Introdução
Neste trabalho, referimos alguns pormenores do seu romance, das suas vidas privadas, e outras informações que achámos importantes.
Esperamos que o trabalho tenha as informações necessárias, e, que possa satisfazer a curiosidade de quem estiver interessado em saber alguma coisa sobre esta história de amor.
Desejamos que este trabalho dê tanto prazer em ler, como deu a fazer.
A segunda benção nupcial
D. Pedro e Dona Constança receberam a benção do casamento na Sé de Lisboa, em 1336. O momento mais solene foi na Sé de Lisboa, onde o arcebispo deu aos noivos a benção nupcial. Para todos era de júbilo aquela hora feliz.
D. Afonso IV e a rainha Dona Beatriz, sua mulher, sentiam especial contentamento por verem o jovem filho esposo de uma senhora que não seria certamente estéril como Dona Branca de Castela com quem, pela primeira vez, casara o Infante.
Tinham fé em Deus que a Dona Constança seria a mãe carinhosa de seus netos.
A bela garça
Viera de Castela, na companhia da princesa, uma linda moça, dama de honor, que se chamava Inês. Era uma donzela de linhagem fidalga, filha natural de D. Pedro de Castro, nobre guerreiro da Galiza, e bisneta do rei D. Sancho IV de Castela. Na verdade, era ainda parente de D. Pedro, sua prima em segundo grau.
Inês de Castro vivia na Corte com a senhora Dona Constança e D. Pedro, usufruindo os lazeres do dia a dia, a leitura, a música, as cabriolas do bobo, como convinha à gente de sangue nobre.
Os encantos de seu corpo, todavia, de que a Natureza com primor a dotara, fizeram-na atrair os olhares do Príncipe que não tardou a mostrar por ela uma preferência de simpatia e afeição. De olhos brilhantes, rosto prendado, de cabeleira abundante a cair sobre os ombros, de tronco roliço torneado pelo corpete de linho a mostrar o tronco generoso de encantos, a figura esguia de moça trigueira lembrava, no porte sereno e andar suave, em airoso traje pelos jardins do paço, uma garça de ternura e elegância. A formosura de Inês atraiu D. Pedro. A convivência com tão bela mulher em pouco tempo ateou o coração do Infante o amor e a paixão que não podia disfarçar.
Um estratagema falhado
A senhora D. Constança não vivia tranquila em seus paços, por causa de saber como D. Pedro cortejava a Dona Inês de Castro.
Tinha pensado, no entanto, que o próximo nascimento de um filho viria chamar o pai à recta razão de marido fiel que precisava de ser para viver um matrimónio feliz.
Era cada vez mais notório ao conhecimento das pessoas amigas que a rodeavam, nobres damas e senhores, o desvario amoroso do Príncipe.
Quando a princesa teve o primeiro filho, em 1342, o infante que houve o nome de Luís, foi grande o contentamento na Corte e até o povo festejou o acontecimento.
A Dona Constança lembrou-se, então, de usar a astúcia para afastar a Inês do esposo: convidou-a para madrinha do recém-nascido.
O estratagema era bem arquitectado pois que, sendo comadre de D. Pedro, a jovem fidalga teria certamente o bom senso de manter a devida distância entre ambos, como mandava a lei divina da Igreja.
Aparentemente, a princesa mãe tinha conseguido o seu intento. Mas não duraria muito a ilusão: na verdade, tal como anteriormente, sucedia-se o encontro dos amantes.
Um mal que vinha por bem
A saúde precária da senhora Dona Constança e os desgostos de uma vida amargurada não iriam permitir-lhe durar muito.
O infante D. Luís, pouco tempo depois de nascer, falecera. O segundo filho a quem dera o nome de Fernando, fora amamentado e era criado por uma ama de confiança.
A mãe escondia o mais possível a dor de sua desgraça conjugal, procurando a distracção e alívio no passeio pelas verduras do palácio, por entre arbustos e flores, na terra viçosa, em conversas amenas com as suas aias, e no gozo dos serões, no interior do solar, ouvindo a melodia dos jograis, o som mavioso da flauta, da viola, das trompas e das harpas, no aconchego do salão iluminado por archotes, adornado de tapeçarias e brasões.
A Dona Constança passava noites a meditar a sua triste sorte.
Em longas noites de Inverno, sentada junto à lareira ampla da torre, pensava muitas vezes em fazer peregrinação a Santiago de Compostela, para rogar protecção e paz a seu lar ameaçado. Não chegou porém, a realizar seus sonhos.
Efectivamente, morreu de parto, logo a seguir ao nascimento da filha Maria, em 1345.
Nem o físico nem o astrólogo da Corte haviam conseguido salvar a vida da princesa. A tragédia consternou a todos. Mas D. Pedro ficava livre para cair nos braços da Inês.
Cartas clandestinas
Por altura da morte de Dona Constança, andava o rei Afonso IV em grande questão com o bispo do Porto. Na verdade, o monarca submetera a cidade à sua jurisdição e o bispo lançou o interdito sobre a diocese. Este era um problema entre outros a resolver.
Habitualmente, com a sua comitiva de nobres, percorria o Reino, para ver como corria a administração, para aplicar justiça e para consumir alimentos de seus palheiros.
A questão dos amores entre D. Pedro e Dona Inês preocupava o velho soberano, mais que tudo.
Resolveu encontrar uma solução para o caso e obrigou a amante do filho a exilar-se para a terra de Albuquerque, na região da raia entre Castela e Portugal.
Frustaram-se, no entanto, as intenções do rei.
De facto, não separou os apaixonados que comunicavam entre si por cartas levadas e trazidas secretamente. Quem fazia o serviço de correio, para iludir melhor a vigilância dos ricos-homens, eram os almocreves que transportavam mercadorias de cidade para cidade, atravessando coutos e concelhos, segundo ordem dos burgueses seus patrões. Os almocreves levavam consigo as cartas de D. Pedro para Inês. Foi assim que o amor de Pedro e Inês, longe de perturbar-se ou amortecer, se tornou mais sólido e capaz de superar quaisquer obstáculos e adversidades.
Amor Louco
Ninguém podia suster a força do amor que unia, de modo irresistível, o Príncipe à mulher de sua paixão. Era, de facto, tão ardente e tão profundo o sentimento do casal enamorado que D. Pedro, contra ordem de seu pai, mandou vir Dona Inês para Coimbra. Acabava, assim, o desterro em Albuquerque e começava uma nova fase da vida para os dois, finalmente juntos.
O rei D. Afonso IV continha, apesar de tudo, o seu furor por uma tal desobediência. O soberano não queria, por sua vontade, entrar em guerra com o Infante porque sabia, por experiência própria, como eram terríveis as contendas familiares e que desgosto causaria a Dona Beatriz, sua mulher, a violência contra o filho herdeiro.
A existência de D. Pedro e da linda Inês era imensamente feliz. Habitavam em Santa Clara, na margem esquerda do rio Mondego.
Ali nasceram seus filhos: o primeiro chamou-se Afonso, o nome do avô, mas morreu criança de tenra idade; os outros, dois meninos ( João e Dinis ) e uma menina ( Beatriz ), cresceram com saudável robustez física, rodeados de carinho e ternura dos pais, como flores de esperança no vale que se abria ar puro do céu azul.
Razões de Estado
Tinham quase passado dez anos desde que falecera a senhora Dona Constança.
O pequeno infante Fernando, seu filho, vivia em Lisboa, nos paços reais do avô, sendo educado como um príncipe que, um dia, havia de subir ao trono de Portugal.
Ora acontecia que os conselheiros da Corte diziam e repetiam ao senhor D. Afonso IV que havia um grande perigo para a Coroa e para o futuro próximo do País se a Dona Inês viesse a ser rainha. Efectivamente, ela pertencia à nobre família dos Castros, de fidalguia ambiciosa, que não desistia de pretensões ao Trono Castelhano. Poderia muito bem dar-se o caso de um filho de Dona Inês vir a ser rei, ainda que para tal fosse preciso matar o legítimo herdeiro do Reino...
E não era difícil imaginar que essa nobreza poderosa pudesse subir ao Poder nos dois Estados Ibéricos, pondo fim à Independência da Pátria Portuguesa.
D. Afonso IV ouvia e ficava inquieto, sem saber o que havia de decidir. Chegou a pensar em reunir as Cortes para que lhe dessem opinião prudente. Tremia só de prever que, em tempos vindouros, os seus netos iriam lutar a ferro e fogo pela posse do Trono de seu avô.
O triste luar de Janeiro
Os primeiros tempos do ano de 1355 iam testemunhar uma tragédia de sangue. O príncipe D. Pedro nem presumia o que estava para acontecer quando se despediu da sua querida Inês e seus filhos para iniciar a caça de montaria pelos montes e florestas da Beira, a cavalo, com nobres amigos e escudeiros.
Por aqueles dias, D. Afonso IV subiu a Montemor-o-Velho com o seu séquito e ali reuniu os seus conselheiros de Estado, Diogo Lopes Pacheco, Álvaro Gonçalves e Pero Coelho, para tomar uma decisão sobre o destino da vida de Inês de Castro. Os argumentos que ouviu não o convenceram mas conseguiram, de facto, que a hesitação vencesse finalmente e entregasse a sorte da amante de D. Pedro nas mãos dos que a queriam ver morta.
No dia 7 de Janeiro, ao cair da noite, Inês de Castro foi surpreendida pela chegada dos reis e dos conselheiros. Não houve lÁgrimas nem gemidos de crianças inocentes que impedissem a execução da vítima.
Quando o luar brilhou no firmamento, veio encontrar a pobre Inês sem vida, degolada friamente pelo machado do carrasco. Nunca, na história de Portugal, houve ou haveria um crime de horror tão inclemente.
morte de Inês
A terrível vingança
Ao tomar conhecimento da morte de Inês, o príncipe D. Pedro arrebatou de cólera e raiva. O seu temperamento intempestivo reagiu com a ferocidade de um tigre ferido. Chamou às armas nobreza e povo de sua confiança, levantou Trás-os-Montes e Douro pela sua causa e desafiou o rei, seu pai, para uma guerra. Felizmente, a intervenção da rainha D. Beatriz conseguiu evitar o pior e levou os contendores à Paz de Canavezes, nos arredores do Porto. As promessas que fez de perdão aos seus inimigos depressa as esqueceu D. Pedro quando subiu ao Trono, no ano de 1357.
O ódio que tinha aos conselheiros atirou-os para o calabouço da prisão; escapou ,por sorte, Diogo Lopes Pacheco, que fugiu a tempo para terra de França.
A vingança foi consumada nos paços de Santarém. D. Pedro mandou amarrar as vítimas, cada uma a seu poste de suplício, enquanto os cozinheiros de sua Corte preparavam um lauto banquete de cerimónia. O rei não poupou requintes de horror no castigo implacável. Mandou o carrasco tirar a um o coração pelas costas e a outro o coração pelo peito. Por fim, como sentisse que não bastava a tortura tremenda, ainda teve coragem para trincar aqueles corações que, para ele, seriam malditos para sempre.
Noites de insónia
Cinco anos depois da morte de Inês de Castro, o rei D. Pedro afirmou solenemente na vila de Cantanhede, distrito de Coimbra, que, de facto, se casara com sua amada, clandestinamente, na cidade de Bragança. Logo, nesse ano de 1360, mandou construir, na igreja do mosteiro de Alcobaça, dois túmulos sumptuosos, um para Inês e outro para ele, quando a morte o levasse. Nunca mais o monarca amargurado teve companhia que lhe fizesse esquecer o grande amor da sua vida. Muitas vezes aconteceu que, nem de noite, tinha repouso tranquilo. Os pesadelos perturbavam-lhe o sono e o rei, para esquecer, saía para as ruas de Lisboa, acordava o povo ao redor, ateava fogueiras para a festa e dançava com ele até madrugada. Amiúde mandava matar bois e bezerros, distribuía carne aos pobres e necessitados, com um coração generoso que as gentes da capital e do Reino admiravam e amavam; não só porque era pródigo em dar de comer a quem tinha fome, mas também porque sempre soube fazer justiça, dar prémios aos bons e castigo aos maus. O povo não esqueceria nunca o soberano e diria, de geração em geração, que dez anos como aqueles que reinou D. Pedro nunca houve em Portugal.
Funeral da rainha
O senhor D. Pedro resolveu fazer a homenagem merecida a Dona Inês, rainha de Portugal. Ordenou então, a transladação dos restos mortais de Coimbra para o túmulo de Alcobaça. Foi um cortejo fúnebre de imponência nunca vista; pela estrada fora, por entre povo do campo que vinha chorar à berma do caminho, seguia a multidão de gente, com círios acesos, a melhor fidalguia do Reino, senhores e senhoras, a cavalgar corcéis, a passo solene, membros do clero e burgueses, todos em traje de pesar doloroso. Ao longo da viagem, a perda da rainha foi pranteada por grupos de carpideiras que soltavam gritos lancinantes e entoavam melodias plangentes; viam-se homens com cinza na cabeça, de cabelos rapados e sem barba, na expressão pública do luto. Escudeiros vestidos de estamenha crua transportavam a urna com o ataúde de Inês, carregando aos ombros os varais escuros, precedidos de alferes com pendões abatidos. Na frente do préstimo, um franciscano segurava uma enorme cruz de pinho. No transepto da igreja de Alcobaça, D. Pedro disse o último adeus à esposa. Nunca houvera paixão assim! Até nasceu a lenda de que o rei se desvairou a ponto de fazer coroar Inês, depois de morta, e obrigar a nobreza a beijar-lhe a mão de rainha.
Conclusão
Concluímos com este trabalho que noutras épocas existiram belas e românticas histórias de amor. Infelizmente, como pudemos observar, a história acabou mal. D. Inês foi cruelmente assassinada e D. Pedro, possesso de ódio, vingou-se dos assassinos da sua amada, torturando-os, sem misericórdia.
Observámos também que o amor ultrapassa distâncias, vence as forças mais poderosas, basta lutar. D. Pedro e D. Inês venceram as forças opressoras e durante algum tempo foram muito felizes, mas ( o já nosso conhecido “ mas “ ) certas pessoas maldosas conseguiram acabar com toda a felicidade, apenas num gesto, o machado atravessando o delicado pescoço da formosa D. Inês.
Poemas a D. Inês de Castro
Poemas a D. Inês de Castro
À morte de D. Inês de Castro
As filhas do Mondego a morte escura,
Longo tempo, chorando, memoraram. CAMÕES, Lusíadas. Canto 3, cxxxv
A UlinaSoneto dedicatório
Da miseranda Inês o caso triste
Nos tristes sons, que a mágoa desafina,
Envia o terno Elmano à terna Ulina,
Em cujos olhos seu prazer consiste.
Nos tristes sons, que a mágoa desafina,
Envia o terno Elmano à terna Ulina,
Em cujos olhos seu prazer consiste.
Paixão, que, se a sentir, não lhe resiste
Nem nos brutos sertões alma ferina,
Beleza funestou quase divina,
De que a memória em lágrimas existe.
Nem nos brutos sertões alma ferina,
Beleza funestou quase divina,
De que a memória em lágrimas existe.
Lê, suspira, meu bem, vendo um composto
De raras perfeições aniquilado
Por mãos do Crime, à Natureza oposto.
De raras perfeições aniquilado
Por mãos do Crime, à Natureza oposto.
Tu és cópia de Inês, encanto amado;
Tu tens seu coração, tu tens seu rosto...
Ah!, defendam-te os Céus de ter seu fado!
Tu tens seu coração, tu tens seu rosto...
Ah!, defendam-te os Céus de ter seu fado!
Longe do caro Esposo Inês formosa
Na margem do Mondego
As amorosas faces aljofrava
De mavioso pranto.
Os melindrosos, cândidos penhores
Do tálamo furtivo,
Os filhinhos gentis, imagem dela,
No regaço da mãe serenos gozam
O sono da inocência.
Coro subtil de alígeros Favónios
Que os ares embrandece,
Ora enlevado afaga
Com as plumas azuis o par mimoso,
Ora solto, inquieto,
Em leda travessura, em doce brinco,
Pela amante saudosa,
Pelos ternos meninos se reparte,
E com ténue murmúrio vai prender-se
Das áureas tranças nos anéis brilhantes.
Primavera louçã, quadra macia
Da ternura e das flores,
Que à bela Natureza o seio esmaltas,
Que no prazer de Amor ao mundo apuras
O prazer da existência,
Tu de Inês lacrimosa
As mágoas não distrais com teus encantos.
Debalde o rouxinol, cantor de amores,
Nos versos naturais os sons varia;
O límpido Mondego em vão serpeia
Co'um benigno sussurro, entre boninas
De lustroso matiz, almo perfume;
Em vão se doira o Sol de luz mais viva,
Os céus de mais pureza em vão se adornam
Por divertir-te, ó Castro;
Objectos de alegria Amor enjoam,
Se Amor é desgraçado.
A meiga voz dos Zéfiros, do rio,
Não te convida o sono:
Só de já fatigada
Na luta de amargosos pensamentos
Cerras, mísera, os olhos;
Mas não há para ti, para os amantes
Sono plácido e mudo;
Não dorme a fantasia, Amor não dorme:
Ou gratas ilusões, ou negros sonhos
Assomando na ideia, espertam, rompem
O silêncio da Morte. [...]
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