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segunda-feira, 21 de março de 2016

Nove mil professores com mais de dez anos de serviço sem vaga no quadro







O ministro da Educação, Tiago Brandão 

As 100 vagas de quadro abertas pelo Ministério da Educação no 
passado dia 15 - naquele que será o único período de vinculação 
deste ano - significam que mais de 9 mil professores com mais de 
uma década de serviço, mais de 300 deles acima dos 20 anos, terão 
de esperar pelo menos até ao próximo ano para terem esperança de 
ver a sua situação estabilizada.
De acordo com um levantamento feito para o DN por Arlindo 
Ferreira, autor de um blogue especializado em contratação 
docente, nos concursos de contratação inicial deste ano letivo 
participaram 9184 candidatos com 10 ou mais anos de serviço, 363 
contabilizando mais de 20 anos. O caso mais extremo é de um 
candidato que somava 37 anos.
Entre estes, ressalvou Arlindo Ferreira, há um "número significativo 
de professores que vieram do ensino particular e cooperativo", 
nomeadamente de colégios com contrato de associação, que 
é "impossível de individualizar" com os dados disponíveis. 
Em todo o caso, face à legislação em vigor, estes professores têm 
os mesmos direitos, no que toca à graduação profissional, dos 
colegas que fizeram todo o seu percurso profissional no Estado.
O paradoxo é que as 100 vagas podem nem sequer ser preenchidas 
pelos professores com mais antiguidade, já que a regra adotada 
para a 1.ª prioridade na vinculação é a chamada "norma-travão", 
implementada por Nuno Crato em 2012, que exige cinco contratos 
anuais, sucessivos e completos para o ingresso na carreira.
Não é por isso estranho que uma das reivindicações de sindicatos 
e associações seja a suspensão das renovações automáticas de 
contrato. Em particular dos professores das extintas bolsas de 
contratação.
"No ano passado, 700 e poucos professores cumpriram esses 
requisitos. Mas houve muitos com bastante tempo de serviço que 
ficaram de fora", lembrou ao DN Mário Nogueira, secretário geral 
da Fenprof. "Em alguns casos, bastou que um professor, num desses 
cinco anos, tivesse um horário de 21 horas, em vez de 22 para não 
entrar".
Nesses concursos, foram abertas 1500 vagas, pelo que ainda foi 
possível a perto de 800 docentes mais graduados entrar a seguir aos 
colegas da norma-travão. Mas este ano, com apenas 100 lugares à 
disposição, dificilmente sobrarão vagas.
Mário Nogueira admitiu que "este ano, o Ministério não podia fazer 
as coisas de outra maneira. A legislação que está em vigor é esta, não 
podiam simplesmente dizer que é injusta e não a aplicar, até porque 
havia professores que estavam a completar o período para a 
vinculação", justificou. "Mas é preciso saber se isto é assim para 
que, no ano que vem, seja feito um concurso com muitas vagas e 
de uma forma justa. Espero bem que sim", disse.
Ministério admite rever regras
Esta é também a expectativa de César Israel Paulo, porta-voz da 
Associação Nacional de Professores Contratados (ANPVC): 
"O Ministério este ano teve de fazer uma vinculação curta. 
Entendemos que só é tão pequena porque o Ministério considera 
que o sistema de vinculação não é justo", disse ao DN, confiante 
de que, no próximo ano, "poderemos ter uma grande vinculação, 
talvez uma das maiores graduações de sempre em Portugal, para 
acabar com a precariedade".
Numa resposta enviada ao DN, o Ministério confirmou que a 
abertura das 100 vagas "decorre da estrita aplicação dos critérios 
legais", relativos à norma travão. Quanto a uma solução definitiva 
para o problema dos professores com muitos anos de serviço, 
disse, esta "só será possível com uma alteração da lei com vista a 
encontrar soluções e critérios mais justos - que estamos a estudar - e 
após análise do impacto orçamental dessa medida".

DN

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