico. Mas esta recusou, alegando que a Aliança tinha limites e que a Índia era um membro da Commonwealth. De facto, com a OTAN, O Reino Unido já não precisava dos portos portugueses e se tivesse que escolher entre Portugal e uma Índia que era já uma potência regional, a escolha estaria feita desde logo pelos calculistas britânicos…
A operação terrestre era apoiada no mar, por uma grande esquadra naval, comandada por um porta-aviões. Contra esta poderosa força terrestre, aérea e naval, Portugal contava com nenhuns meios aéreos (aliás muitos militares portugueses viram então o seu primeiro avião a reação), escassos meios navais e pouco mais de 3500 militares, goeses e portugueses e 900 policias goeses. Perante tal força, logo nas primeiras horas, ficou selado o destino das cidades portuguesas de Goa, Damão e Diu. Apesar deste desequilíbrio, Salazar tinha ordenado que a resistência devia prolongar-se durante pelo menos 8 dias, prazo que estimava suficiente para mobilizar um (inexistente) apoio internacional. Havia planos para transferir tropas de África por via aérea e para reclamar o apoio do rival paquistanês, mas tudo isso requeria pelo menos uma semana, daí o prazo de oito dias. Se não fosse possível aguentar durante esse prazo, então deviam ser feitos “todos os sacrifícios” a fim de salvar a honra portuguesa. Uma ordem dada a partir da segurança de Lisboa, claro…
Salazar tinha impedido o reforço do contigente português para “não provocar a União Indiana”, e nas semanas precedentes ao eclodir do conflito, chegou até a retirar forças de Goa, transferindo-as para Angola, onde surgiam então os primeiros sinais de uma longa guerra de insurreição. Assim, parece paradoxal que após o começo dos combates tenha ordenado ao governador Vassalo e Silva que combatesse até ao último homem e que não se esquecesse dos portugueses que no passado tinham morrido pela presença portuguesa na Índia. O paradoxo contudo desaparece se compreendermos que o mesmo motivo que levou a Índia à invasão (o começo da insurreição em Angola) foi aquele que levou Salazar à “ordem suicida”: o seu destinatário era muito mais o exército português e os insurretos angolanos que a União Indiana, como admitiria mais tarde o General Spinola: “O exemplo da Índia é um precedente bem vivo do porvir que receamos. Nunca se acreditou que sucedesse o que, afinal, era inevitável; no entanto, a tragédia deu-se, e logo foi desviada a atenção da Nação para o campo circunstancial da conduta militar, acusando-se as Forças Armadas de não se terem batido heroicamente quando, na realidade, qualquer que fosse a eficácia da defesa, o colapso seria sempre questão de dias.” O regime passava assim a mensagem de que nunca recuaria na questão das Colónias e que esperava que o Exército o acompanhasse nessa teimosia, não hesitando em recorrer ao argumento da “traição” se tal fosse necessário.
Felizmente, o Governador não pautou a sua ação pela via suicidária que, na segurança de Lisboa, lhe ditavam e após algumas horas de combates (essenciais para garantir o digno tratamento do exército derrotado por parte do vencedor) ordenaria a retirada geral, a destruição de todo o armamento e equipamento possível.
Salazar não tinha querido que fossem colocados aviões de combate, e as poucas armas antiaéreas tinham sido retiradas no mês anterior ao começo da invasão. Por isso, os aviões indianos puderam agir sem oposição. Os bombardeamentos indianos à torres de comunicações em Bandolim e ao aquartelamento de Dabolim, decorreram sem oposição. Ambos antecederam a penetração em território português das forças terrestres indianas.
Contudo, ao contrário do que esperavam os altos comandos indianos, as forças portuguesas, ultrapassadas em números e meios, não deixaram de se bater. Isto sucedeu em vários locais, como em Damão, onde a resistência foi particularmente aguerrida em Vasco da Gama, onde 500 portugueses e goeses resistiram até ao limite a uma superior coluna mecanizada indiana e onde a ação do alferes Santiago de Carvalho foi especialmente notável.
No mar, os pergaminhos das Armadas da Índia foram defendidos pelo aviso Afonso de Albuquerque que enfrentou as fragatas indianas na barra de Mormugão, disparando e furtando-se ao contra-fogo indiano enquanto pode, até ser finalmente afundado. O mesmo destino caberia à lancha de fiscalização Veja, afundada pela aviação indiana.
A estratégia de Vassalo e Silva de destruição das numerosas pontes que polvilhavam o território retardou seriamente o avanço indiano, levando com que a Índia só conseguisse ocupar efetivamente todo o territórios dois dias depois da rendição portuguesa. Essa foi a principal razão pela qual se explica que sem combates e perante tamanha desproporção de forças, a operação começada a 17 de dezembro terminaria apenas a 19 de dezembro de 1961.
Apesar desta gigantesca desproporção de forças e meios e de uma resistência pouco mais que formal na maioria do território, Damão foi a excepção. Aqui, forças portuguesas bateram-se contra forças muito superiores durante 36 horas de intensos combates, perdendo 21 militares e deixando vários feridos (num total de 26 em todo o contingente português). Os números indianos nunca foram revelados, mas são estimados por algumas fontes como excedendo os 300 mortos…
O regime salazarista não reconheceria nunca a perda dos territórios e ter-se-ía que esperar até 31 de dezembro de 1974 para que esse reconhecimento tivesse lugar com a assinatura de um acordo entre Mário Soares e a União Indiana. É que recordemos-nos de que a União Indiana não tinha sequer “direitos históricos” sobre os territórios já que não existia à data da chegada dos portugueses e que, provavelmente, a maioria dos seus habitantes estavam satisfeitos com a presença portuguesa, já que grande número deles participava na administração do território e estava alistado nas forcas militares e policiais do Estado da Índia.
No contexto pós-revolucionário de 1974, não haveria provavelmente muito a fazer, mas à luz do Direito Internacional a invasão da “Índia Portuguesa” foi ilegal e não devia ter tido como desenlace o reconhecimento da “legitimidade” da Invasão. Mas foi e esse é uma das várias heranças do legado político de Mário Soares…
Após a rendição, os perto de 3500 prisioneiros portugueses ficaram detidos num campo de concentração e apenas foram resgatados seis meses depois por um renitente regime que os classificou como “traidores” e os recebeu em Lisboa com canos de pistola…
Prisioneiros portugueses (http://www.supergoa.com)
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