AVISO

OS COMENTÁRIOS, E AS PUBLICAÇÕES DE OUTROS
NÃO REFLETEM NECESSARIAMENTE A OPINIÃO DO ADMINISTRADOR DO "Pó do tempo"

Este blogue está aberto à participação de todos.


Não haverá censura aos textos mas carecerá
obviamente, da minha aprovação que depende
da actualidade do artigo, do tema abordado, da minha disponibilidade, e desde que não
contrarie a matriz do blogue.

Os comentários são inseridos automaticamente
com a excepção dos que o sistema considere como
SPAM, sem moderação e sem censura.

Serão excluídos os comentários que façam
a apologia do racismo, xenofobia, homofobia
ou do fascismo/nazismo.

segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

A história de Josh


Eram 6 horas e trinta minutos quando Josh acordou. Estava deitado na cama, a mesma que tinha há já 20 anos, mas sentia-se desconfortável. Talvez se sentisse melhor se conseguisse dormir sem ter os sapatos calçados, mas desde que aos 13 anos se levantou para ir à casa de banho a meio da noite e foi surpreendido descalço pelo podengo da família que é incapaz de dormir sem sentir os pés protegidos.
“Paranóias”, dizem Ted e Nibles, os seus dois melhores amigos. Josh sabe que não o fazem por mal, que apenas o dizem para o tentar ajudar a ultrapassar os seus traumas, mas eles não percebem. Como poderiam? Nunca passaram pelo mesmo, até porque os dentes de leite não têm pés.
Josh levantou-se e dirigiu-se para a casa de banho. Entrou na banheira e ensaboou o cabelo 3 vezes, saindo de seguida. Josh lavava sempre a cabeça três vezes, mas não usava água, limitando-se a espalhar o shampoo pelo cabelo. “Os hunos podem aproveitar-se”, pensava. Para além disso, era-lhe insuportável a ideia de se separar do seu shampoo, uma vez que pagava para o ter no cabelo e não nos canos da casa.
Enquanto se vestia, Josh pensou na vida. Tinha 38 anos e a sua maior conquista tinha sido conseguir passar por um robalo há dois dias sem cantar o "Embraceable You", coisa que fazia desde os 10 anos, altura em que a empregada da casa da sua mãe o apanhou a acariciar lascivamente a côdea de um pão de centeio.
Josh saiu de casa, entrou no carro a correr e sentou-se. Olhou primeiro para a esquerda, depois para direita, depois para trás e depois para a frente. Começou a transpirar, o mundo parecia que estava parado e que toda a gente olhava para si. Josh teve um taque de pânico. Todos os dias lhe acontecia o mesmo sempre que precisava de meter a chave do carro na ranhura. Este gesto, absolutamente normal, tinha para Josh toda a promessa de amor perdido. Oh, a vergonha… as recordações de Sony, a torradeira de 4 fatias com quem tivera uma relação na faculdade e que fugiu com o seu colega de dormitório. Josh nunca mais confiou em electrodomésticos e desde aí que salga ou defuma toda a sua comida, o que faz dos seus iogurtes uma experiência gastronómica única.
Finalmente conseguiu ligar o carro e arrancou em direcção ao trabalho. Josh sai sempre de casa mais cedo porque o facto de só conseguir virar para esquerda, um trauma que ganhou quando viu sua mãe a separar o grão-de-bico no quarto do algoz, faz com que demore o triplo do tempo a chegar ao seu trabalho. Pelo caminho, Josh tenta comprar café, mas quando entra na pastelaria acaba sempre por pedir pretzels e um leite morno. Há anos que não consegue dizer a palavra “café” em público e só mesmo em casa, tapado até aos olhos com um saco de sarapilheira e um sombrero, consegue pronunciar as silabas, mas sem o acento. Mais um trauma com a cortesia de sua mãe, que não se importava que a ouvissem dizer à boca cheia que a sua personagem favorita era Cunegundes Rostislavna era a sua rainha da Boémia favorita.
Josh voltou ao carro para mais um ataque de pânico e arrancou. Não ligou o rádio, pois não ouve música desde o incidente. Há 3 anos, num congresso, Josh enganou-se e afirmou que o seu gelado favorito era chocolate e menta, em vez de chocolate e morango, facto que nunca foi perdoado por Hess, um alemão nascido na Alemanha que Josh nunca conheceu. A partir desse dia, só uma nota é suficiente para Josh perder os sentidos.
Finalmente chegou ao seu emprego. Josh saiu do carro e entrou para o seu edifício. Passou apressado pelo corredor sem levantar a cabeça, pois tinha pavor de tectos desde que percebeu que estes não eram suportados por magia. Entrou no seu escritório e sentou-se, mais calmo. Esperou 5 minutos e pegou no telefone:
“Mrs. Gill, diga ao chefe clínico que já cheguei. Podem mandar entra o primeiro paciente da psiquiatria”.
Under Analysis
ARISTOCRATAS

Sem comentários: