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"A cota de água está aqui, agora imagine quantos metros é que já baixou." Carlos Madeira aponta o nível de água e faz as contas. Mora perto da barragem de Odeleite e vê todos os dias o volume de água baixar.
Esta é uma das duas principais barragens do Algarve que abastece a zona sota-vento da região. Está com 27% da sua capacidade máxima, mas a barragem de Odelouca, a outra albufeira que abastece a região, ainda se encontra pior: apenas com 22% do seu volume máximo.
Odeleite é uma albufeira que serve para abastecimento da população e para a agricultura e o presidente da Cooperativa Agrícola e Rega de Odeleite nunca a viu assim. "A minha idade é de 67 anos e nunca a vi tão vazia", garante.
E como não há água, as árvores estão a secar. Que o diga António Dias, que vive no sítio de Alta Mora. "Isto é uma miséria", lamenta o morador, adiantando que as oliveiras já não dão azeitonas em condições. Por aqui, este ano, teme-se que não haja produção de azeite, que é a fonte de subsistência de muita gente.
Carlos Madeira salienta que as árvores não aguentam tanta seca. "Já estão em stress hídrico porque há dois anos que não chove", explica. "A azeitona é só a pelinha e o caroço", e a situação vai-se agravando. Para aquela zona, há um projeto de regadio que aguarda visto do Tribunal de Contas. Vai ligar a barragem a um sistema que permitirá regar cerca de 140 hectares de pomares.
Para consumo humano a situação também não é melhor. Mesmo que não chova, a empresa Águas do Algarve garante que haverá água para abastecer a população do Algarve até final do ano. A partir daí é uma incógnita.
Nestes montes do concelho de Castro Marim, onde os furos já secaram e onde ainda não chegou a água da barragem para abastecimento público, anda já um camião da Câmara Municipal com um autotanque para fornecer água às populações.
Na casa de Maria já não há água nas torneiras. "Vou buscar água aquele depósito para beber", conta a moradora, apontando para um recipiente com uma torneira, colocado na estrada, onde é colocada a água.
A desertificação humana naquela zona é cada vez maior. Os mais novos vão embora e aos mais velhos é difícil resistir às adversidades. "Aqui é só pessoal dos 70-80 anos para cima", conta Abílio Horta, 82 anos. Vive no monte da Corte Pequena, onde outrora existiam mais de 300 pessoas. Agora não há mais de 50. Abílio não tem memória de uma seca assim.
Quem tem gado vive tempos difíceis. Há quem vá buscar água à barragem em autotanques para dar de beber aos animais. As pastagens estão secas e o gado pouco ou nada tem que comer.
À beira da estrada, António e Carlos desfiam argumentos. Defendem que, com estes períodos de seca cada vez maiores e mais frequentes, o Governo tem que pensar em construir pequenas barragens. "Já devia estar feito, e se não o fazem não fica aqui ninguém", sentencia António. Soluções que os habitantes do nordeste algarvio querem ver implementadas numa terra cada vez mais árida e onde tarda a chegar a chuva.
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