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sábado, 18 de junho de 2011

 


O mito do relacionamento insolúvel e a traição

Ao se juntar pelo amor o casal estabelece, silenciosa e inconscientemente, uma espécie de pacto ou trato que será a base para o futuro da vida a dois. Geralmente esse trato inconsciente é o resultado de uma negociação prévia e silenciosa desde os tempos de namoro, a qual vai se cristalizando na medida em que as situações vão surgindo. 

Assim, o namoro é a oportunidade para os parceiros expressarem as cláusulas desse trato; suas expectativas, seus limites, seus valores, para estabelecerem o que esperam do outro e o que não toleram dele.






Algumas vezes existem devaneios neste pacto, como por exemplo, o famoso "até que a morte os separe". 

Faltou acrescentar o termo igualmente fantasiado, "incondicionalmente". Aí sim o devaneio fica quase um delírio: "até que a morte os separe, incondicionalmente".  Ora, exceto as mães em relação aos seus filhos, os seres humanos não aceitam absolutamente nada que tenha caráter incondicional.

 O pacto silencioso e tirano forjado durante o namoro pode ser uma coisa interessante, entretanto, nem sempre esse trato é compreendido por ambas as partes da mesma maneira. Cada um considera justo esperar do outro atitudes em seu favor, como se a pessoa fosse obrigada a saber exatamente o que se deseja dela. Isso leva, na maioria das vezes, a uma grande decepção, pois ninguém pode viver para atender expectativas de outra pessoa. 


























É assim que, com honestidade, a pessoa deveria trazer para si a culpa por suas próprias expectativas em relação ao outro. Não se sabe como nem por que um ser humano enamorado começa a imaginar que o outro deva adivinhar exatamente o que é importante para ele. Não se sabe como nem por que esse mesmo ser humano constrói sua expectativa de felicidade exclusivamente dependente da pessoa com quem escolheu compartilhar a vida.

Geralmente a pessoa traída atribui a responsabilidade da traição ao traidor, obviamente, enquanto o traidor quase sempre atribui a responsabilidade pelo seu ato ao seu par, que vinha negligenciando o relacionamento há tempos.
Algumas vezes o ato da pessoa que trai dividir a responsabilidade da traição com a pessoa traída é uma espécie de projeção da responsabilidade. Melhor dizendo, isso não deixa de ser uma espécie de auto-engano. É o mesmo auto-engano a que todos estamos sujeitos, inconsciente ou hipocritamente, que é buscar fora de nós às responsabilidades que deveriam ser nossas, em outras palavras, é atribuir aos outros as responsabilidades que são nossas.

A desagradável sensação de ter sido vítima da ousadia da outra pessoa, seja na traição ou separação, sempre convoca reflexões. Assim como o relacionamento se inicia invariavelmente com a participação e responsabilidade de duas pessoas, também a separação terá a participação invariável dessas mesmas duas pessoas.

A idéia da co-participação do casal, ou da co-responsabilidade na qualidade do relacionamento é uma idéia interessante e deve ser melhor explorada.  Assim, a infidelidade deve ser abordada obrigatoriamente como um problema do casal e não apenas daquele que traiu ou apenas de quem sofreu a traição.

Se o casal procura ajuda porque está passando por um período turbulento, ou seja, antes da infidelidade propriamente dita acontecer, a atenção deve ser dirigida para a quase certa quebra do pacto que existia entre o casal.

 Essa quebra do contrato pode dever-se a uma ou ambas pessoas. Nesses casos uma pessoa ou as duas sentiram suas expectativas frustradas, sentiram-se traídas no projeto amoroso, independente da traição literal já ter acontecido ou não.







O foco não deve se restringir apenas ao perdão, uma vez que nem sempre a maior parcela da culpa é de quem traiu. Superar a vivência significa ir além do perdão, significa virar a página, e definitivamente. As lições decorrentes dessa vivência traumática devem permanecer e cristalizar ainda mais o relacionamento.
Algumas pessoas insistem em dizer não terem feito absolutamente nada que justificasse a traição ou separação da qual foram vítimas. 

Porém, deve fazer parte do ficcioso “manual de abordagem terapêutica para traídos e traidores” que nem sempre apenas as más atitudes resultam em desarmonias e descontentamentos conjugais. As não-atitudes, a não-participação, a apatia, descaso, desinteresse e até o silêncio também são formas de agressão.

As pessoas podem ser sempre melhores para seus pares, diminuindo assim as chances de perda do encantamento, ou seja, do relacionamento. E tanto as pessoas podem ser melhores que aquelas deixadas produzem grandes transformações em suas vidas depois do fim da relação: perdem o peso excessivo, deixam de fumar, entram em academias, fazem lipoaspiração, lifting, clareamento dos dentes, mudança de hábitos, procuram tratar o ronco noturno, o mau humor. Embora tudo isso faça parte do arsenal usado para melhorar a auto-estima da pessoa que se sente deixada ou traída, mostra também que tudo isso poderia ter sido feito antes e ter melhorado o relacionamento agonizante

Uma mulher na luta contra a violencia sobre as mulheres.

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