Vítimas irlandesas de abusos celebram renúncia do Papa
Organização americana diz que ainda há tempo para Bento XVI agir
Um grupo que representa vítimas de abusos contra crianças cometidos em instituições dirigidas por católicos na Irlanda celebrou nesta segunda-feira a renúncia do papa Bento XVI, depois que "não fez nada" para punir os responsáveis por tais ações.
"Este Papa teve uma grande oportunidade de abordar décadas de abusos na Igreja, mas no final das contas não fez nada mais que prometer tudo e, definitivamente, não fazer nada", declarou à AFP John Kelly, do grupo Survivors of Child Abuse (Sobreviventes de Abusos contra Crianças), que representa vítimas de abusos físicos, sexuais e emocionais.
A Irlanda, país tradicionalmente católico, foi sacudido nos últimos anos por uma série de relatórios que revelaram décadas de abusos contra crianças por parte do clero acobertados pela hierarquia da Igreja.
Este Papa teve uma grande oportunidade de abordar décadas de abusos na Igreja, mas no final das contas não fez nada mais que prometer tudo e, definitivamente, não fazer nada
"Pedimos ao Papa sanções contra as ordens religiosas que cometeram os abusos e os líderes religiosos da Irlanda que permitiram que isto acontecesse, mas para nossa consternação não aconteceu nada", completou Kelly.
reconhecer que tudo isto aconteceu. Deve reconhecer que deixou entrar o diabo e residir nela durante 50 anos antes de que as pessoas possam aceitar que mudou", acusou. "A Igreja não pode avançar. A permanência no cargo deste Papa foi contaminada pelos escândalos e isto continuará até que o Papa aborde as raízes do problema", concluiu.
Por sua vez, a Snap, uma organização americana de vítimas de padres pedófilos, disse que ainda há tempo para Bento XVI agir sobre o assunto. "Por mais fatigado e frágil que esteja, o papa Bento XVI ainda tem duas semanas (até deixar o cargo) para utilizar seu imenso poder para proteger os demais jovens", afirma um comunicado do Snap.
A organização pediu que o Papa finalmente puna os bispos que ajudaram a ocultar os casos de abuso infantil. "Imaginemos o impacto e a esperança que suscitaria se, em seus últimos dias, o Sumo Pontífice castigasse ou retirasse as batinas dos bispos que ocultaram os atos pedófilos", acrescenta o comunicado.
Para a Snap, o Papa "seguiu o mesmo roteiro que os dirigentes da Igreja seguiram durante anos, e falava de abusos em termos indiretos e apenas quando era obrigatório, empregando o passado (para fazer crer que os abusos já não acontecem hoje)".
"Bento XVI falou deste drama mais abertamente que seu antecessor, mas isso não é uma proeza. Quando era necessário atuar, o papa Bento XVI fez muito pouco para identificar os responsáveis, castigar os autores e proteger as crianças", acrescenta o texto, concluindo que o balanço deste papado é "terrivelmente decepcionante".
A Igreja católica enfrentou nos últimos anos inúmeros escândalos envolvendo padres pedófilos. O arcebispo de Los Angeles, José Gomez, difundiu no início do mês os expedientes de casos de suposta pedofilia nos quais estão envolvidos cerca de cem eclesiásticos.1
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