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quinta-feira, 21 de novembro de 2019

O fetiche da farda


Hoje vai de sangue quente e com o coração na boca, a propósito da manifestação das forças de segurança, daquilo que tenho lido a propósito da mesma, e do culto à autoridade, próprio do fascismo, com que são agraciados.


Recebem pouco para a profissão que é e os riscos que correm? Existem, anualmente, mais acidentes de trabalho, alguns resultando em morte, em profissões com salários mais baixos e com mais riscos associados. Também se morre muito em pedreiras, em minas, nas indústrias transformadoras ou na construção civil, e nunca vi ninguém endeusar mineiros ou operários da construção civil. É inconcebível que o ordenado de início de carreira seja 789 euros? É! Claro que é! É inconcebível que o ordenado de qualquer trabalhador seja de 789 euros. Se não chega para viver, não serve para trabalhar. É por isso que a CGTP-IN exige um salário mínimo de 850 euros e um aumento mínimo de 90 euros para todos os trabalhadores já em Janeiro de 2020. Um polícia merece os mesmos direitos de qualquer outro trabalhador, e tem os mesmos deveres que qualquer outro trabalhador, e tal como qualquer outro trabalhador, o seu trabalho pode e deve ser escrutinado e criticado.

 Li também que o Ventura foi para a Assembleia da República mostrar facturas de equipamento e armas (o spray de gás pimenta é considerado uma arma) que certos polícias lhe enviaram, como prova de que têm de adquirir equipamento do seu bolso. Ou seja, uns quantos polícias decidiram equipar-se para o faroeste, achando-se um misto de Dirty Harry e Judge Dredd, e as chefias deixaram? Por norma, nenhum operário escolhe a farda e a ferramenta que usa; em regra, existe uma folha de fardamento e uma ferramentaria, e é daí que lhe é atribuída a ferramenta e os equipamentos de protecção individual necessários para a tarefa a desempenhar. Noutros tempos existiam nas fábricas fiscais de segurança – e desde que deixaram de existir aumentou o número de acidentes – que conferiam se o trabalhador estava devidamente equipado antes de pegar ao serviço. E para estes polícias, nada? Não têm chefias que os chamem à pedra? Compram os acessórios que entendem? E já agora: compram onde e como? Têm que fazer prova que são polícias, ou adquirem equipamento militar na boa? Peçam lá as facturas ao Ventura e investiguem esta prática, que isto mais parece um esquema de armamento duma milícia do que uma prática digna de agentes da autoridade do Estado.

“Falas assim mas quando te vês em apertos chamas a polícia!” Pá, por acaso nunca chamei a polícia para nada. Mas e que chame? Quando tenho uma ruptura num cano chamo um canalizador, e quando tenho um AVC chamo um médico. Eu chamo o profissional que me pode ajudar na hora do aperto. O polícia é apenas um desses profissionais, não é mais que ninguém, e não pode agir em impunidade, sem escrutínio. Se um guarda da GNR baleia mortalmente uma criança, isto tem que ser averiguado. Haver um sentimento geral na população de que o guarda Hugo Ernano – Que foi cabeça de lista pelo CHEGA, confirmando todas as suspeitas de racismo que sobre ele pairavam – deve ser absolvido, que é ele próprio uma vítima das circunstâncias, que a culpa é do pai do puto, ao mesmo tempo que não houve um segundo de compaixão pela criança morta, é sintomático de um culto à autoridade nada saudável. E que o próprio nunca se tenha mostrado arrependido só revela que temos de escrutinar muito melhor os gajos a quem pomos uma farda e damos uma arma. Um gajo que limpa o sebo a uma criança, ainda que por acidente, e nunca sente remorsos claramente não está apto a ser figura de autoridade.

Diz-se que o “Movimento Zero”, um grupo informal de polícias fascistas e militaristas criado na sequência do julgamento dos agressores racistas da esquadra de Alfragide, anunciou para hoje uma iniciativa durante a manifestação das forças de segurança. Este movimento diz que surge para reivindicar as mesmas coisas que os sindicatos do sector, acusando os mesmos de não terem lutado o suficiente. Dizem isto, mas curiosamente só surgiram para defender a impunidade dos polícias que cometeram crimes, crimes ainda mais graves porque foram cometidos com a farda vestida, dentro de uma esquadra, com a nossa bandeira ao ombro. São crimes que deveriam ter sido julgados com mão pesada, porque nos envergonham a todos. E quem compõe ou apoia este movimento – e esse apoio tem sido manifestado impunemente, quer dentro, quer fora das forças de segurança -  tem de ser julgado, sob risco de estarmos a assistir à formação duma milícia fascista a mando do CHEGA, do Ventura e de quem os promove e financia. Risco esse que, tendo em conta que o Ventura acabou de discursar a partir da carrinha de som da organização da manifestação, é bem real, e é urgente que sejam tomadas medidas; a história mostra-nos – e veja-se a situação do golpe de estado na Bolívia – que a insurrecção dentro das forças da ordem nunca é progressista e coloca-se sempre ao lado do fascismo.

https://manifesto74.blogspot.com/

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