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quinta-feira, 28 de novembro de 2019

A HISTÓRIA TRÁGICA DO HOMEM ATÓMICO - A HISTÓRIA DO HOMEM MAIS RADIOATIVO DO PLANETA


Harold McCluskey acabara de voltar ao trabalho depois de uma greve de cinco meses quando ocorreu o acidente. A planta de beneficiamento de plutónio ficou fechada todo esse tempo e o material com o qual trabalhava se tornou instável. Eram 14:45 de 30 de agosto de 1976 quando viu fumaça do outro lado de sua caixa de luvas e tentou escapar. Um instante depois, uma tanque de mistura explodiu e Harold inalou a maior dose de radiação já registada em um ser humano. Desde então passou a ser Atomic Man, o autêntico homem atómico.

A trágica história de Atomic Man, o homem mais radioativo do planeta
Nos anos 70, o complexo nuclear de Hanford já tinha entrado em declive. Estabelecido nas margens do rio Columbia como parte do Projecto Manhattan, a usina tinha sido o lar do primeiro reator nuclear a grande escala e o lugar de onde saiu o plutónio da primeira arma nuclear e da bomba que foi lançada sobre Nagasaki. Hoje é conhecido como "o lugar mais tóxico da América", mas nenhum acidente foi tão grave como o de Harold.
O acidente apesar da cautela
A trágica história do Homem Atômico, o humano mais radioativo do planeta
Uma vista aérea de Hanford.
Ocorreu quando o operador químico de 64 anos trabalhava na câmara de troca iónica na ala 242-Z. Para extrair o amerício, um elemento artificial 50 vezes mais radioativo que o plutónio, Harold tinha que bombear ácido nítrico muito concentrado através de uma camada de resina. Ele era um homem experiente, cauteloso e sabia que a resina podia estar instável por ter ficado estocada muito tempo, mas seu chefe pediu que assim procedesse.

A câmara tinha uma grossa janela de vidro de chumbo para ver o que ocorria no seu interior e era necessário usar as luvas especiais fixas na própria coluna para manipular a troca. Ao acrescentar o ácido a partir do alto de uma escada, Harold ouviu um apito desconhecido e ficou petrificado. Quando o apito se intensificou, gritou:

- "Esta coisa vai explodir!"
O apito seguido de explosão
A trágica história do Homem Atômico, o humano mais radioativo do planeta
A sala onde ocorreu o acidente.
Um lampejo de luz azul iluminou a sala e uma forte explosão fez com que tudo voasse pelos ares. O corpo de Harold ficou coberto de sangue, fragmentos de metal radioativo e vidro de chumbo. No processo da explosão sua máscara de respiração foi arrancada e o ácido nítrico queimou seu rosto. Tinha material radioativo incorporado em sua pele e vapores de amerício em seus pulmões. Harold acabava de absorver a maior dose de radiação jamais registada em um técnico nuclear, 500 vezes superior ao que uma pessoa poderia receber sem sofrer nenhum dano irreparável em seu organismo.

Os sensores de radioatividade fizeram soar os alarmes em todo o edifício. Médicos e auxiliares foram ao lugar do acidente com máscaras e roupas especiais para socorrê-lo. Harold foi levado ao centro de descontaminação enquanto murmurava "não estou enxergando nada". O ácido o deixou temporariamente cego e a explosão danificou sua audição.
Monitorado e isolado como se fosse um extraterrestre.
A trágica história do Homem Atômico, o humano mais radioativo do planeta
Harold sendo tratado pelos médicos depois do acidente.
Encerrado em um tanque de aço e concreto, ele ficou três semanas sem contato com ninguém por medo que a radiação contaminasse outras pessoas. Ele mesmo explicou à revista People que foi monitorizado como um extraterrestre, com máscaras e roupas protetoras; mas não podia ver nem entender claramente as enfermeiras. Passou um mês até que sua família teve permissão para se aproximar a menos de 10 metros, recordou sua esposa na entrevista.

Do corpo de nove médicos que acompanhavam o seu caso, quatro pensaram que tinha 50% de probabilidade de sobrevivência. O resto simplesmente negava com a cabeça. Mas viveu. Durante cinco meses ele recebeu mais de 600 vacinas DTPA de zinco, um fármaco que se liga aos metais radioativos.

Ele era lavado e barbeado todo os dias pelas enfermeiras, que jogavam as toalhas e a água de seus banhos em um depósito de resíduos nucleares. Era tal a quantidade de amerício que tinha em seu corpo que a cada exalação disparava o contador Geiger.
A cura e a vida depois do acidente.
A trágica história do Homem Atômico, o humano mais radioativo do planeta
Harold McCluskey depois do acidente.
No entanto, o tratamento funcionou e seu nível de radioatividade caiu 80% depois de quase meio ano de isolamento. Harold pôde voltar a casa, onde teve problemas de outro tipo. Na entrevista da People ele recordou como seus amigos ligavam e diziam que ele era um bom amigo, mas que jamais poderiam voltar a visitar sua casa.

Ele também confessou que fazia rodízio nas barbearias e lojas comerciais que comprava para não arruinar o negócio de ninguém, porque todo mundo, que o conhecia, fugia dele como o diabo foge da cruz. Na imprensa ele ficou conhecido como Homem Atómico, que soava como o apelido de um super-herói, mas sua vida se parecia mais à de um homem solitário com uma doença mortal e contagiosa.
Apesar dos pesares o homem nunca desanimou.
Depois do acidente, Harold sofreu uma infecção renal, quatro ataques cardíacos e um transplante de córnea, mas nunca desanimou. As despesas médicas foram pagas pelo Departamento de Energia dos Estados Unidos, que também lhe ofereceu uma gorda indemnização.

Em Hanford, o lugar do acidente passou a se chamar "sala McCluskey" e permaneceu quase intacto -salvo por alguma limpeza ocasional- até que foi demolido em 2017 como parte de um trabalho de limpeza que apagou do mapa a antiga usina.

Em 1987, quando foi visitar a filha, Harold sentiu as pernas bambearem, o coração acelerado e desmaiou para não acordar mais. O diagnóstico da morte foi insuficiência cardíaca congestiva, que não tinha nenhum vínculo com a radiação, o que deixou os cientistas perplexos. Harold McCluskey tinha 75 anos.


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