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Na oficina de trabalho de Mário Grilo, a palavra ‘não’ foi sempre proibida.
A cada pedido diferente, novidade no catálogo próprio que foi construindo como sapateiro, o artesão habituou-se a responder com um aceno de concordância, tomando nota da devida encomenda.
Na data combinada, nunca falhou um par de botas para entregar ao cliente: “Temos de encontrar soluções.”
É a esta vontade de aprender e ao gosto por abraçar desafios que atribui o seu sucesso.
À capacidade de trabalho também.
Mário persiste há 35 anos na sua arte e reconhece que o percurso implicou sacrifícios pessoais, muitas horas entre couro e moldes diariamente, dedicação ilimitada e gosto pelo ofício.
Nenhum dos requisitos lhe faltou, desde que aos 12 anos pisou pela primeira vez uma oficina de sapateiro, para ocupar as férias de verão.
Natural de Cuba, no Alentejo, por aí se manteve. Mas não foram fáceis os primeiros anos. “Como em muitos outros ofícios, a tradição era que ninguém ensinava ninguém”, recorda. A alternativa foi aprender sozinho, quando além das pequenas reparações lhe começaram a pedir sapatos novos.
“Fui sempre muito curioso”, explica Mário Grilo, sentado na sua loja atual, enquanto ajeita um molde entre as mãos. “Como os mais velhos não me ensinavam, comecei a desmanchar botas velhas, para perceber como se fazia.” Sentia o peso da responsabilidade.
“As peles eram caras” e precisava de tomar as decisões corretas. Ainda com poucas ferramentas e pouca variedade de materiais, Mário foi arriscando e fez o negócio crescer aos poucos.
“No início aproveitava tudo o que era mais rijo para fazer os moldes e usava a máquina de costura da minha mãe para tentar coser”. O sapateiro ainda guarda esses primeiros desenhos, centenas de cartões rabiscados com medidas e traços a indicar as marcas para os recortes.
“Tenho tudo guardado, incluindo o que consegui recuperar de sapateiros antigos.” Não que lhe tenham sido oferecidos. Mário sorri. “Aqui na terra havia um a quem eu me fartei de pedir os moldes, quando ele deixou de trabalhar. Nunca mos deu. Mas não é que um dia passei pela porta dele e os vi num monte, para serem deitados fora? Peguei neles todos e trouxe-os comigo...”
A sua especialidade são as botas alentejanas, e as encomendas chegam-lhe de todo o lado.
Puxa do telemóvel para mostrar a fotografia de um cliente satisfeito, com dois pares de botas nas mãos. “Enviou-me a mensagem para dizer que já os tinha recebido.” Foi já há algum tempo, mas Mário está sempre a receber novas mensagens no Facebook ou novos sms: “Há poucos dias recebi outro de um cliente na Malásia, uma encomenda para lhe fazer um par de botas novas.”
É visível o orgulho com que fala da profissão e de como se sente uma espécie de guardião de uma arte que quase ninguém quer já abraçar. “Não são atividades nada, nada protegidas.
Daí que muitos fiquem pelo caminho. Ao longo dos anos eu tenho dado formação a muita gente, mas ninguém continuou.” Mário lembra-se de um conselho antigo. “Diziam-me para não desistir. ‘Um dia vais ficar sozinho...’ Bem sabiam do que falavam”, recorda.
Mas Mário tem planos para tentar contrariar essa tendência. Prepara-se para abrir una nova oficina, de raiz, um espaço de 150 m2 onde passará a funcionar o “centro interpretativo da bota alentejana”, para mostrar o que aprendeu e para ensinar aos outros.
Interrompe o trabalho que tem em mãos para mostrar o resto da casa, onde o cheiro a couro invade cada uma das pequenas divisões. Não é grande a loja, mas nela cabem várias estantes com exemplares do seu trabalho, uma montra que exibe alguns deles para o exterior e uma outra sala, repleta de máquinas, ladeadas por rolos de linhas de várias cores, material para o trabalho de todos os dias.
O couro já quase não lhe esconde segredos. Sabe como torná-lo mais macio, como o recortar para melhor o moldar aos pés ou torná-lo mais elegante.
E sabe também onde encontrar as melhores peles para cada função, mesmo que a escassez dos materiais vegetais e das peles naturais o tenha obrigado a começar a procurar fora o que antes encontrava em Portugal. “Teve de ser. Hoje vejo-me forçado a comprar muito em Espanha e Itália, por exemplo.”
Os clientes também mudaram. “Antes entravam aqui homens de voz grossa, com as botas a baterem pesadamente no chão.” Saiam muito as botas de trabalho, “sempre mais redondas, porque feitas de um material mais grosso e menos maleável”, feitas para durar. Atualmente os pedidos apelam mais ao conforto e obedecem a critérios de moda.
Mário não vê nisso um problema. Até o tradicional se pode adaptar, garante, desde que não se abdique da qualidade.
A cada pedido diferente, novidade no catálogo próprio que foi construindo como sapateiro, o artesão habituou-se a responder com um aceno de concordância, tomando nota da devida encomenda.
Na data combinada, nunca falhou um par de botas para entregar ao cliente: “Temos de encontrar soluções.”
É a esta vontade de aprender e ao gosto por abraçar desafios que atribui o seu sucesso.
À capacidade de trabalho também.
Mário persiste há 35 anos na sua arte e reconhece que o percurso implicou sacrifícios pessoais, muitas horas entre couro e moldes diariamente, dedicação ilimitada e gosto pelo ofício.
Nenhum dos requisitos lhe faltou, desde que aos 12 anos pisou pela primeira vez uma oficina de sapateiro, para ocupar as férias de verão.
Natural de Cuba, no Alentejo, por aí se manteve. Mas não foram fáceis os primeiros anos. “Como em muitos outros ofícios, a tradição era que ninguém ensinava ninguém”, recorda. A alternativa foi aprender sozinho, quando além das pequenas reparações lhe começaram a pedir sapatos novos.
“Fui sempre muito curioso”, explica Mário Grilo, sentado na sua loja atual, enquanto ajeita um molde entre as mãos. “Como os mais velhos não me ensinavam, comecei a desmanchar botas velhas, para perceber como se fazia.” Sentia o peso da responsabilidade.
“As peles eram caras” e precisava de tomar as decisões corretas. Ainda com poucas ferramentas e pouca variedade de materiais, Mário foi arriscando e fez o negócio crescer aos poucos.
“No início aproveitava tudo o que era mais rijo para fazer os moldes e usava a máquina de costura da minha mãe para tentar coser”. O sapateiro ainda guarda esses primeiros desenhos, centenas de cartões rabiscados com medidas e traços a indicar as marcas para os recortes.
“Tenho tudo guardado, incluindo o que consegui recuperar de sapateiros antigos.” Não que lhe tenham sido oferecidos. Mário sorri. “Aqui na terra havia um a quem eu me fartei de pedir os moldes, quando ele deixou de trabalhar. Nunca mos deu. Mas não é que um dia passei pela porta dele e os vi num monte, para serem deitados fora? Peguei neles todos e trouxe-os comigo...”
PERITO EM BOTAS ALENTEJANAS
Os moldes são um bocado a assinatura do artesão, explica, porque “idealizar um modelo é o mais difícil”. Para o sapateiro de Cuba, também é a parte favorita do trabalho. Implica descobrir soluções para o efeito pretendido, adaptando os modelos, para chegar ao melhor par de botas, à medida do cliente.A sua especialidade são as botas alentejanas, e as encomendas chegam-lhe de todo o lado.
Puxa do telemóvel para mostrar a fotografia de um cliente satisfeito, com dois pares de botas nas mãos. “Enviou-me a mensagem para dizer que já os tinha recebido.” Foi já há algum tempo, mas Mário está sempre a receber novas mensagens no Facebook ou novos sms: “Há poucos dias recebi outro de um cliente na Malásia, uma encomenda para lhe fazer um par de botas novas.”
É visível o orgulho com que fala da profissão e de como se sente uma espécie de guardião de uma arte que quase ninguém quer já abraçar. “Não são atividades nada, nada protegidas.
Daí que muitos fiquem pelo caminho. Ao longo dos anos eu tenho dado formação a muita gente, mas ninguém continuou.” Mário lembra-se de um conselho antigo. “Diziam-me para não desistir. ‘Um dia vais ficar sozinho...’ Bem sabiam do que falavam”, recorda.
Mas Mário tem planos para tentar contrariar essa tendência. Prepara-se para abrir una nova oficina, de raiz, um espaço de 150 m2 onde passará a funcionar o “centro interpretativo da bota alentejana”, para mostrar o que aprendeu e para ensinar aos outros.
Interrompe o trabalho que tem em mãos para mostrar o resto da casa, onde o cheiro a couro invade cada uma das pequenas divisões. Não é grande a loja, mas nela cabem várias estantes com exemplares do seu trabalho, uma montra que exibe alguns deles para o exterior e uma outra sala, repleta de máquinas, ladeadas por rolos de linhas de várias cores, material para o trabalho de todos os dias.
O couro já quase não lhe esconde segredos. Sabe como torná-lo mais macio, como o recortar para melhor o moldar aos pés ou torná-lo mais elegante.
E sabe também onde encontrar as melhores peles para cada função, mesmo que a escassez dos materiais vegetais e das peles naturais o tenha obrigado a começar a procurar fora o que antes encontrava em Portugal. “Teve de ser. Hoje vejo-me forçado a comprar muito em Espanha e Itália, por exemplo.”
Os clientes também mudaram. “Antes entravam aqui homens de voz grossa, com as botas a baterem pesadamente no chão.” Saiam muito as botas de trabalho, “sempre mais redondas, porque feitas de um material mais grosso e menos maleável”, feitas para durar. Atualmente os pedidos apelam mais ao conforto e obedecem a critérios de moda.
Mário não vê nisso um problema. Até o tradicional se pode adaptar, garante, desde que não se abdique da qualidade.
1 comentário:
Gostaria de obter um par de botas ref. 29 em sola número 39, quanto me ficaria e como fazer a encomenda? Obrigado
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