Tiago Brandão Rodrigues, ministro da Educação, começou o ano com uma entrevista a uma rádio que tem nos jovens o público alvo. Recordou os campos de férias, Cambridge e contou ser um "melómano". Um quê?
Foi nos campos de férias da juventude que Tiago Brandão Rodrigues desenvolveu um talento imprescindível na política: perante uma plateia, evitar o silêncio, dizer qualquer coisa. O treino do ministro da Educação foi adquirido ao som de "O Anzol" dos Rádio Macau, naquela parte da música em que se canta "já não há nada de novo aqui/debaixo de sol". Ora, o miúdo Tiago Brandão, segundo recordou ontem o ministro, acrescentava: "em cima do Sol, ao lado do Sol, dentro do Sol." Ao mesmo tempo que acompanhava com uma coreografia.
Como era de esperar, mais do que uma conversa política, a primeira entrevista de 2017 do governante decorreu no ministério debaixo de uma descontraída anarquia, quer por parte dos entrevistadores, cinco jornalistas da "Rádio Miúdos", quer pelo próprio titular da pasta da Educação. Tiago Brandão, contou o próprio, já foi "feliz a fazer rádio", mais precisamente na Rádio Universidade de Coimbra, onde apresentou o programa "Polissemias", duas horas semanais de conversa política. O mais aproximado que a Rádio Miúdos tem é o "Aqui Há Histórias", "para ouvir três vezes por dia, em casa, na escola ou onde quiserem. Histórias para miúdos, todos os dias".
Mas, vamos à questão que se impõe ao ministro da Educação. Pedro: "Ouve rádio?" "Sou um melómano", começou por dizer Tiago Brandão Rodrigues, não evitando o franzir do sobrolho de Pedro, talvez intrigado com o significado da expressão. "É alguém com uma paixão pela música", explicou Brandão Rodrigues, recordando o tempo em que passeava com o walkman pelas ruas de Paredes de Coura. Uma nota para os leitores mais jovens: o walkman foi um gadjet muito cool nos anos 80 e 90, do século passado. O ministro revelou ser fã de Sérgio Godinho e da música popular brasileira, tudo "depende do estado de espírito".
A pergunta mais "incómoda" da manhã acabou por sair da boca do Miguel, o correspondente da Rádio Miúdos em Beja, que ontem fez uma viagem a Lisboa e até ficou surpreendido com os "dez andares" do Ministério da Educação. "O que vai fazer para melhorar as escolas do Baixo Alentejo?" Aqui o ministro já teve de polir mais o discurso, dizendo haver sempre "coisas para melhorar" e, assim a modos que um anúncio para telejornal, no próximo ano o ministério terá 200 obras em curso para "requalificar as escolas". Só não disse se algumas destas serão no Baixo Alentejo.
"Quantas pessoas trabalham no Ministério da Educação?", quiseram saber os repórteres. "Mais de 150 mil, desde professores, funcionários até às equipas do ministro e dos dois secretários de Estado". Ou seja, muita gente, não no edifício da 5 de Outubro, em Lisboa, precisou o ministro, mas espalhada por todo os país, em escolas e serviços do ministério. Em concreto, continuou a conversa, "o que faz o ministro da Educação?". Pensa, disse Brandão Rodrigues, "de que forma a educação tem que ser ministrada nas escolas, pensa em políticas, pensa nas ideias, não só sobre educação, mas também para a juventude e desporto, para que cada vez mais jovens possam praticar desporto".
Este parece ser um ponto de honra no programa ministerial, já que o ministro - um ex-praticante de karaté - fez uma resolução para 2017: voltar à atividade física, apesar de no ministério "haver hora para entrar, mas não para sair". Será complicado.
A emissão especial da Rádio Miúdos passou ainda por diretos dos gabinetes dos secretários de Estado João Costa e Alexandra Leitão. Neste intervalo, o ministro e os entrevistadores tentavam combinar um método para acelerar o ritmo da entrevista, como, por exemplo, saber as perguntas de antemão: "Sabes", explicou Tiago Brandão ao Pedro, "os jornalistas, às vezes, dizem o que é se vai falar antes de se falar". A ideia era fazer uma espécie de jogo de "ténis de mesa". "Ping-pong", entendeu o Pedro. "Não", corrigiu o ministro, "diz-se ténis de mesa e não ping-pong".
E o que é que o miúdo Tiago Brandão Rodrigues queria ser quando fosse grande?
Ministro nunca esteve nos seus horizontes, porque o miúdo Tiago tinha duas paixões: a música, mas sem muito jeito para a interpretação, e a biologia. "Diz-se que há dois tipos de biólogos: os de bota, que exploram a natureza, e os de bata, que trabalham nos laboratórios. Acabei por ser um de bata". Hoje, a bata está pendurada.
Tiago Brandão Rodrigues usa fato. De ministro.
A Rádio Miúdos, com sede no Bombarral, começou em novembro de 2015. Música portuguesa (não só infantil mas também pop, rock, fado e música tradicional), música em crioulo e brasileiro (para chegar aos PALOP), histórias, contos, passatempos interativos e entrevistas fazem parte da sua oferta. Uma das prioridades da emissora que só funciona online é incutir a cultura portuguesa às crianças de origem lusa que vivem fora do país.
Este projeto já recebeu vários prémios nacionais e internacionais, sendo o mais recente atribuído pela Fundação Calouste Gulbenkian, na última edição do concurso "Faz ideias de Origem Portuguesa 2015, um concurso de empreendedorismo".
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