"Na nossa época, marcada pelo aprofundamento da crise global do capitalismo, em que as liberdades, os direitos dos trabalhadores, as conquistas sociais, a independência dos povos, a própria dignidade humana, estão a ser postos em causa pela voracidade dos grandes interesses financeiros, de novo a pulsão fascista desponta, com outros métodos e roupagens."
Têm-se multiplicado ultimamente as edições, em destaque no escaparate das livrarias e das grandes superfícies, que revisitam o tempo histórico de marca fascista. Grande parte com base em trabalhos académicos, a pretexto de efemérides, ou correspondendo à curiosidade sobre episódios de bastidores ou detalhes da vida privada de protagonistas, num «voyeurismo» muito fomentado, a história vai sendo reescrita, à feição dos interesses da classe dominante.
Há, sem dúvida, relevantes e valiosas excepções, mas a tendência mais forte, mais divulgada, e promovida pelos mercados da comunicação, é a do discurso que branqueia o passado de opressão, violência e submissão que o fascismo representa.
Abundam os registos biográficos de Salazar e de Caetano, da autoria de serventuários e epígonos, tendo alguns textos chancela universitária, relatos e «cronologias» da época, onde se pretende historiar a polícia política e mesmo alguns torcionários, a par de amáveis descrições do quotidiano, em todos se identificando traços comuns: suavizar as brutalidades, humanizar os seus responsáveis, omitir as causas, desideologizar o curso histórico, recuperar o bem do passado por oposição ao mal do presente.
Jorge Sarabando
mafarricovermelho.blogspot.pt
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