O «bom aluno»
Nas comemorações do 10 de Junho, o Presidente da República, Cavaco Silva, decidiu promover a «aposta na agricultura», afirmando as suas preocupações com o «défice alimentar» português e propondo «um programa de repovoamento agrário do interior, criando oportunidades de sucesso para jovens agricultores».
Acontece que, há 20 anos, o professor Cavaco era o primeiro-ministro de Portugal com maioria absoluta, mas nessa altura as suas preocupações não se prendiam com défices alimentares ou sucessos de agricultores, jovens ou velhos: o seu empenho centrava-se no cumprimento escrupuloso dos ditames de Bruxelas, que ordenavam precisamente o contrário - o desinvestimento na produção agrícola nacional. E não se pense que a prestimosa CEE nos ia apenas às couves e aos nabos: o ataque era de raiz, por assim dizer, e praticou o abate sistemático de culturas inteiras e seculares, como as da vinha e as do olival.
Os 220 mil agricultores que, hoje, continuam a receber subsídios da União Europeia para não produzir já vêm desse tempo, quando o dinheiro vinha às carradas a «subsidiar» o desmantelamento programado da agricultura portuguesa – naturalmente para garantir a produção das potências agrícolas da União, nomeadamente a França e a Alemanha.
Nessa altura, o empenhado executante desse desmantelamento foi Cavaco Silva, que diligenciou os primeiros subsídios para os 220 mil agricultores que, hoje, continuam a ser pagos pela UE para não produzirem.
E não só: foi também Cavaco Silva quem promoveu o abate da frota pesqueira com subsídios comunitários, liquidando de caminho as pescas nacionais que, numa dúzia de anos, desceram de 70% para 30% no abastecimento do pescado de consumo interno, o que significa que deixámos de importar 30% para importarmos 70% do peixe que consumimos. Isto sendo o país com a segunda maior ZEE marítima (o primeiro é o Canadá) e também o segundo no consumo de peixe per capita (o primeiro é o Japão).
Na altura, o PCP foi extremamente claro na denúncia e apresentação de todos estes factos e previsões (basta consultar as notícias da época), ao que Cavaco Silva responderia com a arrogância do costume, remetendo os argumentos do Partido para a estafada despromoção do «discurso da cassete».
Mas quem tinha o «discurso da cassete» era o próprio Cavaco, quando afirmava estar no «pelotão da frente» da submissão aos ditames de Bruxelas, se gabava de Portugal ser «um bom aluno» no cumprimento desses ditames e promovia o turismo como o destino privilegiado do País, imaginando-o como imenso resort para uso e gozo da Europa gorda dos ricos.
O resultado está à vista: o ancentral país agrícola que sempre fomos já não produz alimentos que dêem para a sopa, tal como já nem barcos tem para apanhar os peixes que come, apesar de possuir das maiores zonas marítimas do mundo.
É por isso estranho ver agora o Presidente da República a promover recuperações agrícolas, qual Mestre preocupado com a falta de resultados da turma.
É que este «Mestre», há 20 anos atrás, foi precisamente o «bom aluno» que desarticulou a agricultura que agora diz querer recuperar.
Acontece que, há 20 anos, o professor Cavaco era o primeiro-ministro de Portugal com maioria absoluta, mas nessa altura as suas preocupações não se prendiam com défices alimentares ou sucessos de agricultores, jovens ou velhos: o seu empenho centrava-se no cumprimento escrupuloso dos ditames de Bruxelas, que ordenavam precisamente o contrário - o desinvestimento na produção agrícola nacional. E não se pense que a prestimosa CEE nos ia apenas às couves e aos nabos: o ataque era de raiz, por assim dizer, e praticou o abate sistemático de culturas inteiras e seculares, como as da vinha e as do olival.
Os 220 mil agricultores que, hoje, continuam a receber subsídios da União Europeia para não produzir já vêm desse tempo, quando o dinheiro vinha às carradas a «subsidiar» o desmantelamento programado da agricultura portuguesa – naturalmente para garantir a produção das potências agrícolas da União, nomeadamente a França e a Alemanha.
Nessa altura, o empenhado executante desse desmantelamento foi Cavaco Silva, que diligenciou os primeiros subsídios para os 220 mil agricultores que, hoje, continuam a ser pagos pela UE para não produzirem.
E não só: foi também Cavaco Silva quem promoveu o abate da frota pesqueira com subsídios comunitários, liquidando de caminho as pescas nacionais que, numa dúzia de anos, desceram de 70% para 30% no abastecimento do pescado de consumo interno, o que significa que deixámos de importar 30% para importarmos 70% do peixe que consumimos. Isto sendo o país com a segunda maior ZEE marítima (o primeiro é o Canadá) e também o segundo no consumo de peixe per capita (o primeiro é o Japão).
Na altura, o PCP foi extremamente claro na denúncia e apresentação de todos estes factos e previsões (basta consultar as notícias da época), ao que Cavaco Silva responderia com a arrogância do costume, remetendo os argumentos do Partido para a estafada despromoção do «discurso da cassete».
Mas quem tinha o «discurso da cassete» era o próprio Cavaco, quando afirmava estar no «pelotão da frente» da submissão aos ditames de Bruxelas, se gabava de Portugal ser «um bom aluno» no cumprimento desses ditames e promovia o turismo como o destino privilegiado do País, imaginando-o como imenso resort para uso e gozo da Europa gorda dos ricos.
O resultado está à vista: o ancentral país agrícola que sempre fomos já não produz alimentos que dêem para a sopa, tal como já nem barcos tem para apanhar os peixes que come, apesar de possuir das maiores zonas marítimas do mundo.
É por isso estranho ver agora o Presidente da República a promover recuperações agrícolas, qual Mestre preocupado com a falta de resultados da turma.
É que este «Mestre», há 20 anos atrás, foi precisamente o «bom aluno» que desarticulou a agricultura que agora diz querer recuperar.
- Henrique Custódio A talhe de foice
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