A criatividade também pode ter sabor. Essa é, pelo menos, a sensação com que ficamos ao entrar na Fábrica do Queijo, em Olhão, dando de caras com a sua grande variedade de produtos lácteos, elaborados com matérias primas da região.
Esta empresa olhanense aposta nas tradições e nos produtos do Algarve, aos quais junta uma boa dose de imaginação. «O meu objetivo é pegar no que é tradição, no que é normal fazer-se, e inovar. O conceito é muito simples, mas dá muito trabalho», resumiu Ana Gancho, a jovem empresária que há cerca de um ano se lançou nesta aventura.
Ana Gancho
Apesar de não estar de portas abertas há muito tempo, a Fábrica do Queijo já habituou os seus clientes a ter novidades regulares. A mais recente são as queijadas, que saíram do forno pela primeira vez em Agosto, um produto no qual a empresa algarvia quer apostar. «São queijadas sem açúcar refinado ou amarelo. Como alternativa, uso a geleia de agave ou o açúcar de coco», disse Ana Gancho, ao Sul Informação.
«Quando tenho a possibilidade, lanço novos produtos. As pessoas procuram sempre novidades e é isso que faz mexer a loja. Estou a pensar aventurar-me em queijadas à base de mel e também já ponderei fazer queijadas salgadas. Hão-de surgir outras inovações, sempre à volta do nosso queijo», ilustrou.
Para chegar a este ponto, a engenheira zootécnica, natural de Olhão e formada na Universidade de Évora, teve de arriscar, arregaçar as mangas e criar o seu próprio negócio. Antes disso, aprendeu muito sobre a produção de queijos e de outros produtos lácteos num percurso profissional sempre ligado ao setor.
«Há mais de dez anos que estou na área. Depois de ter feito um estágio de final de curso em Itália, onde trabalhei com leite de cabra, vim para a Direção Regional de Agricultura e Pescas do Algarve [estágio profissional], onde aprendi a fazer queijo. Entretanto, fui para Castro Marim, para trabalhar com o Jacinto Paulo Matias, onde aprendi a fazer os iogurtes. Depois, fui para São Brás abrir o Portal dos Queijos, que ainda está em atividade», contou.
Mais tarde, foi convidada para iniciar o projeto da ANCCRAL – Associação de Criadores de Caprinos de Raça Algarvia, que geriu durante cinco anos, intimamente ligado ao leite de cabra. «Por motivos pessoais e por achar que já reunia os conhecimentos necessários para dar este passo, vim para o pé da família, em Olhão», explicou.
Nasceu assim a Fábrica do Queijo, numa loja situada na Avenida da República, uma das principais artérias de Olhão, onde Ana Gancho produz diferentes tipos de queijo e iogurtes e onde é feita a venda ao público. E clientes não têm faltado, garante a empresária.
«Olhão está em crescimento, há cada vez mais estrangeiros residentes e turismo. E, por incrível que pareça, eles interessam-se muito mais pelo que é nosso, por aquilo que é genuíno», disse. Os produtos de Ana Gancho não podiam ser mais nossos, já que usam como base leite de cabras de raça algarvia e produtos adquiridos localmente.
Esta linha, bem próxima da tradição, foi traçada logo de início, quando a jovem empresária decidiu investir no seu próprio negócio. «Achei que tinha de usar os métodos tradicionais. Optei, então, pelas panelas, até porque o espaço que tenho disponível é limitado. E achei que tinha de fazer diferente», disse.
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E foi com esta filosofia que Ana Gancho criou dezenas de produtos distintos e inovadores. «Começámos pelo queijo fresco e adicionámos uma grande variedade de sabores. Temos aqui sempre o queijo de ervas e o simples. Depois vamos variando. Hoje fiz com leite condensado e coco, com tomate seco e manjericão e com doce de abóbora e nozes, para vender amanhã. Mas vai mudando, consoante os doces que me aparecem e os produtos que tenho à disposição. Nunca é igual, não há nada planeado. Por norma, temos sempre dois doces e um salgado. Até já perdi a conta aos diferentes tipos de queijo que aqui fiz», disse.
Entretanto, a empresária apostou nos queijos curados, também com aromas. Neste caso, só aposta nos sabores salgados, «como o picante, alho e salsa, azeitonas e alho, pimenta, orégão, caril e de sementes, entre outros».
«Não satisfeita, comecei a fazer bolinhas de queijo e a curá-las em azeite, numa parceria com o lagar de Santa Catarina. Nós aromatizamos o azeite e temos já cinco sabores distintos: o italiano, com tomate seco e manjericão, o algarvio, com louro, orégãos e alho, o espanhol, que é picante, o nortenho, com salva e alecrim, e o alentejano, com azeitona, poejo e orégãos», acrescentou.
Este é um produto que tem uma dupla utilização, já que, além do queijo em si, é possível reutilizar o azeite em que este está conservado, «para temperar saladas, massas e fazer outro tipo de pratos».
Por alto, Ana Gancho estima que sejam já mais de 20 os diferentes aromas de queijo fresco que experimentou, mais dez curados e as cinco variedades de queijo em azeite, a que se junta o queijo de aromas ralado, que vende em feiras.
A estes queijos juntam-se outros produtos lácteos, nomeadamente iogurtes e, mais recentemente, queijo creme, que também tem diferentes sabores, nomeadamente «alho e salsa, alho e coentros, alho e cebolinho, azeitona e tomate e manjericão».
Mas a Fábrica do Queijo é mais do que uma queijaria, é uma loja onde se podem encontrar outros produtos típicos, a larga maioria algarvios, mas também alguns do Alentejo, como compotas, vinhos, conservas, chás, sal tradicional e ervas. «Ao início, não tínhamos muitos produtos nossos. Agora, o nosso objetivo é ter um estabelecimento só com os produtos que fazemos e com os dos nossos parceiros mais próximos», disse.
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