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domingo, 25 de agosto de 2019

PROTEGIDOS POR UM FORTE DISPOSITIVO DA GNR LÍDERES DA EXTREMA DIREITA REUNEM-SE NUM HOTEL EM FÁTIMA

Santuário de Fátima
Umhotel em Fátima é desde a passada quinta-feira palco de um encontro de líderes de extrema-direita de uma das alas mais reaccionárias da Igreja Católica. Dois dos participantes são o primeiro-ministro húngaro, Viktor Orbán, e o chefe de gabinete de Donald Trump, Mick Mulvaney. As autoridades portuguesas destacaram um forte dispositivo de segurança, avançou na edição deste sábado o semanário SOL.
O encontro do International Catholic Legislators Network começou na quinta-feira no Hotel da Consolata, uma congregação de missionárias localizada a poucos metros do Santuário de Fátima, e termina este domingo. Os custos da operação de segurança com mais de duas centenas de militares da GNR estão a cargo do erário público português, ainda que o encontro seja de cariz privado, de completo sigilo ao ponto de os participantes e agenda não serem anunciados. Os jornalistas não estão autorizados a assistir.
Desconhecem-se as razões para Portugal ter sido o país escolhido.
A organização argumenta a favor do sigilo dizendo que os participantes precisam de toda a liberdade para expressarem as suas ideias. Este género de encontros de elite à porta fechada tornou-se cada vez mais comum, com muitos a basearem-se nas regras e moldes do chamado Clube Bilderberg, fundado em 1954.
“A GNR destacou para o local o efectivo considerado adequado, face ao evento, às entidades presentes e ao grau de ameaça definido pelas autoridades competentes”, disse o director de Comunicação e Relações Públicas, major Ribeiro, ao Jornal de Notícias, sem dar mais pormenores.
Os organizadores do encontro tiveram autorização dos responsáveis pela Basílica de Nossa Senhora do Rosário para lá celebrarem uma eucaristia na quinta-feira passada, por volta das 19h30. Os responsáveis garantiram ao PÚBLICO que em momento nenhum o santuário esteve encerrado ao público.
A visita privada de Orbán foi comunicada pelo seu gabinete ao Ministério dos Negócios Estrangeiros português, confirmou o Palácio das Necessidades ao PÚBLICO.
Mick Mulvaney não é o único próximo de Trump a pertencer a esta organização. O antigo secretário de imprensa do Presidente dos Estados Unidos Sean Spicer participou em Agosto de 2017 num dos seus encontros em Roma, em Itália, e chegou-se mesmo a encontrar com o Papa Francisco no Vaticano.
Entre os convidados do encontro incluem-se ainda os patriarcas da Igreja ortodoxa e da Igreja católica na Síria, Ignatius Apherem II e Yousef III Younan, respectivamente. E, de acordo com o PÚBLICO, o cardeal chinês Joseph Zen Ze-kiun, bispo emérito de Hong Kong e feroz opositor do regime comunista na China, também esteve presente, mostrando-o na sua conta do Twitter. Christoph Schönborn, fundador da organização e actual arcebispo de Viena, também esteve presente.
Vídeo promocional do encontro

Guerra secreta

Noseu site, o International Catholic Legislators Network, fundado em 2010, na Áustria, é directo nos seus intentos: formar líderes políticos cristãos e estabelecer ligações entre si, afirmando-se como sendo “não-partidário e totalmente independente” e denunciando que os “cristãos são os que mais estão sob ameaça”, dando como exemplo as perseguições no Médio Oriente.
“Deputados, representantes de governos, clérigos e especialistas são convidados ad personam. A participação pressupõe um claro perfil católico ou cristão que se reflicta nos registos de voto ou declarações públicas, especialmente no que diz respeito à santidade da vida humana, a verdadeira natureza do casamento e da família e ao compromisso de se defender a fundamental liberdade de religião”, lê-se na apresentação da organização no seu site.
Não são conhecidas posições políticas explicitamente contra o Papa Francisco e no seu site a organização limita-se a apresentar as suas posições mais gerais, como defesa da família tradicional entre homem e mulher, oposição ao divórcio, liberdade de religião e etc.
Entre as suas várias posições, encontra-se uma interessante em defesa da liberdade religiosa que tem como pilar o mercado livre e, porventura, a ideia do cheque-ensino do economista Milton Friedman. O International Catholic Legislators Network defende que os pais devem ter o direito de escolher as escolas para os seus filhos de acordo com as suas convicções religiosas e que o Estado deve garantir as condições para que assim seja. Ou seja, se os pais quiserem pôr os filhos numa escola privada cristã e não tiverem dinheiro para isso, o Estado deve garanti-lo através de financiamento aos privados.
Há uns meses, representantes do grupo encontraram-se com o Papa Francisco, com este a alertá-los para o risco de se combater o extremismo com extremismo.
“O relativismo secular e o radicalismo religioso são, na verdade, radicalismo pseudo-religioso. Neste assunto, gostaria apenas de vos chamar a atenção para o perigo real que é combater o extremismo e a intolerância com mais extremismo e intolerância com as vossas acções e palavras”, disse o Papa, citado pelo Rome Reporter.
O sumo pontífice tem-se confrontado com violentos ataques da ala mais conservadora da Igreja Católica, liderada pelo cardeal norte-americano e patrono da Ordem Militar de Malta Raymond Leo Burke, por assumir posições ditas liberais sobre os católicos divorciados e homossexuais. Há uma guerra secreta a decorrer no Vaticano, com uns a enfrentá-lo abertamente e outros a agirem com passividade, bloqueando os seus esforços.
“Há uma guerra subterrânea na Igreja Católica. Nem são muitos os cardeais se manifestam publicamente e praticamente todos dizem que apoiam o Papa. Mas a maioria dos opositores actua silenciosamente. Às vezes, conseguem bloquear a agenda com oposição aberta, mas principalmente por meio da inércia e de manobras por baixo dos panos”, explicou o especialista na Igreja Católica e autor do livro A Solidão de Francisco Marco Politi em entrevista à Globo.

medium.com

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