Desde cedo que me opus ao fascismo .
Comecei por ouvir histórias na barbearia do meu pai e como fui trabalhar muito jovem para a cidade de Faro bem cedo comecei a abrir a pestana.
Tive a felicidade de ter como patrão uma pessoa que me ensinou muito e paralelamente encetar amizade com um carteiro que era comunista.
Nesse tempo depois de sair da minha aldeia o Mestre Virgílio (albardeiro) estabeleceu-se em Faro com a sua casa onde fazia colchões (enxergas) e ao seu lado num depósito que vendia cal estava um velhote o Ti Freitas que em tempos fora contrabandista.
O Mestre VIrgílio um ferveroso anti salazarista e comunista enquanto colocava o jornal"A BOLA" em cima da mesa de trabalho, ia explicando aos jovens como eu, questões da guerra colonial e outras coisas que sabiam bem ouvir porque eram proibidas.
Mais tarde o mestre Virgílio foi preso pela PIDE. A mulher dele contou-me passo a passo como foi a sua prisão logo no dia seguinte. O mestre Vírgilio por ser ousado e ser corajoso e sofreu muito.
A última vez que estive com ele antes de falecer foi no primeiro 1º Maio Livre depois do 25 de Abril onde exibiu para mim e para outros, as costas retalhadas enquanto esteve na prisão.
Acabou por falecer já com muita debilidade física e mental.
O Ti Freitas era um homem extraordinário ! contava as história do contrabando e acrescentava também umas pitadas de política que deliciavam ouvir.Eu almoçava com ele no depósito de cal para ouvir as suas aventuras e os seus conselhos.
Desde o primeiro momento que recordo esses testemunhos anti Salazar que foram acrescentando em mim uma vontade de combate e através do meu amigo carteiro comecei a ler os livros proibidos sobre o Estado Novo, o livro do José Afonso com as canções políticas, e também através de outro amigo e familiar os primeiros livros sobre a Guerra colonial onde se mostravam as atrocidades em Angola.
Visitei uma papelaria que tinha um alçapão com livros proibidos debaixo de uma estante na própria sala onde estavam os outros autorizados.
Em idade próxima de cumprir a tropa escrevi para o Governo uma carta para pedir amparo de mãe para um amigo da aldeia e tive dissabores com o presidente da junta que me avisou e me disse: `o rapaz ! sabes no que te estás a meter . O certo é que escrevi e recebi toda a documentação que depois tratei de regularizar e o meu amigo safou-se do serviço militar
A partir daí comecei a procurar amigos que fossem do lado contestatário ao regime, e acabei por fazer grande amizade com outro jovem da mesma idade que me acompanhou muitos anos tanto no trabalho em Vale do Lobo, onde pela primeira vez li Marx e Lenine em cópias dactilografadas e traduzidas do francês e como não poderia deixar de ser o grande Che Guevara. Depois eu e o meu amigo Sambrasense cumprimos tropa juntos na recruta, no Porto, onde eu era operador telex e ele radio telegrafista e na Guiné para onde ambos fomos mobilizados.
Eu fiquei em Bissau e o meu amigo foi para Mansoa e só nos encontramos depois de cumprida a comissão .
Durante o tempo do serviço militar no Porto, em Lisboa e na Guiné conspirei sempre ! e aí os meus contactos já eram com bastante consciência política e e abrangiam outras pessoas desde a Luar até ao PRP (Partido Revolucionário do Proletariado) de Carlos Antunes e Isabel do Carmo e outros que não identificados estariam ou simpatizavam com o PCP.
Nesse tempo com a irreverência da juventude fiz algumas coisas que me poderiam ter custado muito caro.
Fiz muitos amigos e camaradas logo após a Revolução de Abril. Alguns ainda me contactam, outros vejo-os na festa do Avante e outros desapareceram como por um passe de mágica.
Nas manifestações, nas largas dezenas em que participei e nas do 1º de Maio, vivi muitos momentos felizes em unidade com o o nosso povo cheio de esperança para contrabalançar o desgosto do 25 de Novembro.
No período revolucionário, quando a democracia representativa foi institucionalizada e apareceram os primeiros partidos de direita, a minha luta junto dos meus camaradas continuou acesa contra os fascistas inveterados. O fascismo existia mas muitos tinham vergonha e tinham medo, A ESQUERDA METIA RESPEITO E OS TRABALHADORES TINHAM CONSCIÊNCIA DE CLASSE
Hoje os tempos são muito diferentes ! com a complacência da "justiça" dos presidentes da república, da imprensa e das televisões, os reaccionários passaram a saltar de onde se escondiam e a surgir às claras. Mostram-se agora já sem disfarces e até gozam com o que resta da classe trabalhadora.
O fascismo, com outros disfarces, manipula e confunde a cabeça das pessoas , as que se desinteressaram da política,as retardadas, e está a implantar uma sociedade egoísta, uma sociedade assente no ódio, na desigualdade, no racismo.
Tal como nos tempos de jovem tenho a mesma vontade se não a força física de os combater e ver erradicados deste mundo que sem dúvida seria mais fraterno, livre, dessa corja de assassinos, agiotas e dromedários..
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