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terça-feira, 22 de março de 2016

Rui Moreira e a TAP: "Costa não me tranquilizou"




O presidente da câmara do Porto confessa que não ficou tranquilo com o que ouviu da boca do primeiro-ministro sobre o futuro TAP. Estava perplexo antes da conversa e diz que assim continua.

DR
Rui Moreira escreve no livro "TAP - Caixa Negra" que ainda não entendeu a justificação do atual Governo para privatizar a empresa. 

 Evoca duas razões: "o facto de o Estado permanecer exposto à dívida da companhia" e o não ter ainda compreendido "o que readquiriu o país em termos estratégicos".
No capítulo final do livro, que é hoje apresentado no Porto, Rui Moreira afirma que, se a ideia do Governo em reverter parcialmente a privatização, passava por "poder controlar melhor as opções estratégicas da TAP, não se entende que não tenha uma palavra a dizer sobre a operação comercial da empresa, nas suas rotas e operações, a menos que "concorde com o caminho que está a ser seguido".
Rui Moreira lamenta que, neste processo, os deputados eleitos pelas regiões Norte e Centro não se tenham unido, não tenham sido capazes de pôr de lado as divergências partidárias; e dirige depois outra crítica para Lisboa, em rigor, para a opinião publicada que, na avaliação do autarca, "tem origem quase em exclusivo na capital".
Rui Moreira lembra que sofreu muitos ataques, mas admite que isso não o surpreendeu. Reconhece que "qualquer capital que se preze faz tudo para não abdicar do poder" e que, no caso de Lisboa, "esse tique é ainda mais evidente porque tem saudades de ser capital de um Império que a abandonou".

Na conclusão deste livro, escrito em coautoria com Nuno Nogueira Santos, Rui Moreira admite que não sabe o que irá acontecer à TAP, qualificada como "a última das empresas coloniais", mas arrisca um vaticínio. Afirma que receia que "estejamos a assistir ao fim da TAP", que venha a comprovar-se que "as opções da empresa são erradas" e que, no final, sejam os contribuintes a pagar "o seu gigantesco passivo" e acabemos "mais pobres, sem glória e sem companhia de bandeira".
A TSF faz aqui a pré-publicação de alguns excertos do capítulo final do livro, a "Conclusão".
Haverá sempre quem não goste de ouvir as reivindicações do Porto.
Esse incómodo, tingido com alguma sobranceria, foi visível, nas últimas semanas, em inúmeras colunas de opinião.
Por isso, pela mesma ordem de razões, haverá quem, lendo este livro, olvide os argumentos, ignore os factos que aqui são retratados, e garanta que este é, apenas, um exercício de autojustificação.
E também haverá, por certo, quem se exalte e se insurja sem sequer se dar ao trabalho de o ler. Para esses, e na improvável circunstância de passarem os olhos por estas linhas, gostaria de recordar que o que está em jogo não diz respeito apenas a uma cidade ou a uma região. Diz respeito a Portugal.
(...)
Foram muitos os ataques? Sim, é verdade, e normal, até porque a opinião publicada tem origem, quase em exclusivo, na capital. E, convenhamos, a nossa capital não é, nem sequer nessa matéria, uma exceção. Qualquer capital que se preze, e a nossa preza-se quanto baste, faz tudo o que está ao seu alcance para não abdicar do poder.
E, no caso da nossa capital, esse tique é ainda mais evidente, porque tem saudades de ser capital de um Império que a abandonou.
(...)
A verdade é que termino este livro sem saber, ao certo, o que irá acontecer. Não querendo ter razão, temo que estejamos a assistir ao fim da TAP. Receio que, no final desta operação, e quando se comprovar que as opções da empresa são erradas, venhamos a ser chamados a pagar, enquanto contribuintes, o seu gigantesco passivo e acabemos, então, mais pobres, sem glória e sem companhia de bandeira.
(...)
Quanto aos outros contornos, a minha perplexidade subsiste, apesar de todos os contactos. Não percebi qual a justificação para se privatizar uma empresa se o estado não garante a sua exposição à dívida; nem compreendi o que se readquiriu em termos estratégicos.
Ou seja, o que me foi transmitido pelo senhor Primeiro-ministro António Costa não me tranquilizou. Se o Governo mantém a intenção de, com a reversão parcial da privatização, poder controlar melhor as opções estratégicas da TAP, não se entende que não tenha uma palavra a dizer na operação comercial da empresa, nas suas rotas e operações. A não ser, é claro, que concorde com o caminho que está a ser seguido.
(...)
Objetivamente, e independentemente do que venha a ser a evolução do mercado, o impacto macroeconómico desta alteração de paradigma é muito claro. A operação anunciada irá acelerar o esgotamento do aeroporto da Portela, o que dificilmente se enquadra em qualquer conceito estratégico nacional quando se sabe que Porto e Faro têm capacidade disponível, e contribuirá para o esvaziamento do aeroporto Francisco Sá Carneiro, reduzindo o seu hinterland e fomentando o aeroporto que lhe é mais próximo, fora das nossas fronteiras.
(...)
O que faltou, mais uma vez, ao Porto e ao Norte foi um apoio das forças partidárias, na sua representação no Parlamento. Mais uma vez, os deputados eleitos pelos círculos do Norte e Centro não foram capazes de pôr de lado as suas divergências partidárias.
Também é verdade que, desta vez, algumas das elites da região se abstiveram, falaram pouco e baixinho. Compreendo que não estejam disponíveis para serem distratados e ofendidos, mas seria importante não esquecerem que a sua participação cívica continua a ser essencial.
(...)
A verdade é que, independentemente da pressão, conseguimos esclarecer as pessoas. E este livro insere-se nesse nosso empenho em fornecer aos cidadãos a argumentação de que necessitam para não se deixarem ficar.
O Norte não pode continuar a ser olhado com desprezo pelos poderes que, entrincheirados na capital, olham o Porto com paternalismo, sobranceria e despeito.
(...)
Por isso, esta guerra valeu a pena; porque o Porto não pode aceitar rebuçados, quando o que lhe devem é muito mais. Valeu a pena porque sempre que quiserem voltar a fazer uma maldade ao Porto vão ouvir a minha voz e vão hesitar. Por isso, esta guerra valeu a pena. E não acabou.


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