A Grécia que não nos mostram
@Gui Castro Felga
Os nossos jornais e as nossas televisões falam-nos agora da Grécia todos os dias, dos becos aparentemente sem saída da sua situação na Alemanha ou em Bruxelas, e mostram-nos, quase exclusivamente, violência nas ruas – barricadas, polícias, desacatos.
Mas há outra realidade para além dessa e vamos felizmente tendo acesso a fontes de informação diversificadas, como é o caso deste artigo ontem publicado, não num «pasquim» de «acampados», mas no respeitado Guardian: In Greece, we see democracy in action - The public debates of the outraged in Athens are the closest we have come to democratic practice in recent European history.
Depois da monumental manifestação que encheu as ruas de Atenas há dois dias, e quaisquer que venham a ser as próximas etapas da crise grega, o reconhecimento, por parte de Papandreou, do falhanço das políticas até agora aplicadas, é certamente o maior sucesso da oposição anti-austeritária na Europa, até agora.
Se até há cerca de três semanas, a comunicação social e as elites intelectuais conseguiram espalhar o medo e limitaram a resistência, desde então a realidade é bem diferente: a mítica praça Syntagma passou a estar ocupada por homens e mulheres (por vezes mais de 100.000), de todas as ideologias, idades e profissões, que mantêm debates regulares bem organizados, para os quais são convidados economistas, advogados e filósofos que apresentam alternativas para enfrentar a crise. Discute-se a injusta pauperização dos trabalhadores gregos, a perda de soberania, a destruição de valores democráticos.
É bom que aqueles que tanto louvaram Indignai-vos!, de Stéphane Hessel, e o seu apelo para «uma insurreição pacífica», reconheçam que nem o próprio terá previsto que os «indignados» espanhóis e os «ultrajados» gregos tomassem à letra os seus conselhos, tão depressa e tão espectacularmente. Porque é disso que se trata.
À praça Syntagma, chegam ecos da velha Ágora ateniense.
Joana Lopes
Entre as brumas da memória
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