A bloquista defendeu uma consolidação orçamental "com crescimento económico" e disse que o BE precisa de mais de 10%. Quanto a uma nova geringonça, só com um partido que "garanta salários dignos".
Catarina Martins diz que “o Bloco de Esquerda quer contas certas” e que existe um problema na forma como a consolidação orçamental está a ser feita. Em entrevista à TVI, esta quinta-feira, a coordenadora do BE defendeu que a consolidação deve ser feita com base no “crescimento económico”, criando “uma consolidação estruturada” e fazendo “investimentos essenciais”.
Fazendo um balanço destes últimos quatro anos, Catarina Martins defendeu que o “caminho” que o BE fez “foi importante”. “Há quatro anos, quando estive aqui num debate, as pessoas discutiam se se ia cortar muito ou pouco nas pensões. Isso não aconteceu, e não aconteceu porque houve um resultado eleitoral, uma força, que permitiu inscrever num acordo que não se podia congelar as pensões, como o Partido Socialista propunha, e que, pelo contrario, tinham de ser atualizadas todos os anos. Isso aconteceu e fomos até mais longe. Conseguimos aumentar mais as pensões mínimas”, disse, considerando que a medida “foi importante”, mas que o BE sabe que “é insuficiente”.
Acordo só com um governo “que acabe com o abuso do trabalho temporário, que garanta salários dignos”
Uma “pensão digna” e melhores condições de trabalham continuam a estar no centro das propostas do BE. Questionada sobre que medidas são necessárias para que se realize um acordo com o partido que ganhar as próximas eleições, Catarina Martins esquivou-se a dar uma resposta concreta, afirmando apenas que “um governo que seja capaz de uma legislação laboral, que acabe com o abuso do trabalho temporário, que garanta salários dignos, que respeite quem trabalhou toda uma vida e garanta o acesso a uma pensão digna, um governo que seja capaz de ter um serviço nacional de saúde eficaz, de fazer um investimento que faltava ao pais é um governo seguramente do Bloco de Esquerda”.
Sobre o atual acordo com o PS, a coordenadora do BE garantiu que este foi cumprido pelos “partidos à esquerda” e que “houve um momento que o Partido Socialista não quis cumpriu o acordo”, referindo-se a um medida que era, par o seu partido, “expressamente uma linha vermelha” — “descer a contribuição das empresas para a Segurança Social”. Um outro momento nestes quatro anos de “geringonça” que foi menos bom foi, na opinião de Catarina Martins, quando António Costa ameaçou demitir-se quando foi provada na especialidade a contagem integral do tempo de serviço dos professores. “Foi uma chantagem que o Partido Socialista decidiu fazer com a direita e criou uma crise artificial”, considerou a coordenadora.
“Durante quatro anos negociámos orçamentos de Estado, e o próprio Partido Socialista disse publicamente que achou essas negociações boas. Com a força que tínhamos, influenciámos aquilo que podíamos”, disse ainda.
Catarina Martins foi confrontada com a posição do primeiro-ministro, António Costa, que na mesma estação, na quarta-feira, rejeitou a possibilidade de vir a formar uma coligação de Governo com os atuais parceiros de esquerda, considerando que tal solução teria sido “mais instável” e “absolutamente impossível”. “Não tem muito sentido, porque o Bloco foi sempre a força da estabilidade ao longo deste tempo. Todos os acordos e as negociações que fizemos levámos até ao fim, de uma forma muito segura e muito clara, e se houve partido que teve ziguezagues e recuos volta e meia foi o PS, não foi o Bloco de Esquerda”, assegurou.
“O Bloco de Esquerda precisa de mais de 10%”
Questionada sobre se não sentia responsabilidade pela situação da saúde por causa da falta de investimento, a líder do BE afirmou que “se o Governo executasse o Orçamento aprovado, o Serviço Nacional de Saúde estaria muito melhor”. “No afã de fazer números sucessivos de recordes de défice, o Governo tem vindo a adiar despesas que estão orçamentadas, que têm de ser feitas e, portanto, fora do âmbito da Assembleia da República”, criticou.
Lembrando que o BE “foi o primeiro partido no parlamento a chamar a atenção” para este problema, tendo-se criado novas regras sobre a transparência das cativações, Catarina Martins fez uma pergunta, para logo dar duas respostas. “Dir-me-á: tinha de ser diferente? Tinha. O BE precisa de mais de 10%”, atirou.
BE quer contratar mais funcionários públicos para substituir os que se vão reformar
Uma das propostas do BE é o aumento de 30 mil funcionários públicos por ano. “Estima-se que, nos próximos quatro anos, 80 mil funcionários públicos vão pedir a reforma”, começou por dizer Catarina Martins, explicando que, o que o BE pretende fazer, é “substituir aqueles que se reformam para que os serviços públicos não deixem de funcionar” e, “por outro lado, contratar mais para aqueles setores onde está identificada a falta de trabalhadores”.
Ou seja, “uma boa parte” das novas contratações que o BE pretende fazer tem como objetivo “substituir quem cá está” e que vai sair.
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