Ex-agente de futebolistas e Paulo Santana Lopes, irmão do ex-primeiro-ministro, estão entre os detidos no âmbito de uma investigação internacional a alegados crimes de corrupção e outros ilícitos económicos.
Oito milhões de euros em dinheiro vivo. Foi este o montante que a Polícia Judiciária encontrou nesta quarta-feira num cofre de uma casa que seria usada pelo empresário José Veiga. A habitação está em nome de uma off-shore que terá ligações ao empresário, que não possui bens de valor em seu nome em Portugal. Além do dinheiro, a operação Rota do Atlântico, apreendeu avultadas quantias, ainda não contabilizadas, em contas bancárias, imóveis e carros de luxo, quase todos em nome de off-shores.A investigação, iniciada em 2014 na sequência de informações de polícias estrangeiras sobre vários crimes económicos, foca-se nos milhões de euros que os empresários José Veiga e Paulo Santana Lopes, irmão do ex-primeiro-ministro, terão angariado em luvas pagas por empresas que queriam investir no Congo, uma antiga colónia francesa, onde vivem ambos. O dinheiro seria depois dividido com governantes locais.
Recorde-se que Pedro Mosqueira do Amaral, antigo administrador do Banco Espírito Santo e de empresas do grupo detido por aquela família, afirmou numa reunião do Conselho Superior do grupo, cujas gravações foram divulgadas pelo semanário Sol, que Veiga geria os investimentos do Presidente da República do Congo, Denis Sassou Nguesso.
Numa discussão em Janeiro 2014 sobre potenciais investidores no GES, entretanto falido, Mosqueira do Amaral informava os outros conselheiros de que José Veiga se queria reunir consigo porque tinha 300 milhões do Congo disponíveis para investir em Portugal. Antes o presidente do BES/GES, Ricardo Salgado, descreve Veiga: “Esteve muito na berra, por más razões. Ganhou muito dinheiro, é muito esperto, mas foi perseguido judicialmente por causa de off-shores da bola e do João Pinto, ficou com o nome manchado. Trabalha muito com os seus amigos da Guiné”.
A proximidade entre membros do Governo congolês e José Veiga e Paulo Santana Lopes foi testemunhada pelos investigadores da Unidade Nacional de Combate à Corrupção da PJ, numa recente visita que o filho do Presidente do Congo fez a Portugal acompanhado por vários elementos do Governo. O actual chefe de Estado liderou o país entre 1979 e 1992, tendo regressado ao poder em 1997, igualmente como Presidente da República, cargo em que se mantém hoje. A investigação, que conta com a cooperação das autoridades de países europeus e africanos (que não o Congo) já obrigou responsáveis da PJ a viajar várias vezes para o estrangeiro.
Segundo duas notas emitidas esta quarta-feira pela PJ e pela Procuradoria-Geral da República (PGR), nesta investigação estão em causa suspeitas de corrupção no comércio internacional, branqueamento de capitais, tráfico de influências, participação económica em negócio e fraude fiscal. Ao todo, PJ realizou 35 buscas nas zonas de Lisboa, Braga e Fátima, que envolveram cerca de 120 elementos daquela polícia e dez magistrados do Ministério Público (MP). No âmbito destas diligências foram detidos os dois empresários portugueses e uma advogada, tendo sido constituídos arguidos mais de uma dezena de pessoas e empresas.
Venda do Banco Internacional de Cabo Verde
Um dos alegados crimes de tráfico de influência está relacionado com a venda do Banco Internacional de Cabo Verde, um activo do Novo Banco avaliado em 14 milhões de euros, que está em processo de venda. No comunicado, a PGR refere “suspeitas da prática dos crimes de tráfico de influência e de participação económica em negócio na compra e venda de acções de uma instituição financeira estrangeira, acções essas detidas por instituição de crédito nacional”, sem relevar o nome das entidades envolvidas. “Investiga-se igualmente a origem de fundos movimentados noutros negócios em que são intervenientes os suspeitos, nomeadamente, a celebração de contratos de fornecimento de bens e serviços, obras públicas e venda de produtos petrolíferos”, acrescenta a PGR, salientando que a investigação tem “ligações com os continentes europeu, africano e americano”.
Um dos alegados crimes de tráfico de influência está relacionado com a venda do Banco Internacional de Cabo Verde, um activo do Novo Banco avaliado em 14 milhões de euros, que está em processo de venda. No comunicado, a PGR refere “suspeitas da prática dos crimes de tráfico de influência e de participação económica em negócio na compra e venda de acções de uma instituição financeira estrangeira, acções essas detidas por instituição de crédito nacional”, sem relevar o nome das entidades envolvidas. “Investiga-se igualmente a origem de fundos movimentados noutros negócios em que são intervenientes os suspeitos, nomeadamente, a celebração de contratos de fornecimento de bens e serviços, obras públicas e venda de produtos petrolíferos”, acrescenta a PGR, salientando que a investigação tem “ligações com os continentes europeu, africano e americano”.
Os proventos destas actividades eram, diz a PJ, utilizados na aquisição de imóveis, veículos de gama alta e sociedades, “utilizando para o efeito pessoas com conhecimentos especiais e colocadas em lugares privilegiados, ocultando a origem do dinheiro e integrando-o na actividade económica lícita.”
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