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sexta-feira, 30 de agosto de 2019

“A tentativa de Salvini de assumir democraticamente o poder absoluto fracassou”


Com uma nova solução de Governo à vista em Itália, o investigador Simone Tulumello considera que “o M5E e o PD fizeram o que poderiam ter feito há um ano”. E o que esperar do líder da Liga, que precipitou esta crise política? Salvini terá “tempo para se reorganizar e voltar a atacar” mas não é certo que consiga “recuperar do seu péssimo agosto”

Após 14 meses de turbulência, o Governo de coligação entre o Movimento 5 Estrelas (M5E, antissistema) e a Liga (extrema-direita) poderá dar lugar a um Executivo novamente capitaneado por Giuseppe Conte. Sai a Liga, entra o Partido Democrático (PD, centro-esquerda). O Presidente italiano, Sergio Mattarella, mandatou esta quinta-feira Conte para tentar formar um novo Governo, após o líder da Liga e ministro do Interior, Matteo Salvini, ter proposto uma moção de censura a Conte e de este ter apresentado a demissão.Em declarações ao jornal “Corriere della Sera”, o primeiro-ministro demissionário disse aceitar “com reservas” o mandato do Presidente. Ainda terá de negociar com o M5E e o PD os acordos que os dois partidos serão capazes de fazer. Posteriormente, Conte voltará a reunir-se com Mattarella. Em caso de aprovação dos ministros escolhidos, a tomada de posse poderá acontecer já na próxima semana.

Além de um novo partido a entrar nas contas de um provável segundo Governo Conte, há outra diferença substancial: desta vez, ele terá mais a dizer. Na configuração anterior, a Liga e o M5E elaboraram um programa sem antes consultarem o chefe do Governo. E Conte refletiu essa mudança no discurso que proferiu após a reunião desta quinta-feira com Mattarella: “Este é um momento de valentia, de tentar projetar um país melhor. Este é o momento para um novo humanismo.”
Em mais um capítulo da agitada política italiana, o Expresso conversou com Simone Tulumello, investigador do Instituto de Ciências Sociais (ICS) da Universidade de Lisboa.
Como reage ao entendimento entre o M5E e o PD?
O M5E e o PD fizeram o que poderiam ter feito há um ano. Embora enfrentando grandes divisões e conflitos internos, com as bases dos dois partidos adversas a um Governo “giallorosso” (amarelo-vermelho), impôs-se a realpolitik. Em caso de eleições e face ao equilíbrio entre os três polos, o melhor que o M5S ou o PD poderiam esperar em outubro seria a possibilidade de constituirem um Governo de coligação. A alternativa seria um Governo de Salvini com uma maioria absoluta de direita.
O que trará esta solução de Governo de novo?
Vamos ver as novidades que um segundo Governo de Conte poderá trazer. Certamente levará a uma maior integração italiana no contexto europeu e muita gente em Bruxelas está a festejar o entendimento. Será interessante ver se haverá uma viragem à esquerda na política económica. Fala-se na possibilidade de Mariana Mazzucato no Ministério da Economia, o que indica que, de alguma forma, poderá haver algumas mudanças nesta área.
E em relação aos refugiados?
Podemos, com certeza, esperar uma atitude menos agressiva relativamente aos refugiados. Com Salvini fora do Governo, não veremos barcos parados durante semanas no Mediterrâneo. Mas os nomes falados para o Ministério da Administração Interna não sugerem uma verdadeira mudança estrutural. Seja com Marco Minniti, que abriu caminho às políticas de Salvini e é mais apreciado à direita do que à esquerda, seja com Franco Gabrielli, chefe da Polizia di Stato [Polícia do Estado], a política securitária continuará a dominar.
O que se pode esperar de Salvini?
O futuro de Salvini é incerto. A sua tentativa de assumir democraticamente o poder absoluto fracassou e, com ela, aquela imagem de vencedor e grande comunicador, que foi crucial para o seu sucesso. De facto, havia muita gente, como o coletivo de escritores Wu Ming, que sugeriam há muito tempo que Salvini não seria um grande político. No entanto, na ausência de alternativas credíveis de liderança à direita, o Governo giallorosso dará tempo a Salvini para se reorganizar e voltar a atacar, a partir da oposição. Se isso será suficiente para recuperar do seu péssimo agosto ainda é cedo para dizer.​


expresso.pt

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