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terça-feira, 27 de setembro de 2016

GORDA, GREGA, FEIA, DE BOINA E COM CABELOS NAS PERNAS



 

 
Tenho a ideia, com certeza errada, de que os artistas do espectáculo nunca se distinguiram no geral pela bonomia ou por alguma espécie de tolerância cristã nas suas relações pessoais de bastidores uns com os outros. E mais difícil ainda quando se trata de rivais. Se bem que, de certa maneira, mais aqui ou mais além,os criativos são sempre alguma coisa rivais uns dos outros, na promoção do seu trabalho, no cachet, sobretudo no aplauso do público.
Numa noite de finais dos anos 40, o encenador e cenógrafo Franco Zeffirelli e o seu mentor (e amante) da época, o conde Luchino Visconti, foram ao apartamento do maestro Tullio Serafin para serem apresentados a uma rapariga gorda, feia, grega, com cabelos nas pernas e uma inenarrável boina de veludo na cabeça.

A rapariga, ainda para mais, vestia umtailleur preto muito justo ao corpo a fazer-lhe sobressaír as largas ancas e o peito farto. Tudo nela era grande, a boca, os olhos, o nariz – e a boina…
Árbitros de elegância, Zeffirelli e Visconti reparavam horrorizados na rapariga.
 

                                                             
 
E com ares tão ostensivamente críticos reparavam que o maestro Serafin, de quem ela era protegida, percebendo o que se passava, disse à moça gorda, feia, grega e com cabelos nas pernas:
- Vamos, Maria, vamos fazer um bocadinho de música.
E dito isto abriu o piano, começou a tocar e a rapariga pôs-se a cantar para os dois senhores finíssimos. Mal a ouviram cantar, os dois senhores finíssimos e estetas meteram a viola no saco e começaram a reparar noutras coisas, a deixar-se tocar por outras coisas para além da boina, do peito, das ancas e dos cabelos das pernas.                                                                       

    
 
Tudo isso aconteceu quando Visconti montava em Roma uma peça de Shakespeare e houve um atraso na entrega do guarda-roupa. A alfaiataria tinha em mãos outra prioridade, o vestido de uma rapariga gorda, feia, grega e com cabelos nas pernas de quem nem o conde Visconti nem o seu assistente tinham alguma vez ouvido falar e que cantaria por esses dias o Parsifal na Opera de Roma.
 
                                                                    
 
A rapariga gorda, feia, grega e com cabelos nas pernas chamava-se Maria Callas, como já se percebeu, e era a sensação do mundo lírico italiano do imediato pós-guerra. E sensação tal ela era que o conde Visconti e o seu adjunto resolveram ir ouvi-la em privado a casa do maestro Tullio Serafin.
 
 
As impressões quase cruéis desse e doutros encontros entre Zeffirelli e Maria Callas constam das memórias do primeiro e têm o valor e a credibilidade que têm, sendo certo de que me lembrei delas também como ilustração de uma moral artística de bastidores, e que nem sempre tem a ver com as grandes frases ou os sentimentos grandiloquentes que o grande público vota aos artistas da sua predilecção, porque os considera seres humanos invulgares, eleitos pelos deuses para assombrar o mundo com as suas qualidades.
Tullio Serafin fez a Callas cantar nessa noite diante dos dois estetas uns trechos da Traviata e Zeffirelli admite que fechou os olhos à gordura, à feiura, à boina e aos cabelos nas pernas e, ouvindo-a, viu com os olhos da alma e da arte a elegantíssima cortesã protagonista da ópera - e não estando o refinadíssimo conde Visconti menos fascinado do que ele.
No dia seguinte, Zeffirelli mandava flores à gorda, grega e feia e cabeluda Maria, e com essas flores enviava também umas linhas escritas, que ele entendeu poderem muito bem passar uma carta de amor.
       Maria foi depois cantar a Traviata a Florença, cidade de Zeffirelli, e, claro, Zeffirelli lá estava caído e de boca aberta todas as noites e com entrada franca no camarim da diva.
- Você passa a ser o meu valet de chambre – diz-lhe Maria.
E ficaram amigos para a vida – ou pelo menos para uma boa parte dela.
 
 
Nessa época, ainda gorda e feia, embora provavelmente depilada e já sem a boina, Maria Callas estava ainda a certa distância de ser a lenda que viria a ser. Amiga de Zeffirelli, confessava-lhe a razão do seu físico, a bulimia, isto é, uma compensação em comida e doces para a ausência dos afectos de que sofria desde miúda. Clássico. Nos tempos de guerra a fome de Maria era negra e grega, e quanto maiores as restrições impostas pela situação e pela falta de dinheiro mais a fome lhe mordia. Travava amizades com soldados italianos ocupantes que lhe ofereciam chocolates tirados à ração de combate, porque todo o dinheiro que tinha era para financiar as lições de canto. Lições que viriam a resultar na sua estreia em Atenas, aos 18 anos, na Cavalleria Rusticana.
 

Toscanini não gostava de Maria. Porquê? Porque achava que ela tinha vinagre na voz. Profundamente ferida pela apreciação do velho maestro, Maria decidiu enfrentar Toscanini. Pediu-lhe uma audição. Toscanini recusou. Maria insistiu e insistiu, colocando-o numa posição ingrata. Não sei se a audição aconteceu, mas Zeffirelli conta o caso para realçar o carácter de Maria, sempre ansiosa por encarar as dificuldades de frente.
 
                                                                    
 
Se a claque do Scala aplaudia, pateava ou silenciava a actuação de um cantor em função da quantidade de dinheiro que esse cantor lhe pagava, o que era prática instituída e indiscutível, Maria sempre recusou pagar à claque. Porque achava imoral, claro está. Porque adorava conflituar. Mas sobretudo porque, di-lo Zeffirelli, era famosa por ser uma unhas de fome, forreta à quinta casa. Tanto ela como o marido, o velho comendador Battista Meneghini.
Na hora de entrar em cena, Maria, insegura, nervosa, punha-se a discutir com a criada os assuntos domésticos mais insignificantes, a carestia da vida, a conta da lavandaria, o preço da hortaliça. No momento de entrar, respirava fundo, vestia instantaneamente a personagem e avançava para cena.
 
 
Trágica, grandiosa e genial no palco, na vida artística, Maria (conta Zeffirelli) era, em privado, uma mulher muito trivial de atitudes e de gostos pequeno-burgueses. Seria essa, para ela, a verdadeira vida, enquanto a outra vida, a do palco, era condição transitória a que não seria aconselhável prestar mais atenção do que a necessária e no momento próprio. E menos ainda deixar-se infectar pelas suas perigosíssimas mitologias.

 
Maria é a protagonista da célebre edição da Sonnambula, de Bellini, no Scala, encenação de Visconti, direcção de Bernstein.
No final da récita de estreia vai tudo cear a um restaurante da afamada galleria milanesa, o Biffi, ou o Savini tradicionais. Esperava-se a saída das críticas. E quando chegam os jornais e se lêem as críticas todos ficam desapontados. Os críticos andam quase sempre atrasados, como se sabe, e nunca prestam justiça em cima da hora ao que mais tarde se vem a tornar uma referência, e também daquela vez torceram o nariz à sensacional produção.
 
 
O grupo festivo dispersou-se, cada um foi para seu lado de monco caído, o comendador Meneghini informa que se vai deitar e Maria fica só com Zeffirelli. Enchendo nova taça de champanhe, pede-lhe:
- Franco, não te vás tu também embora, não me deixes pra aqui. Vamos esperar o nascer do dia.
Zeffirelli olha para a taça de champanhe e pergunta:
- Então e a tua dieta?
- Esta noite não quero ouvir falar de dietas, preciso de beber…
E Maria desata subitamente a soluçar como uma criança.
- Porque choras, mulher? É o momento mais alto da tua vida, estás no topo da tua carreira…
- Pois é mesmo por isso. Toda a minha vida, Franco, fui uma pessoa realista. Quando me acontece alguma coisa de bom penso logo que essa felicidade não vai durar muito tempo.

      O dia nasce e Zeffirelli percebe o problema de Maria. Coisa um pouco banal. A seguir às tensões provocadas pelo espectáculo, Maria precisava que se ocupassem dela, um ombro amigo, amor, ser tratada já não como uma estrela ou uma máquina de fazer dinheiro e sim como uma mulher. 
No hotel, Meneghini, o marido, dorme a bom dormir.
Acabada uma récita, cessam os aplausos, regressa o vazio à vida verdadeira de qualquer artista do espectáculo por mais celebrado que seja. É assim.
E Maria emagrece espectacularmente. Torna-se mais bonita. Não usa mais boinas de veludo. Não tem um pêlo nas pernas. Toda a roupa de cena, independemente de qualquer outra consideração de tipo dramático ou estético, terá de evidenciar ao público o quanto ela emagreceu, o quanto ela se sacrificou pela sua arte e pela sua carreira.
 
 
Na banquinha do camarim de Maria vai passar a estar o retrato de alguém. Do marido? Não, que ideia. Do pai, da mãe, da irmã? Nem por sombras. O retrato em que Maria se remira como se um espelho ele fosse é o de Audrey Hepburn. Audrey Hepburn no filme Férias em Roma. Estava ali o ideal por que se sacrificara. E eram os tiques e as expressões de Audrey Hepburn que Maria se esforçava por imitar. Isto diz Zeffirelli, claro.

          
 
E outra… Maria, coitada, tão realista que era… estava apaixonada por Visconti.

      Mas não era por aí que atraiçoava o velho Meneghini. Visconti, que adorava seduzir, nunca (ou muito, muito raramente) passaria a vias de facto com mulheres. Mas Maria andava sedenta de amor, louca por ele, sempre de volta dele, ciosa da pessoa dele, ciumenta. Por exemplo, Maria não suportava ver Visconti ensaiar a sós com um tenor. Ao almoço ou ao jantar, Maria corria todos os restaurantes que havia em redor do Scala para ver com quem Visconti almoçava ou jantava e fazer-lhe uma cena de ciúmes.
      Maria está a poucos minutos de entrar em cena. Espreita a plateia do Scala pelo ralo do pano de boca. Confessa a Zeffirelli:
- Sinto a atmosfera escaldante que ali vai, cheiro o suor e ouço a respiração daquela gente. Enquanto canto não os vejo mas sinto-lhes a presença. São 2.500 monstros de hálito quente que me devoram com os olhos. Saíram do fundo de um caldeirão infernal com o desejo de me verem morrer em cena.
          Zeffirelli vai montar uma Traviata a Dallas. Maria é a protagonista. Os fotógrafos e a imprensa do mundo inteiro caem em massa no Texas.
Será a produção que inaugura a afamada concepção de Zeffirelli: realizar a Traviata numa linguagem próxima do cinematográfico, em flash back, Violeta na cama, moribunda, durante a execução do melancólico prelúdio, tal como estará na cena final da ópera, e recordando os seus dias de esplendor social. Escuro. Uma mudança rápida de cena. E princípio do 1º acto, Violeta aparecendo felicíssima entre os convidados da brilhante festa.

 
Zeffirelli e o maestro Nicola Rescigno vão visitar Maria à sua villa no lago de Garda a fim de discutirem os pormenores da produção de Dallas. Falam do que têm a falar e no regresso, Maria e o marido prontificam-se a dar-lhes boleia de automóvel até Milão. Durante a viagem, no banco de trás, Zeffirelli e Rescigno já estão a ficar incomodados com as dentadinhas na orelha e os beijos e outras provocações eróticas que Maria faz ao velho Meneghini, que vai ao volante.  
 
                                                             
 
Chegados a um bonito olival, Meneghini resolve parar o carro. Ele e Maria saem e, enlaçados, internam-se no olival, deixando os passageiros (pederastas ambos, ainda por cima) de cara à banda, feitos parvos, sem saberem o que fazer ou o que pensar. Daí a um bom bocado o casal volta a entrar no carro.
- Vocês não nos perguntaram porque parámos…
- Pois não, achámos que eram coisas que só a vocês diziam respeito…
- É que nós costumamos parar sempre aqui, foi aqui que o Battista me beijou pela primeira vez, cada vez que aqui passamos, paramos e vamos para ali…beijar-nos…
 
 
        Zeffirelli tece considerandos a propósito deste episódio. As explicações de Maria tinham-no deixado num tormento. Nada daquilo era verdadeiro. Tudo aquilo não passava de uma comédia.
 
 
Era uma comédia que pretendia esconder, ou pelo menos disfarçar, a questão de moral que era a crise do casal. Maria já nesse tempo tinha encontrado Onassis. A aventura com Onassis estaria só nos princípios, mas Maria tinha diante dela uma questão de moral para resolver.   
 
  
Uma questão de moral doméstica e convencional e pequeno-burguesa, vamos lá, a moral própria da sua condição.
 
 
Maria conhece Onassis e teme o que possa vir a suceder em consequência desse conhecimento. Aquela cena no olival teria sido parte da luta titânica que se desenrolava no íntimo de Maria, a má consciência de mulher apaixonada e visceralmente livre debatendo-se com a consciência burguesa e hipócrita de uma tradicional mulher casada que queria manter a aparência de continuar bem casada.
 
Zeffirelli afirma que Maria e Battista Meneghini, o negociante de tijolos muito mais velho com quem ela casara, formavam um par bastante estranho.
Meneghini era o agente e administrador dos negócios artísticos da mulher. Era ele que sacava o dinheiro e o geria. Maria nem uma conta bancária tinha em nome próprio e singular. Meneghini – tanto como Maria – sofria da obsessão pelo dinheiro, o dinheiro contado, líquido.

       Meneghini era implacável a negociar os contratos da mulher. As exigências que fazia eram por vezes incomportáveis – e insuportáveis -, e por essa razão, no parecer de Zeffirelli, Maria e Meneghini terão dado cabo da paciência de muitos directores de teatro e ela terá por isso perdido muitas oportunidades de carreira.
Bom, Maria apresentou-se para os ensaios da tal Traviata de Dallas, regressada de uma tournée pela América Latina. Uma vez, no camarim, Meneghini e ela abriram apressada e gulosamente um saco vulgar, de serapilheira, porém a abarrotar de moedas de várias procedências, dólares, libras, liras, cruzeiros, pesos, bolivares. Zeffirelli afiança que aquilo era um autêntico tesouro de piratas e achava ridícula a mania de Meneghini de se fazer sempre pagar em dinheiro sonante.

      Só por curiosidade: nos dias em que cantava oParsifal em Roma, ainda praticamente desconhecida, Maria fizera-se receber em audiência pelo papa Pio XII. Pio XII era um germanófilo que fora por muito tempo Núncio Apostólico em Berlim, um homem imbuído de cultura alemã mais do que qualquer outro italiano desse tempo.
- Com quem então, cantando Parsifal na tradução italiana em vez de o fazer na língua original? - teria notado o Santo Padre, franzindo criticamente o sobrolho.                                                                         
 Ao que a rapariga, nesse tempo ainda gorda, feia, grega e de cabelos nas pernas, replicou orgulhosamente:
- Santidade, é preciso escolher… ou limitar o seu público aos cultos e aos estetas, ou fazer o possível por se dirigir ao mundo inteiro.
Sobre uma questão crucial do espectáculo lírico dessa época, Maria teria tido a lata de criticar veladamente ao Santo Padre o encorajamento de concepções elitistas, em oposição a uma arte de ressonâncias um pouco mais populares.
 
                                                   
Zeffirelli diz que ela chegou a ser desagradável em face de Pio XII. Mas Pio XII também teve jogo para ela e não se deu por achado:
- A menina admitirá que Wagner soa melhor, sem dúvida, quando cantado no texto original alemão.
- Mas Santidade, a ópera é uma acção, uma dramaturgia, e essa dramaturgia nasce na música. Só metade da emoção resulta da intriga e do texto.
Facto curioso também o de Maria ser bastante míope, o que lhe duplicava as angústias quando, sem óculos, entrava em cena e se deparava com uma espécie de nevoeiro povoado de sombras, representando e caminhando entre volumes fantásticos. Como quando, por exemplo, fez a tal Sonnambula no Scala, com Visconti.
 
 
Há um momento da acção da Sonnambula concebido para cortar a respiração ao público, que é quando a protagonista, dormindo, caminha na meia obscuridade, numa plataforma sem resguardo que a certa altura se interrompe sobre o vazio. Como fazer para que Maria, que mal enxergava um palmo adiante do nariz, caminhasse naturalmente, a cantar, e naturalmemte se detivesse sem mais um passo no preciso momento e no preciso ponto, sem baldear cenário abaixo?
 
 
Bom, já que a diva não era capaz de se guiar pelo dom da vista, que se guiasse pelo dom do olfacto. Sim, um determinado odor chegado à pituitária avisaria a cantora do momento de parar. E esse cheiro era o do perfume favorito do conde Visconti, marca britânica feita para a casa real de Windsor, Hammam Bouquet, que naquele momento se evolaria de um lenço de seda impregnado e preso a um prego do cenário, mesmo à altura do nariz da Callas.
Coisas do arco da velha que se passam na cena lírica…
 
 
A certa altura da sua vida, Maria começou a sentir-se mais atraída pelas mundanidades do café society do que pela regrada vida de clausuras, resguardos, vocalizos, medos e estudo de partituras própria de um artista lírico.
 
 
A rapariga gorda, feia, grega, de boina e cabelos nas pernas tinha subido na vida a pulso e à custa de muito sacrifício. Bolas! Já não era gorda nem feia, não usava boinas nem tinha cabelos nas pernas. Agora era uma estampa talhada à medida de Hollywood, de Audrey Hepburn. Estava mais do que nunca pronta para trilhar a senda do jet set e fazer-se admirar fora dos condicionalismos da profissão.
Depois da  Traviata de Dallas, Zeffirelli passa a encontrar-se mais esporadicamente com Maria. Diz ele que a vida privada e a vida artística dela já se atrapalhavam uma à outra.
 
 
Monte Carlo, os bailes, as recepções, as ceias luxuosas nos lugares da moda internacional, os iates… atraíam-na muito mais do que uma banal ovação de meia hora por um público de pé, no Scala ou no Covent Garden.
Maria apenas queria fazer parte do mundo de Onassis.
 
 
Toda a gente sabe, Maria apaixona-se seriamente por Onassis e, apaixonada, pode ter perdido a lucidez de juízo que tanto a distinguira na vida profissional. Maria ambicionava casar-se com Onassis. Seria caso de conto de fadas se o presumido noivo estivesse pelos mesmos ajustes. Talvez não estivesse.
Parece que não estava mesmo.
      Zeffirelli opina que Onassis apenas pretendia acrescentar o nome da divinaMaria Callas ao seu catálogo de Leporello. Não talvez pela mulher em si. Talvez mais por ela ser a Callas, a diva mais célebre da época, a silhueta mais glamourosa daqueles primeiros anos 60.
Onassis não estaria propriamente apaixonado por Maria. Onassis, o mais certo era manter-se apaixonado pelo dinheiro, pela publicidade, pelo poder, pela fama, pelo prestígio que uma ligação com a Callas lhe pudesse trazer. Talvez seja uma apreciação um pouco apressada e também pequeno-burguesa de Zefffirelli.
 
 
Porque Zeffirelli, que apontava a Maria aqueles pequenos esquemas burgueses de pensar e de viver, também, na minha opinião, não se eximia a eles naquela sua ambição de fazer pela vida, de fazer filmes de sucesso, de conhecer e trabalhar com as vedetas mais credenciadas, no seu deslumbramento por vezes saloio e superficial de ter conseguido dirigir Anna Magnani, Laurence Olivier, Elisabeth Taylor, Richard Burton e, enfim… a própria Callas…

         
                                            
beau monde. O show business. O glamour. As aparências, A tragédia da frivolidade.
 
 
Voltaremos ao assunto... para ver como é que isto vai acabar...

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