Baptista Bastos
O mundo está a mudar de uma forma tão drástica que a representação do poder moderno torna difícil a sua compreensão.
Muitos de nós fomos enganados pelas propostas e pelos propósitos de alguns em quem acreditámos. As coisas foram-se alterando e o mundo retomou o seu rumo. Claro que alguma coisa se modificou. E, às vezes, perguntamo-nos se as mortes e as matanças se justificam a si mesmas. Muitos de nós perguntamo-nos acerca da natureza daquilo que fazemos. O mundo está a mudar, de uma forma tão drástica que a representação do poder moderno torna difícil a sua compreensão. As antigas proposições têm sofrido alterações tão profundas e significativas que o poder primordial corresponde a outras técnicas políticas.
O mundo está a mudar e essa mudança mexe, profundamente, com os mecanismos do poder moderno e, por isso, com a nossa imediata compreensão e aceitação. Que fazer? Tentar entender, através das possibilidades da nossa compreensão, o movimento acelerado das coisas.
As velhas noções de relação com os outros têm sido substancialmente alteradas. Pretende-se, isso sim, controlar os mecanismos pessoais, através da uniformização em massa. A organização da União Europeia talvez nascesse de uma ideia generalista de que essa uniformização tenderia a aceitar as coisas tal como eram apresentadas. Desejavam, os seus progenitores, uma espécie de uniformização do pensamento e do comportamento humanos. Cedo se verificou a impossibilidade do sistema. A espécie humana constrói, inventa e alimenta as tecnologias, mas recusa a uniformização. A História está repleta destes exemplos. E a própria União Europeia torna-se recalcitrante de si mesma.
A Alemanha, pela razão exposta por Wolfgang Schäuble, tornou-se numa espécie de poder que não deseja outro que não aquele, antigo, hegemónico e atroz, fautor de tanta miséria e de tanto desconforto. Mas o cansaço já atingiu diversos governos. Não são absolutamente favoráveis a esta União, mas não estão dispostos a aceitar e admitir esta política do tudo quero e tudo mando, dominada por Angela Merkel, e que mais não é senão o porta-voz dos grandes poderes económico-financeiros.
A nossa situação, a situação portuguesa, chega a ser rastejante. Vimos isso com José Sócrates e, de um modo absolutamente cabisbaixo, com Pedro Passos Coelho, em que a subserviência atingiu aspectos de ultraje. Como a nossa comunicação social estava, quase toda, sob a direcção abjecta de administrações apenas destinadas à subserviência, o assunto tornou-se de uma gravidade tormentosa.
Nem no tempo do salazarismo a situação foi tão delicada. É substancialmente depravante o número de bons jornalistas que foram afastados, e substituídos por tecnocratas medíocres que apenas serviam um dono: o do dinheiro.
Não acredito na manutenção indeterminada de uma situação dolosa, desta natureza. Porém, admito que o assunto seja fastidioso e incómodo. Naturalmente, as nações não conseguem viver com esta aspereza de comportamento. E as reacções que se têm registado são particularmente significativas. O próprio Francisco Louçã escreveu, há dias, que a situação é incomportável. E Louçã, quando fala deste modo determinante, quer sempre dizer mais do que aparenta.
O mundo está numa situação perigosa. E as decisões últimas dos seus dirigentes, assim como a multiplicidade das tensões nas relações de poder são de molde a ficarmos muito preocupados com o que pode acontecer.
Jornal de negócios
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