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segunda-feira, 20 de junho de 2011

Os Governos portugueses, nos próximos anos, não irão governar coisíssima nenhuma.

Os Governos portugueses, nos próximos anos, não irão governar coisíssima nenhuma.

Limitar-se-ão a seguir, entre baias económicas, aquilo que a troika determinou. Os senhores da troika pouco ou nada sabem de nós, das nossas idiossincrasias, das características da nossa cultura, da História que nos criou e moldou. São técnicos de cifras e de cifrões. Não quero dizer com isto que os senhores da troika sejam gente desalmada. Apenas lembro que são burocratas, lidos em breviários e catálogos mais economicistas do que económicos. É uma esquadria imponderada, aplicável sem modulações nem generosidade.

Também lembro que a Europa é, hoje, comandada pela direita e pela extrema-direita, através da sua internacional com sede em Bruxelas, o Partido Popular Europeu. E que a tendência é para que essa ideologia se mantenha e se desenvolva.

Não adianta protestar. Mas não podemos, nem devemos, deixar se protestar. Não podemos pender os braços com indiferença e inércia. As batalhas da humanidade estão repletas de recuos, de derrotas de aparentes esmagamentos. As forças de que dispomos, apesar de tudo, fazem mover as imobilidades. Tudo está em aberto, apesar de, na hora actual, tudo parecer estar perdido.

Chegámos a esta situação e a culpa é de quem? A pergunta, por insistente, tornou-se ritual. É bom e natural que assim seja. Nos grandes conflitos, nas enormes crises, nada é unilateral. Como nos divórcios não há um só culpado. Daí que o veemente apelo do dr. Eduardo Catroga, a uma plateia de jovens, para que estes levem Sócrates a tribunal, não é só absurda como tola.

Não temos políticos à altura dos acontecimentos que nos afligem. As soluções que têm sido aplicadas aos nossos problemas possuem um carácter imediato: são remendos mal cerzidos. Acresce a semelhança ideológica entre o PS e o PSD, e o amorfismo de uma Imprensa acrítica, que fez desaparecer uma das grandes tradições do jornalismo português: a das causas sociais, a dos combates políticos cruciais e resolutivos, como os que emergem a cada momento do nosso viver.

Os portugueses já perceberam que os dirigentes do "arco do poder" não possuem nem a estirpe do político nem a formação do estadista. Por isso mesmo, não podemos prolongar, indefinidamente, esta situação absurda e catastrófica. Sócrates tem um conflito com a verdade que se tornou fastidioso sem deixar de ser inquietante. Passos Coelho, com quem simpatizo pessoalmente, tem falta de rodagem. Anda há muitos anos "na política", mas expõe, amiúde, uma ingenuidade que chega a ser comovente. Tal como o outro, diz uma coisa para a desdizer; avança com projectos (como aquele de mudar a Constituição) e logo apaga a intenção com uma borracha cambada.

O português vive nesta confusão. Cada um dos chefes do PSD e do PS forja identidades que se não compadecem com a realidade, nem nada têm a ver com a formatura do nosso carácter e a dimensão das nossas exigências históricas. Por exemplo: até agora, nem o PSD nem o PS exemplificaram o que tentam fazer ante o projecto da troika: aceitar todos os pontos ou proceder a maleabilizações? As agressões verbais fazem prever o que será a campanha eleitoral. Não reprovo nem condeno um certo registo belicoso, como é próprio da natureza destes acontecimentos, desde que não se chegue ao nível do insulto e comporte uma certa pedagogia. Parece-me, no entanto, que as coisas não vão ocorrer assim.

Está muita coisa em jogo. O confronto entre Sócrates e Passos não é, somente, uma questão de estilo, embora o estilo seja, nesta pugnas político-eleitoriais, extremamente importante. No bojo das intenções de um e de outro, algo se aproxima e algo se distancia. A questão do poder é por demais complexa, até porque envolve negócios, interesses privados, omissões, mentiras e perplexidades. Não o deveria ser. Mas é.

A esquerda não tem conseguido reagir, eficazmente, aos avanços da direita, que se apossou do discurso social, tradicionalmente pertença da primeira, e, através de uma retórica, apoiada pela comunicação social, e por "formadores de opinião" reaccionários ou estipendiados, tem demarcado muito bem a sua posição. No caso português, repare-se na eficiência e na espantosa habilidade política de Paulo Portas. Este, treinado no jornalismo e em leituras acentuadas de grandes autores, sobressai dos seus pares de ideologia a uma distância considerável.

Nesta altura, aproveitando-se das debilidades de Passos Coelho e do desdém que aumenta em torno de Sócrates, Paulo Portas já não quer ser o "apêndice" do PSD, mas, antes, almeja disputar a primazia da direita e apresentar-se como possível candidato a primeiro-ministro.
A esquerda prepara-se para cumprir uma longa caminhada. Porém, a História, por ser uma deusa cega, ajeita muitas estradas. As próximas eleições podem proporcionar muitas surpresas.

b.bastos@netcabo.pt

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