Presidente dos EUA depositou uma coroa de flores no monumento que homenageia o herói da independência de Cuba, José Martí.
É uma imagem que os cubanos não imaginariam ser possível há pouco mais de um ano: o seu Presidente, Raúl Castro, à porta do Palácio da Revolução, a sede do Governo do país e o coração do sistema comunista da ilha, à espera de apertar a mão ao Presidente dos Estados Unidos, Barack Obama.
O líder norte-americano, que começou o dia a depositar uma coroa de flores no memorial do poeta e revolucionário José Martí, o herói da independência de Cuba, acaba de chegar à sede do Governo do país, para uma reunião bilateral com o Presidente Raúl Castro, um dos generais da revolução de 1959 que levou ao corte das relações com os Estados Unidos. “Está a gostar de Havana?”, quis saber Raúl Castro. “Gostei muito do pequeno passeio que fizemos à noite. E o jantar foi excelente!”, respondeu Obama. Foram as únicas palavras de circunstância que as câmaras conseguiram captar, antes de os dois se retirarem para a sua reunião oficial.
A última vez que um Presidente norte-americano esteve em Havana para conversações ao mais alto nível foi em 1928: como lembrou Barack Obama, o Presidente Calvin Coolidge demorou três dias a viajar entre os Estados Unidos e Cuba, a bordo de um navio de guerra, o USS Texas; o seu avião Air Force One aterrou ao fim de três horas.
Uma guarda de honra esperava Obama dentro do Palácio da Revolução: uma banda tocou os hinos dos dois países, foram apresentadas armas e, depois da pompa e circunstância, os dois Presidentes afastaram-se para a sua reunião. É a terceira vez que os dois líderes se encontram, com os anteriores encontros a decorrer no âmbito de cimeiras inter-americanas. Ao mesmo tempo, iniciavam-se conversações entre ministros e secretários dos dois países, conselheiros e uma série de diplomatas e outros funcionários governamentais.
Na agenda estão temas que vão desde reformas económicas e políticas às matérias mais delicadas de direitos humanos. O Presidente norte-americano garantiu, antes de embarcar para Cuba, que “levantaria questões sobre liberdade de expressão e de imprensa, e de reunião e discussão política, directamente com Raúl Castro”. Mas Obama sabe que tem de moderar a sua intervenção para não ultrapassar a linha da soberania cubana – e a elevada sensibilidade do regime castrista a qualquer declaração que seja vista como uma interferência.
A cerimónia matinal na vasta Praça da Revolução, onde se encontra o monumento a José Martí, foi breve mas simbólica. Barack Obama viu três membros do Exército cubano carregar uma enorme coroa de flores vermelhas e brancas até ao pé do enorme monumento, e depois deixou a sua assinatura no livro de visitas oficiais disposto no memorial ao herói da independência. “É uma grande honra poder prestar tributo a José Martí, que deu a vida pela independência do seu país. A sua paixão pela liberdade e a auto-determinação perdura até hoje no espírito do povo cubano”, escreveu o Presidente dos EUA.
Na mesma praça, outras esculturas gigantes dedicadas a heróis da nação cubana acentuavam o carácter histórico do momento – olhando para o horizonte, Obama podia ver as efígies de Ernesto “Che” Guevara ou de Camilo Cienfuegos, dois companheiros de Fidel Castro e símbolos da revolução e da resistência ao imperialismo, nas fachadas dos edifícios ministeriais.
O Presidente dos Estados Unidos aterrou em Havana no domingo à noite, para uma visita oficial a todos os títulos histórica. Os dois países, inimigos depois da revolução liderada por Fidel Castro para depôr o Presidente Fulgêncio Batista, puseram de parte décadas de antagonismo e anunciaram o “descongelamento” das suas relações diplomáticas em Dezembro de 2014. Desde então, têm dado passos significativos no sentido da normalização da sua ligação política e económica, através da reabertura das respectivas embaixadas em Washington e Havana, e de iniciativas administrativas para facilitar as trocas comerciais, o investimento e as transferências financeiras, as viagens e o turismo.
Os resultados do trabalho destes quinze meses não se fazem sentir da mesma maneira nos dois países, embora o entusiasmo das populações cubana e norte-americana com esta nova fase de abertura esteja ao mesmo nível. De um lado e do outro, a nova política goza de um imenso apoio popular, que só esbarra na desconfiança e resistências da classe política tanto nos EUA como em Cuba.
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