por Daniel Oliveira
O CDS passou uma campanha a dizer que ia ser a sua vez. A segurança, a bandidagem dos bairros de realojamento, os parasitas do rendimento mínimo e os malefícios da imigração foram menos importante desta vez. Esses são temas de reserva para quando as sondagens estão pior e há que apelar ao ódio social e ao medo. O que Paulo Portas tinha para dizer era mais simples: agora é a minha vez. Apostando no receio que Passos Coelho podia criar no eleitorado mais moderado, sonhava com 13, 14 ou 15 por cento. Subiu apenas um por cento. Pouco, tendo em conta o descalabro à esquerda.
Uma vitória, ainda assim. Mas não me esqueço de como antes se mediam as vitórias do CDS: as sondagens davam pouco, as expetativas eram baixas, e o CDS ganhava a comparar-se com essa realidade virtual. Agora as sondagens davam muito, as expetativas eram altas, e o CDS não aceita comparar-se com esses sonhos por cumprir. Agora tem razão, não a tinha antes.
Contados os votos, as negociações entre Paulo Portas e Passos Coelho começaram. Depois de uma campanha em que nada disse a não ser que ia participar num governo, fosse ele de quem fosse, em que não se comprometeu com nada a não ser com os barretes que enfiou na cabeça, Portas não vai começar agora a perder tempo com política. O que interessa é quantos ministérios (e quais) calha ao seu partido. Nada de errado nisto. Mas não deixa de ser interessante que o mesmo eleitorado que tanto se queixa do vazio da política, com a importância que se dá ao acessório e a superficialidade com que o que é essencial é tratado tenha reforçado o líder político que menos coerência tem no seu discurso e mais tempo perde com o mero jogo das cadeiras.
Sabemos que Portas quer mais barretes de ministro. Sabemos que sendo necessário para fazer maioria terá alguns. Sabemos que tendo o PSD conseguido mais do que se esperava e o CDS menos do que queria não terá tantos quantos desejava. Sabemos que provavelmente teremos mais ministérios do que o Passos falara na campanha, que isto tem de dar para todos. Só não sabemos o que quer o CDS fazer no governo. Coisa sem importância, claro está.
Arrastão
Publicado no Expresso Online
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