No dia mais "humilde" da sua vida, Murdoch negou responsabilidades
O magnata da imprensa e o filho James foram ao parlamento responder aos deputados britânicos. Rupert atirou a culpa para as pessoas em quem confiou
À medida que os dias passam Rupert Murdoch tem cada vez
mais inimigos. E a raiva quanto aos procedimentos habituais do tablóide "News of the World" (encerrado no dia 10 de Julho, após 168 anos de existência) é tanta que ontem enquanto respondia às questões dos deputados britânicos sobre o escândalo das escutas ilegais, o magnata foi agredido por um membro da audiência, que se terá feito passar por jornalista.
Os depoimentos do líder da News Corp estavam a ser transmitidos em directo pela televisão quando de repente se notou alguma confusão, a imagem ficou escura, o líder da comissão parlamentar disse que voltariam dali a dez minutos e a ligação foi cortada. Segundo consta - tendo em conta o que foi dito na imprensa internacional e em blogues de pessoas que assistiam à sessão de esclarecimentos, que durou cerca de três horas -, um homem agrediu Murdoch na cara e não continuou porque a mulher do magnata, Wendy, se interpôs entre o marido e o agressor. Segundo outras versões, Murdoch foi atingido com uma substância branca semelhante a espuma de barbear. Depois da imagem restabelecida ainda se viu, por breves instantes, um homem algemado a ser levado. Tanto Murdoch como o filho James, CEO da News Corp para a Europa e a Ásia, ainda estavam na sala, só que Rupert já não tinha o casaco do fato vestido. O agressor foi visto a ser levado para fora do edifício pela polícia.
Tanto o pai como o filho traziam a lição bem estudada e, ao que parece, uma estratégia simples. Para evitar serem apanhados em contradições e episódios mal contados (o que há em fartura em neste enredo), as respostas de Murdoch pai foram na sua maioria vagas e curtas; o filho assumiu a liderança no confronto com os deputados. A actuação foi vista pelo cantor pop George Michael da seguinte maneira: "Deve ser fantástico estar tão perto do nosso próprio pai que ele nos pode usar como escudo humano. Pai do ano...", reagiu na altura no Twitter. O magnata, de 80 anos, fez o papel do velho sereno e negou ter sido responsável pelas escutas telefónicas ilegais a quase 4 mil pessoas. A culpa foi de "algumas das pessoas em quem confiei", afirmou, acrescentando que geria um negócio global que dava emprego a 53 mil pessoas e que o tablóide representava apenas "1%".
Pelo meio ainda deu um ar da sua graça, quando lhe perguntaram sobre a sua relação com o antecessor de David Cameron na chefia do governo britânico, também ele amigo íntimo de Rebekah Brooks, directora do "News of the World" entre 2000 e 2003, e até sexta-feira directora executiva da News International e detida este domingo pela polícia britânica. "Foi convidado muitas vezes pelo primeiro-ministro Gordon Brown a entrar pela porta das traseiras?", perguntou um deputado, sugerindo a existência de uma relação sombria entre o barão dos media e o poder político. "Sim", respondeu Rupert, explicando que estava a fazer o que o tinham mandado e que devia ser para fugir aos fotógrafos. "Pela porta das traseiras?", repetiu a questão . "Sim", afirmou Murdoch pai, com um sorriso entre dentes, como quem acaba de tomar consciência do duplo sentido da conversa.
Logo no início da audiência, Rupert mostrou que seguiria o seu guião à risca, apesar de os deputados o terem acusado de responsável nas falhas graves cometidas pela sua empresa. James começava a responder a uma questão e Murdoch interrompeu-o, tocando-lhe no braço. "Este é o dia mais humilde da minha vida", sublinhou, sem acrescentar mais nada à deixa. Já James confessou ter ficado "surpreso e chocado" quando tomou conhecimento de que a News International ainda estava a pagar as despesas legais a Glenn Mulcaire - detective privado detido em 2006 pelas escutas telefónicas ilegais -, afirmando que a empresa não conseguiu viver segundo os "padrões a que aspirava" e que estava "determinado a endireitar as coisas e garantir que não voltam a acontecer". "Quero dizer apenas quão triste estou e quão tristes estamos, especialmente em relação às vítimas das escutas telefónicas ilegais e às suas famílias", acrescentou.
Mais tarde, numa outra sessão na comissão de inquérito da Câmara dos Comuns, foi a vez de Rebekah Brooks responder às questões de uma forma "aberta e honesta", segundo as suas palavras. Conhecida por ser uma mulher fria e manipuladora, disse que era "totalmente injusto" apontar o "News of the World" como o único jornal com relações próximas com polícia e políticos. A menina querida de Rupert (conhecida por ser como sua filha) também afirmou que não tinha uma relação próxima com David Cameron e que "havia muitas coisas nessa história que não eram verdade".
Entretanto, os resultados da autópsia ao corpo do antigo jornalista do tablóide Sean Hoare, encontrado morto na segunda-feira, "não encontraram provas do envolvimento de outra pessoa" e foi descartada a hipótese de ser uma morte "suspeita". Hoare foi o primeiro jornalista a afirmar publicamente que Andy Coulson, antigo director do "News of the World" e mais tarde assessor de imprensa de Cameron, tinha conhecimento do recurso habitual às escutas ilegais.
Os depoimentos do líder da News Corp estavam a ser transmitidos em directo pela televisão quando de repente se notou alguma confusão, a imagem ficou escura, o líder da comissão parlamentar disse que voltariam dali a dez minutos e a ligação foi cortada. Segundo consta - tendo em conta o que foi dito na imprensa internacional e em blogues de pessoas que assistiam à sessão de esclarecimentos, que durou cerca de três horas -, um homem agrediu Murdoch na cara e não continuou porque a mulher do magnata, Wendy, se interpôs entre o marido e o agressor. Segundo outras versões, Murdoch foi atingido com uma substância branca semelhante a espuma de barbear. Depois da imagem restabelecida ainda se viu, por breves instantes, um homem algemado a ser levado. Tanto Murdoch como o filho James, CEO da News Corp para a Europa e a Ásia, ainda estavam na sala, só que Rupert já não tinha o casaco do fato vestido. O agressor foi visto a ser levado para fora do edifício pela polícia.
Tanto o pai como o filho traziam a lição bem estudada e, ao que parece, uma estratégia simples. Para evitar serem apanhados em contradições e episódios mal contados (o que há em fartura em neste enredo), as respostas de Murdoch pai foram na sua maioria vagas e curtas; o filho assumiu a liderança no confronto com os deputados. A actuação foi vista pelo cantor pop George Michael da seguinte maneira: "Deve ser fantástico estar tão perto do nosso próprio pai que ele nos pode usar como escudo humano. Pai do ano...", reagiu na altura no Twitter. O magnata, de 80 anos, fez o papel do velho sereno e negou ter sido responsável pelas escutas telefónicas ilegais a quase 4 mil pessoas. A culpa foi de "algumas das pessoas em quem confiei", afirmou, acrescentando que geria um negócio global que dava emprego a 53 mil pessoas e que o tablóide representava apenas "1%".
Pelo meio ainda deu um ar da sua graça, quando lhe perguntaram sobre a sua relação com o antecessor de David Cameron na chefia do governo britânico, também ele amigo íntimo de Rebekah Brooks, directora do "News of the World" entre 2000 e 2003, e até sexta-feira directora executiva da News International e detida este domingo pela polícia britânica. "Foi convidado muitas vezes pelo primeiro-ministro Gordon Brown a entrar pela porta das traseiras?", perguntou um deputado, sugerindo a existência de uma relação sombria entre o barão dos media e o poder político. "Sim", respondeu Rupert, explicando que estava a fazer o que o tinham mandado e que devia ser para fugir aos fotógrafos. "Pela porta das traseiras?", repetiu a questão . "Sim", afirmou Murdoch pai, com um sorriso entre dentes, como quem acaba de tomar consciência do duplo sentido da conversa.
Logo no início da audiência, Rupert mostrou que seguiria o seu guião à risca, apesar de os deputados o terem acusado de responsável nas falhas graves cometidas pela sua empresa. James começava a responder a uma questão e Murdoch interrompeu-o, tocando-lhe no braço. "Este é o dia mais humilde da minha vida", sublinhou, sem acrescentar mais nada à deixa. Já James confessou ter ficado "surpreso e chocado" quando tomou conhecimento de que a News International ainda estava a pagar as despesas legais a Glenn Mulcaire - detective privado detido em 2006 pelas escutas telefónicas ilegais -, afirmando que a empresa não conseguiu viver segundo os "padrões a que aspirava" e que estava "determinado a endireitar as coisas e garantir que não voltam a acontecer". "Quero dizer apenas quão triste estou e quão tristes estamos, especialmente em relação às vítimas das escutas telefónicas ilegais e às suas famílias", acrescentou.
Mais tarde, numa outra sessão na comissão de inquérito da Câmara dos Comuns, foi a vez de Rebekah Brooks responder às questões de uma forma "aberta e honesta", segundo as suas palavras. Conhecida por ser uma mulher fria e manipuladora, disse que era "totalmente injusto" apontar o "News of the World" como o único jornal com relações próximas com polícia e políticos. A menina querida de Rupert (conhecida por ser como sua filha) também afirmou que não tinha uma relação próxima com David Cameron e que "havia muitas coisas nessa história que não eram verdade".
Entretanto, os resultados da autópsia ao corpo do antigo jornalista do tablóide Sean Hoare, encontrado morto na segunda-feira, "não encontraram provas do envolvimento de outra pessoa" e foi descartada a hipótese de ser uma morte "suspeita". Hoare foi o primeiro jornalista a afirmar publicamente que Andy Coulson, antigo director do "News of the World" e mais tarde assessor de imprensa de Cameron, tinha conhecimento do recurso habitual às escutas ilegais.
1 comentário:
Creio que existe um erro de tradução da frase "This is the most humble day of my career" proferida por Murdoch. É verdade que "humble" quer dizer "humilde", mas também quer dizer "humilhante". Considerando que de humildade o Sr. Murdoch parece estar isento, suponho que ele quereria dizer "humilhante", atendendo ao seu grande poder nos media e à arrogância que tem demonstrado ao longo da sua carreira, a ponto de se permitir autorizar escutas ilegais aos familiares de uma criança desaparecida.
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