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sexta-feira, 11 de janeiro de 2013


OLÁ, EU SOU UM MAC. OLÁ, EU SOU A PEPA.

Pepa Xavier
Pepa Xavier
A fa­lhada cam­pa­nha de pu­bli­ci­dade com cinco blog­gersde moda que a Samsung pro­mo­veu e de­pois fez de­sa­pa­re­cer das re­des so­ci­ais lembra-me o conto de fa­das da Branca de Neve e a sa­cra­men­tal per­gunta da Rainha Má: «Espelho meu, es­pe­lho meu, há mais bela do que eu?»
«Você é bela, rai­nha, isso é ver­dade» – res­pon­deu o es­pe­lho. – «Mas a Apple pos­sui mais be­leza
Toda a gente sabe que a in­veja da Rainha só lhe trouxe dis­sa­bo­res e que os pla­nos de rou­bar o co­ra­ção da ini­miga aca­ba­ram por não cor­rer muito bem.
No mundo de fa­das tec­no­ló­gico o des­fe­cho tam­bém não é fa­moso, em­bora es­teja longe de es­tar encerrado.

SAI DA FRENTE, Ó SAMSUNG

Em agosto do ano pas­sado, um tri­bu­nal dos EUA deu ra­zão às quei­xas da Apple se­gundo as quais os Galaxy não eram mais do que có­pias des­ca­ra­das do iPhone e do iPad. Alguns dias de­pois, um tri­bu­nal ja­po­nês de­ci­diu que a marca sul-coreana não vi­o­lara ne­nhuma pa­tente da marca norte-americana.
Esqueçam a tec­no­lo­gia, as pa­ten­tes e as na­ci­o­na­li­da­des dos tri­bu­nais: é no mundo da moda que a prin­ci­pal ba­ta­lha se tem de­sen­ro­lado – uma ba­ta­lha pelo di­reito de fa­zer parte do ves­tuá­rio e de ser vista ao nosso es­pe­lho como a marca mais bela. «Fazer pro­du­tos com sexo», dis­sera Steve Jobs quando re­gres­sou em ju­lho de 1997 a uma Apple qua­drada, cin­zen­tona e à beira da falência.
A Samsung por­tu­guesa re­sol­veu por­tanto re­for­çar a ideia de que os gad­gets da marca tam­bém po­dem ser aces­só­rios de moda tão es­ti­lo­sos como os da Apple.
Dado que con­tra­tar pu­bli­ci­tá­rios de qua­li­dade custa muito di­nheiro e es­ta­mos em crise, con­vi­dou cinco pes­soas com blo­gues dessa área para di­zer umas ba­na­li­da­des em ví­deo. Enquanto fa­la­vam so­bre 2012 e os gla­mo­ro­sos pla­nos para 2013, eram fil­ma­das com unsgad­gets no mesmo en­qua­dra­mento – a es­tra­té­gia de «pro­duct pla­ce­ment» é mais ve­lha que o as­pi­ra­dor Samsung com que a mi­nha avó in­fer­ni­zava as ma­nhãs de domingo.
Infelizmente, uma das blog­gers – uma tal de Pepa Xavier – exa­ge­rou na va­cui­dade chi­que que es­tas oca­siões pro­por­ci­o­nam e apa­re­ceu como uma ex­tra­ter­res­tre do pla­neta das tias de Cascais rep­ti­li­a­nas. Além de con­fes­sar no ví­deo que o seu ob­je­tivo para 2013 era com­prar uma mala da Chanel, con­se­guiu fa­zer com a lín­gua por­tu­guesa o que Hélio já ti­nha feito com o skate.
De quem é a culpa? Dos chicos-espertos da Samsung, claro. Em vez de as­so­ciar a marca a um modo de vida es­ti­loso mas «ter­reno» e com quem qual­quer pes­soa nor­mal se pode iden­ti­fi­car, como faz a Apple, associou-se a uma ino­cente e inó­cua mu­lher que trans­mi­tiu a ideia de que vive num mundo fe­liz onde o de­sem­prego e os re­la­tó­rios do FMI nunca existiram.
Nem uma única pes­soa do de­par­ta­mento de Marketing an­te­viu que no con­texto eco­nó­mico em que vi­ve­mos, o ví­deo da Pepa po­de­ria vir a ser mo­tivo de pro­tes­tos ou chacotas.
Pepa-presidente
Pepe
Depois da in­dig­na­ção, as re­des so­ci­ais co­me­ça­ram a go­zar o prato
De tanto le­var nas ore­lhas na pá­gina do Facebook, a Samsung re­ti­rou os ví­deos com um en­ver­go­nhado pe­dido de des­cul­pas – a ma­ri­quice de dei­xar cair de um dia para o ou­tro uma es­tra­té­gia de mar­ke­ting mos­tra bem a au­sên­cia de con­vic­ção de quem a apro­vou. A to­tal in­con­sis­tên­cia da campanha.
A prin­ci­pal ví­tima desta his­tó­ria foi a po­bre Pepa. Porque se que­re­mos con­de­nar al­guém à fo­gueira por fu­ti­li­dade, te­mos aí quase dois mi­lhões de te­les­pec­ta­do­res da Casa dos Segredos por onde pegar.
Com o en­xo­va­lho pú­blico que le­vou, bem pode a ra­pa­riga não apren­der nada de so­ci­al­mente vá­lido e con­cluir que o mundo dela é me­lhor por ser mais cor­dial e ino­fen­sivo; ao me­nos a sua pre­ci­osa mala da Chanel nunca lhe dirá que é burra, ig­no­rante, es­tú­pida, anor­mal ou fú­til – es­tou a ci­tar de me­mó­ria al­guns dos ad­je­ti­vos es­cri­tos pela turba que in­va­diu a pá­gina da Samsung no Facebook.
Ao fa­lar en­tu­si­as­ti­ca­mente so­bre a fe­li­ci­dade que a com­pra lhe cau­sa­ria à alma, Pepa Xavier disse que iria tra­ba­lhar e pou­par para a con­se­guir — uma ati­tude se­me­lhante aos mi­lha­res de hips­ters da Apple que fa­zem fila nas lo­jas sem­pre que sai uma nova ver­são da mala Chanel dos ge­eks, o iPhone.
Inquisições por isto? Deixem lá a in­con­se­quente Pepa que de­seja bri­lhar como uma pe­pita do «bom gosto» e só in­flu­en­cia quem de­seja — às cla­ras ou em se­gredo — ser aplau­dido e tornar-se uma es­tre­li­nha do con­su­mismo. Diferentes? Concentrem en­tão a fú­ria jus­ti­ceira nos fú­teis e in­sen­sí­veis go­ver­nan­tes tec­no­cra­tas que lou­vam re­la­tó­rios do FMI, des­pre­zando por com­pleto as pessoas.

Bitaites

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