Renato Teixeira (in facebook)
Nos últimos tempos assistimos à legalização de um partido inconstitucional, à eleição de um deputado que faz parte de uma organização criminosa, já se ouviram especialistas na rádio pública dizer que no tempo da ditadura ninguém ia preso por falar mal do Salazar, já se viram jornalistas a fazer graçolas esclavagistas, já se leram infinitos articulados sobre como a liberdade de expressão deve prevalecer à salvaguarda da liberdade colectiva e todos já nos deparamos com amigos de infância, do trabalho ou do bairro, nas redes sociais ou nos balcões dos cafés de esquina, com gente a aplaudir de cátedra o regresso dos que uma vez no poder serão os seus carrascos.
A normalização é parte do processo do recrudescimento, uma vez que fascismo nenhum se recupera sem que primeiro se normalize. Os actos de normalização não podem ser vistos com condescendência, sem responsabilidade, achando que entre o pequeno acto e as grandes consequências não há mais do que uma relação relativa, isenta de causalidade. Nada mais errado e quem ainda tenha dúvidas, é olhar os casos dos EUA e do Brasil, onde o poder é exercido por dois improváveis facho-fundamentalistas.
A capitulação da esquerda democrática ao diktat da austeridade não deve levar ninguém a reconciliar-se com a ditadura que devemos deixar, bem enterrada, no século onde ela quase enterrou a humanidade. Para o conseguirmos, a esquerda tem que deixar de ter medo de ser de esquerda, tem que perder o vício de falar apenas para dentro de si própria, e não pode ficar refém de uma agenda de culto, virada de costas para as questões do trabalho, da economia e da vida colectiva, palcos onde o recrudescimento nunca deixa de jogar as suas cartas. Vamos a tempo de inverter o sentido do pior dos ventos, mas é bom que aceleremos o passo.
Foto via Rui Galiza.
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