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quarta-feira, 20 de novembro de 2019

A trágica história da família kamikaze



Em meados de 1944, depois de várias derrotas estratégicas, como a perda da base de Saipan, desde que os americanos podiam lançar seus bombardeiros B-29, as coisas começaram a ficar difíceis para os japoneses na Frente do Pacífico. Se a isto acrescentarmos que a superioridade aérea aliada já era muito evidente que a brecha na capacidade industrial para produzir novas aeronaves se tornava cada vez maior em favor dos americanos, bem como a de recrutar novos pilotos.


A trágica história da família kamikaze

Juntava-se a tudo isso a falta de vontade para se render, e tínhamos então temos um cenário propício para o desespero, que conduzia à ideia de que o sacrifício representava a única solução. E a única solução foi criar uma unidade de ataque especial (Tokkotai), formada por voluntários para transformar seus aviões em torpedos guiados por piloto.

Foram os primeiros kamikazes organizados, ataques suicidas pontuais ocorreram desde o ataque a Pearl Harbor em 1941. Os primeiros kamikazes desfrutaram do elemento surpresa e tiveram verdadeiro sucesso, mas uma vez que os aliados entenderam a que enfrentavam os japoneses se tornaram presas fáceis.

Quase 4.000 pilotos morreram nestas missões suicidas, a maioria entre 18 e 24 anos. Mas eles achavam que morrer pelo Japão e seu imperador era muito honorável, sentiam-se os herdeiros dos samurais da Idade Média.

Ainda que existiu também muita manipulação e medo a serem tachados de covardes, as histórias dos kamikazes estão entre o fanatismo e a honra, mas nenhuma chega ao extremo da do piloto Hajime Fujii e sua esposa Fukuko.
A trágica história da família kamikaze
Hajime Fujii.
Hajime foi ferido em um mão durante a guerra Japão e China nos anos 30. Foi levado ao hospital e ali foi atendido por Fukuko, a enfermeira que viria a ser a sua esposa e com a qual teria duas meninas: Kazuko e Chieko.

Devido à incapacidade produzida pelas ferimentos em sua mão esquerda, ele foi enviado à Academia da Força Aérea do Exército Imperial Japonês onde, depois de graduar-se, foi nomeado instrutor.

Hajime passou a ser o encarregado formar aos futuros pilotos e, mais tarde, aos kamikazes, inculcando neles um profundo sentido de lealdade e patriotismo. Para Hajime não era uma coisa da boca para fora, ele cria mesmo naqueles ideais e com frequência dizia que morreria com eles se pudesse.

Então, depois de meses dizendo para seus alunos se matarem ao colidir com o inimigo, ele queria fazer o mesmo juntando-se aos kamikazes. Infelizmente, para ele, foi vítima de seu próprio sucesso. Popular entre seus alunos e oficiais de alta patente, e tendo provado seu valor na China, o Exército recusou seu pedido. Eles também citaram o fato de que ele era um homem de família, enquanto a maioria dos que enviavam nas missões de mão única eram solteiros.

Fukuko também pediu que ele ficasse fora da guerra. Afinal, tinha duas filhas e se ele morresse, o que aconteceria com elas? Mas, à medida que mais e mais alunos saíam em missões suicidas para nunca mais voltarem, Hajime não conseguiu se livrar da ideia de que estava traindo seu país. E isso precisamente fez com que o homem se sentisse um hipócrita. Por isso ele novamente apelou ao Exército para deixá-lo morrer. Eles recusaram também seu segundo pedido.

Logicamente, Fukuko alegrou-se com isso... no princípio. Com a passagem dos dias, via como a frustração e o tormento convertiam seu marido em um alma penada, e inclusive chegou a se sentir a responsável por aquela situação.
A trágica história da família kamikaze
Fukuko e Chieko.
Chegou então a vez de Fukuko questionar sua consciência e perguntar a ela mesma se o desejo de manter o marido ao lado dela e das duas filhas seria o certo ao se fazer. Ela chegou a conclusão que Hajime seria sempre assombrado por sua traição auto-percebida a seus alunos e seu país.

Ele se tornaria um "usugurai seishin" ("espírito obscuro"), apenas meio vivo. Na melhor das hipóteses, ele simplesmente deixaria de ser o homem honrado que sempre quis ser. Na pior, acabaria culpando-a e as filhas por sua desonra.

De modo que, atalhou o problema tomando uma decisão terrível. Na manhã de 14 de dezembro de 1944, enquanto seu marido estava na academia, Fukuko se vestiu com seu melhor quimono. Fez o mesmo com Kazuko, de três anos, e Chieko, de um. Finalmente, ela escreveu uma carta ao marido, pedindo-lhe que cumprisse seu dever com o país e não se preocupasse com a família. Elas esperariam por ele.

Então ela embrulhou Chieko em uma mochila de pano e amarrou o bebê nas costas. Tomando Kazuko pela mão, ela caminhou em direção ao rio Arakawa, perto da escola onde seu marido ensinava. Ali ela pegou uma corda, amarrou o pulso de Kazuko ao seu e pulou nas águas geladas do rio.

A polícia encontrou os corpos mais tarde naquela manhã, e Hajime foi levado ao local quando elas estavam sendo enterradas. Na noite seguinte, ele escreveu uma carta para sua filha mais velha, implorando para que cuidasse da mãe e da irmã mais nova até que ele pudesse se juntar a elas.

- "É dolorosamente triste que junto com sua mãe e sua irmã vocês se sacrificaram por seu pai devido a meu fervente desejo de dar a vida por nosso país. [...] Papai estará muito cedo com vocês. Nesse momento te abraçarei enquanto dorme. Se Chieko chorar, cuida bem dela. [...] Papai realizará uma grande façanha no campo de batalha e vou levá-la como presente."
A trágica história da família kamikaze
A carta de Hajime.
Então ele executou o yubitsume (cortou o dedo mindinho) e com seu próprio sangue, assinou seu terceiro apelo ao Exército. Em 8 de fevereiro de 1945, Hajime se tornou o comandante do 45º Esquadrão Shinbu, que ele chamou de "kaishin" ("espírito alegre"). Pouco antes do amanhecer de 28 de maio, os nove aviões voaram para Okinawa, cada um carregando um piloto e uma artilheiro. Para sua sorte, eles encontraram os destroyers USS Drexler e o USS Lowry.

Hajime deu a ordem e lançaram-se contra eles. Sete aviões foram derrubados antes de atingir seus objetivos e só dois conseguiram impactar contra o Drexler, que acabou afundando em minutos com toda a sua tripulação. Hajime estava em um deles. Ele se reuniu com sua família.
Fonte: War History.

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